05 ago 2015

Globo Rural apresenta os vencedores do Prêmio Fazenda Sustentável

* Da Revista Globo Rural Online
A Fazenda Tea Boa, em Guararapes (SP), vencedora da primeira edição do Prêmio Fazenda Sustentável, em 2014 (Foto: Marcelo Min/Ed. Globo)
A Fazenda Tea Boa, em Guararapes (SP), vencedora da primeira edição do Prêmio Fazenda Sustentável, em 2014 (Foto: Marcelo Min/Ed. Globo)

A revista GLOBO RURAL apresentou, na noite desta terça-feira (4/8), as três fazendas vencedoras do 2º Prêmio Fazenda Sustentável. A cerimônia aconteceu na sede da Editora Globo, em São Paulo.

Neste ano, as propriedades rurais puderam competir pelo índice geral de sustentabilidade [no ano passado, as fazendas foram eleitas por categorias: cultivos perenes, semi-perenes, pecuária e silvicultura]. Isso possibilitou que todos que investem em integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), por exemplo, participassem com todas as atividades da fazenda como culturas principais.

Ao todo, foram 124 participantes, de várias partes do país. Todos passaram por uma rigorosa análise, com base em metodologias científicas que medem o seu índice de ecoeficiência, social e financeiro. Dos 124 inscritos, 47 passaram para a segunda fase e 30 foram classificados para a terceira etapa.

Todo este processo foi feito e uma plataforma online. Na última fase do prêmio, que aconteceu durante os meses de maio e junho, as primeiras 10 fazendas da lista passaram por uma auditoria realizada por técnicos em sustentabilidade. As 10 fazendas finalistas classificadas ainda serão anunciadas.

Para eleger os vencedores, a organização do prêmio reuniu, no final do mês de junho, uma Comissão Julgadora que, de posse de informações detalhadas, gráficos, relatórios fotográficos e comentados por especialistas, elegeram as campeãs. Fizeram parte desta comissão o coordenador-geral nacional do Senar, Matheus Ferreira Pinto da Silva; Eduardo Pinheiro Cavalcanti, responsável pelo Programa de Agricultura da WWF/Brasil, e o vencedor do 1º Prêmio Fazenda Sustentável, o pecuarista José Luiz Niemeyer dos Santos, proprietário da Fazenda Terra Boa, de Guararapes (SP).

O 2º Prêmio Fazenda Sustentável é uma idealização da revista GLOBO RURAL e conta com a parceria do Rabobank e da Fundação Espaço ECO. O prêmio também contou com o apoio de divulgação do Sistema CNA/SENAR.


21 jul 2015

Congresso sobre ILPF une pesquisa, empresa e produtor rural

* Da Embrapa

Para presidente da Embrapa, evento foi um marco na união de setores em prol da sustentabilidade agropecuária

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Mais do que um evento científico, o Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta foi um fórum participativo entre pesquisa, ensino, empresas privadas e produtores rurais. Assim, o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes resumiu o evento que reuniu em Brasília (DF) 602 participantes de 22 nacionalidades entre os dias 12 e 17 de julho.

O ponto forte deste Congresso foi a notável participação de diferentes instituições, setores e áreas do conhecimento”, afirmou Lopes, “sairemos daqui com importantes lições como a necessidade de intensificar os estudos em sócio-economia voltados a sistemas de ILPF”.

O presidente se referia ao sumário do evento, elaborado pelo consultor Eric Kueneman, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que elaborou o resumo do Congresso com os destaques do encontro. “A maioria dos pôsteres apresentados trataram de temas ligados à produção e à tecnologia, poucos trataram de sócio-economia, o que deveria colocar essa área em destaque nos próximos eventos sobre ILPF”, sugeriu Kueneman que elogiou a qualidade dos pôsteres que, segundo ele, apresentaram nível semelhante aos trabalhos apresentados oralmente.

O consultor também exortou os cientistas a saírem dos laboratórios e campos experimentais para auxiliar nas políticas públicas de financiamento à pesquisa. “Na minha opinião, os pesquisadores não deveriam somente produzir palestras e artigos, eles devem também auxiliar os governos a elaborar políticas adequadas de financiamento à pesquisa”, disse.

Grande parte dos trabalhos apresentados demonstrou a importância da adoção dos sistemas de ILPF como necessidade urgente de todos os países. “Trata-se de uma ferramenta poderosa para se evitar desastres ecológicos e sociais”, resumiu Kueneman.

