17 jun 2016

Recuperação de pastagens degradadas aumenta produtividade em até quatro vezes

Por SENAR-MS*

RP_ABC Cerrado

A recuperação de pastagens degradadas é uma das quatro tecnologias produtivas propostas pelo projeto ABC Cerrado formulado com objetivo de estimular a sustentabilidade aliada à rentabilidade na atividade rural. A iniciativa idealizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rura (SENAR)l, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ministério da Agricultura e Banco Mundial oferecerá capacitação profissional e assistência técnica para 400 produtores rurais participantes em Mato Grosso do Sul.

O projeto foi implantado em 2015 com a finalidade de atender inicialmente oito estados brasileiros do Bioma Cerrado, promovendo quatro processos tecnológicos: ILPF – Integração Lavoura, Pecuária e Floresta, Sistema de Plantio Direto, Florestas Plantadas e Recuperação de Pastagens Degradadas. Nos meses de maio e junho, a equipe de técnicos de campo responsável pela etapa de orientação nas propriedades recebeu capacitação específica sobre cada um dos temas citados.

A Fundação MS realiza a consultoria máster do projeto, com  uma equipe de profissionais que treinou os técnicos de campo do SENAR/MS. Um dos especialistas é o diretor-executivo da fundação, Alex Melotto. Ele relata que a reforma ou recuperação de uma pastagem impacta no aumento da produtividade em até quatro vezes. “Uma área bem manejada pode aumentar a produtividade de cinco arrobas de carne por hectare/ano para 20. Além do eminente benefício econômico serão evitadas erosões e perdas por escorrimento superficial”, aponta o especialista.

Melotto detalha ainda as características de um pasto degradado e quais motivos que aceleram o processo: “A degradação é um processo contínuo que precisa ser impedido pelo produtor rural e isso requer atenção a detalhes que se destacam no cenário como redução na capacidade de suporte dos animais e a baixa qualidade da forragem. Visualmente podemos notar áreas de solo exposto onde a planta de capim morreu, presença de ervas daninhas invasoras e pragas como cupinzeiros”, e complementa: “ As interferências climáticas e o manejo inadequado são os principais fatores para o empobrecimento do terreno”.

Ações 2016 do ABC Cerrado – O cronograma de trabalho para este ano começou com a contratação de técnicos de campo e inscrições para os produtores rurais interessados em participar do projeto. No mês de maio, o SENAR/MS iniciou oito turmas de capacitação nos municípios de Campo Grande, Dourados, Inocência, Nioaque e Paranaíba. Com 56 horas/aula de duração, o primeiro grupo deve qualificar 100 produtores.

Na avaliação do superintendente do SENAR/MS, Rogério Beretta, a iniciativa favorecerá um setor regional cada vez mais produtivo e eficiente. “A regional de Mato Grosso do Sul foi pioneira em oferecer assistência técnica ligada a sustentabilidade do manejo, com o programa Mais Inovação. O ABC Cerrado consolidará um trabalho estruturado há quatro anos, em 31 municípios”, observa.

É importante reforçar que quanto mais avançado o estágio de degradação, mais caro será o custo para reforma ou recuperação. Nas fases iniciais, uma adubação de manutenção pode resolver o problema e custa em média R$ 500 por hectare. No entanto, em casos mais graves, o manejo compreenderá utilização de maquinário para trabalhar o solo, elevando os custos para até R$ 5 mil.

A informação fornecida pelo consultor da Fundação MS aponta também quais as melhores forrageiras para se cultivar levando em conta o custo benefício. “A escolha das espécies de capim dependerá da região, solo e clima. A Embrapa Gado de Corte, por exemplo, possui uma extensa lista de cultivares, em especial dos gêneros BRachiaria e Panicum que são adequados para todas as regiões de nosso Estado”, argumenta Melotto.


09 nov 2015

Sistema de integração faz aumentar a produtividade de fazendas do cerrado

* Por José Hamilton Ribeiro / Do Globo Rural

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No fim de novembro, começa em Paris, na França, a COP 21 – Conferência Mundial do Clima. A diminuição do aquecimento global e do efeito estufa são dois dos principais assuntos da reunião.
Dentro da proposta brasileira, existe uma medida considerada revolucionária para a produção agropecuária sustentável: a recuperação de pastos degradados com a tecnologia da integração lavoura-pecuária-floresta. Há 30 anos, o Globo Rural acompanhou os primeiros passos da técnica. Agora, a equipe de reportagem voltou ao cerrado para conferir resultados.

A fazenda em Ipameri, no sudeste de Goiás, é referência da Embrapa no sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. Trabalhando num esquema que favorece o meio-ambiente, a propriedade produz soja, milho, boi e eucalipto com uma situação de custos bastante favorável.