União de setores
A união de profissionais da pesquisa, da academia, da iniciativa privada e produtores rurais foi ressaltada pelo secretário-executivo do Congresso, o pesquisador Pedro Machado, da Embrapa Arroz e Feijão. “Foi muito positiva a inclusão da sessão de ensino e transferência no Congresso. Isso foi inovador e conectou a cadeia produtiva”, afirmou frisando que a sessão trouxe mais atores e ampliou o debate sobre ILPF.

O representante da Rede de Fomento ILPF na área de Ensino, Luiz Antonio Daniel, concorda com Machado. “Obtivemos uma sinergia entre os segmentos da indústria, da pesquisa e do ensino em torno do ILPF, de uma forma organizada e sistêmica,” disse. Daniel acredita que o painel dedicado aos debates sobre o ensino do ILPF ajudará a inserir o tema nas disciplinas de graduação e pós-graduação das instituições de ensino do Brasil. “O painel foi bastante concorrido e deve ajudar a pautar também a pesquisa acadêmica e a extensão universitária,” aposta o representante da Rede.

Um dos inovadores dos sistemas de integração, o pesquisador da Embrapa João Kluthcouski, disse que lhe chamou a atenção encontrar diferentes setores da área rural no evento. “É notória a grande participação de pesquisadores da Embrapa e também da diretoria da Empresa a qual foi presença constante nas salas, nas apresentações e nos debates. A organização [do evento], por sinal, está impecável.”, elogiou o pesquisador que recebeu uma homenagem por seu pioneirismo na pesquisa com ILPF.

Kluthcouski aproveitou o encontro de profissionais do mundo todo para aumentar sua rede de contratos profissionais. “Diante da diversidade de pessoas, foi uma bela oportunidade de estender os contatos e gerar novos grupos e redes de pesquisa,” avaliou. Para o pesquisador, o próximo passo para o avanço dos sistemas de integração será a criação de metodologias de monitoramento. “Não estamos trabalhando mais com apenas uma variedade, um método, estamos lidando com sistemas, o que é muito mais complexo e exige um novo modelo de acompanhamento”, afirmou. Para ele, o Congresso impulsiona a Embrapa nesse sentido. “[O evento] é uma semente que vai se multiplicar muito rapidamente”, acredita.

O pesquisador do Núcleo de Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO), Leandro Bortolon, concorda com Kluthcouski e afirma que ainda faltam métricas e indicadores de sustentabilidade para medições em sistemas. “Deve haver indicadores mínimos para um sistema ser considerado sustentável ou integrado. Há muitas variações em modelos e não se sabe qual o padrão mínimo para um sistema ser considerado integrado”, frisou Bortolon afirmando que, em meio a tantas variações, muitos sistemas considerados integrados não são sustentáveis.

A diversidade dos participantes, oriundos de diferentes áreas, foi o destaque do Congresso na opinião do diretor executivo da Rede de Fomento ILPF, William Marchió. “Foi notória a ampla representatividade dos participantes e a qualidade das apresentações”, afirmou Marchió que se disse impressionado com a boa organização do evento.

Dia de Campo de sucesso

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O dia de visita técnica a campo na quarta-feira, no meio do evento, foi um dos pontos mais elogiados pelos participantes. Cinco grupos de congressistas brasileiros e um com roteiro em inglês para participantes estrangeiros visitaram áreas com integração e puderam tirar dúvidas in loco. “Eu não sabia que a ILPF era tão difundida e pesquisada no Brasil”, disse Ayaka Kishimoto, pesquisadora sênior em dinâmica de carbono do Instituto Nacional de Ciências Agroambientais do Japão (NIAES) durante a visita ao campo.

Os brasileiros puderam conhecer seis estações com exemplos de integração no campo experimental da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF). Os congressistas de outros países visitaram duas estações no mesmo centro de pesquisa e outras três na fazenda Recreio, no sul do Distrito Federal.

A Embrapa Cerrados possui um dos mais antigos experimentos de longa duração em sistemas de integração, com 24 anos. A área vem, ao longo dos anos, comprovando as vantagens dos sistemas em relação aos plantios convencionais solteiros. “Em todos os nossos experimentos, e também em condições de fazenda, a soja produzida com rotação em consórcios produziu 500 kg a mais por hectare em comparação ao plantio contínuo da leguminosa,” informou o pesquisador Robélio Leandro Marchão.

O chefe do centro de pesquisa, José Roberto Rodrigues Peres, disse que o dia de campo foi bem posicionado no meio da semana permitindo um intervalo na programação tradicional dos congressos. “Tudo isso dá muita energia aos participantes”, afirmou Peres.

Além da academia e da pesquisa
A formação do profissional que atua com sistemas é um desafio para o desenvolvimento da intensificação sustentável, de acordo com Bortolon, da Embrapa. “Hoje, infelizmente, não estão saindo profissionais das universidades capazes de atuar com sistemas integrados. As pessoas tendem a olhar apenas para uma parte do conjunto”, disse o pesquisador que defendeu a elaboração de um novo congresso sobre o tema o quanto antes, para dar continuidade ao debate.