Há nove atrás, porém, no local só tinha áreas degradadas e trabalhava no vermelho. Hoje, a área é o cenário ideal para buscar a palavra de ordem do agrônomo João K, que quer as fazendas brasileiras fazendo quatro safras por ano.

“Nós fazemos a safra de verão, que é com soja. Colhemos a soja e fazemos uma safrinha de milho consorciada com capim. Colhemos o milho e colocamos uma safrinha de boi. Tiramos o boi e fazemos uma safra de palhada para o plantio direto e gerar matéria orgânica no solo. Então, são quatro safras dependentes apenas de chuva, sem irrigação”, diz o agrônomo.
O eucalipto também começou a entrar no sistema nos últimos anos e pode render outras safras de madeira.
O agrônomo paranaense, de origem ucraniana, é conhecido pela expressão João K, sobrenome Kluthcouski. Como a palavra é difícil de pronunciar, os colegas de serviço simplificaram só com as iniciais. Mas, para não usar JK, que é nome de presidente, ficou João K. Assim ele é conhecido tanto na Embrapa Arroz e Feijão, onde trabalha, quanto nas fazendas que visita.

O Globo Rural acompanha o trabalho de João K e sua equipe há mais de 30 anos. Em sucessivas reportagens, o programa mostra os trabalhos do agrônomo. Começou no consórcio de arroz com capim. Seguiu para o milho, sorgo, guandu, girassol, soja e outras plantas. A base é sempre semear junto a lavoura e o capim, fazendo rotação de culturas e plantio direto, mexendo na terra o mínimo possível. A tecnologia que está se mostrando revolucionária para climas tropicais.

Na Fazenda Eco Nelore, no município de Teresópolis de Goiás, a 20 quilômetros de Goiânia, o agricultor Robert Berger implantou a integração e traz as contas na ponta do lápis.

“Quando eu assumi a fazenda, há cinco anos, ela estava toda degradada e com uma capacidade animal muito pequena. Eu teria que reformar todos os pastos. Fiz as contas e assustei porque é muito caro. Fui pesquisar e acabei encontrando a integração lavoura pecuária que me falavam que eu reformava o pasto sem custo. Eu falei: ‘uá, como é que eu vou fazer isto?’ Fui visitar uma fazenda, vi os números e resolvi aplicar”, diz Berger.

O agricultor foi abrindo a fazenda por partes. Hoje, Berger ainda tem áreas degradadas, que espera renovar no tempo certo. “É sem custo porque a gente planta o milho, que já tem que adubar. Junto, planta o capim, que eu só pago a semente. Colho o milho, que paga todas as contas e ainda deixa um lucro. A semente eu recupero com a palhada do milho que fica com mais proteína para os animais”, explica.

Na mesma região da fazenda de Robert Berger ainda existe muitas pastagens desfiguradas. Há capim rasterinho no chão e cupim. O mato de folha larga que existia o gado comeu. Só restou um ou outro pé de assa-peixe. Essa é a situação de um pasto degradado.

“Em uma situação dessa o pasto fica tão frágil que sai fácil. Ela não tem fixação da raiz no solo. O próprio ato de pastejo do touro ou do gado arranca com facilidade”, esclarece o técnico agrícola Hélvio dos Santos Abadia.

O avanço do sistema de integração se deve, entre outros fatores, à existência do capim braquiária brisanta. Desde que tenha condição de agir, a braquiária como que afofa o solo para o plantio da lavoura crescer.

Marize Porto Costa, da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, assumiu há nove anos a propriedade com pastagens degradadas. O local lidava só com gado, tinha três funcionários, dois tratores pequenos e uma carretinha. “No início, a gente estava trabalhando até num campo negativo. Pela falta de pasto, uma unidade animal precisava de dois hectares para poder sobreviver. Hoje, nós colocamos quatro”, diz.

O agrônomo Roberto Freitas, que presta consultoria agronômica para diversas fazendas da região, chama atenção para um detalhe do sistema de integração e também mostra-se impressionado com o papel da braquiária e dos restos de cultura na produção de matéria orgânica. “Fazenda funciona 360 dias por ano contemplando a atividade pecuária e a atividade agrícola. Como a gente tem a palhada mais grossa, que o gado não come, essa parte mais fibrosa é que vai dar uma matéria orgânica estável que vai persistir no solo por cerca de 80 a 100 anos”, diz.

Ao longo dos últimos 25 anos, o dia-a-dia da aplicação do sistema lavoura-pecuária foi revelando problemas que precisaram ser contornados. “Na hora de colher o milho, se o milho fosse de espiga baixa, dava embuchamento na colhedeira. Depois, nós criamos técnicas de deixar o capim pequeninho até a colheita do milho, através de pequenas doses de herbicidas. Mas, isso já está evoluído e a grande maioria dos produtores que fazem o sistema já usa essa dose segurando o capim”, diz João K.

2º Bloco da Reportagem de José Hamilton Ribeiro / Do Globo Rural

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