A formação do profissional do campo é bandeira também do professor Paulo César de Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que concorda com Bortolon em relação à ultraespecialização dos profissionais de hoje. “Temos o profissional que sabe muito de soja, ou muito de solo, ou muito de bovinos, ou muito de árvores, mas não encontramos o profissional que sabe trabalhar com esses elementos integrados”, afirmou Carvalho. Por esse motivo, foi montada uma sessão no Congresso especialmente voltada a instituições de ensino a qual procurou fomentar a formação de profissionais especializados em montar sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta.

O presidente da Embrapa acredita que o Congresso fomentou a necessidade de revisar o currículo acadêmico a fim de formar profissionais preparados para desenvolver sistemas de integração. “O evento foi extremamente exitoso nesse sentido ao promover o debate com a universidade”, afirmou Maurício Lopes.

A academia deve trabalhar incorporar a interdisciplinaridade inerente aos sistemas de ILPF, de acordo com Luiz Daniel, da Rede Fomento a ILPF. “As áreas universitárias específicas como agronomia, zootecnia, florestal, economia e meio ambiente precisam integrar suas especialidades acadêmicas”, defendeu.

Judson Ferreira Valentim, pesquisador da Embrapa Acre, considera que o ensino superior deve ser repensado levando em conta a interdisciplinaridade. “Para isso é fundamental a discussão que o evento promoveu sobre o ensino”, disse. O pesquisador pensa também que a pesquisa deve conhecer melhor os recursos florestais nativos. “Temos uma boa base de conhecimento sobre o eucalipto, mas desconhecemos a biodiversidade nativa que agregará valor ao sistema”, afirmou.

Valentim também citou a importância de adequar o sistema de financiamento ao produtor rural, observando as peculiaridades de um sistema de integração. “O crédito atual é voltado para safras de produtos específicos, precisamos de um modelo que financie todos os componentes do sistema, que seja mais longo e financie mais atividades”, sugeriu. Pedro Machado, concorda, “o sistema de crédito precisa ser aperfeiçoado”.

Transferência no foco
O aprimoramento dos sistemas de transferência de tecnologia para contemplar as características do ILPF foi defendido por João Kluthcousky para quem a recuperação de pastos degradados abre uma enorme frente de atuação desse setor. “É só pensar que quando o Brasil incorporar 50 milhões de hectares de solos degradados dobraremos a produção”, afirmou.

“As orientações para sistemas integrados já existem, mas há dificuldade de adoção por questões relacionadas à gestão. Precisamos encontrar um formato ou propostas viáveis para o pecuarista adotar a integração, talvez estimular a parceria com agricultores,” sugeriu Pedro Machado.

Marco histórico
O coordenador do Congresso Mundial, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Ladislau Martin Neto, se disse orgulhoso do papel brasileiro em sistemas de integração e pela produção do encontro. “A Embrapa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e os parceiros promotores podem se orgulhar da realização desse grande evento que entrará para a história da pesquisa agropecuária”, afirmou.

Web


08 jul 2015

ARTIGO: Bem-estar animal e agregação de valor

*Por Fabiana Villa Alves, pesquisadora Embrapa Gado de Corte

Fabiana Villa Alves

Bem-estar animal é a forma como o animal lida com o seu entorno, e aqui estão incluídos sentimentos e comportamento

Várias, hoje, são as definições para o termo “bem-estar animal”, aplicáveis a todos os tipos de animais, dos silvestres aos de cativeiro, passando pelos de companhia, os de produção e de experimentação. Embasado nas preocupações sobre o modo como os animais vivem e são criados, o conceito ganhou força devido a dois fatores: de um lado, as questões morais, éticas e religiosas, ligadas ao respeito aos animais, que se sobressaíram em alguns âmbitos; do outro, questões técnico-comerciais, ligadas ao sistema produtivo e à qualidade final do produto.

Para a Organização Mundial de Saúde Animal, bem-estar animal é a forma como o animal lida com o seu entorno, e aqui estão incluídos sentimentos e comportamento. Para animais de produção, assume-se que há boas condições de bem-estar quando são atendidas as “cinco liberdades”, que procuram incorporar e relacionar padrões mínimos de qualidade de vida para os animais como: i) livres de fome, sede e má nutrição; ii) livres de dor, lesão e doença; iii) livres de medo e angústia; iv) livres de desconforto; e v) livres para manifestar o padrão comportamental da espécie.

No âmbito dos sistemas agroalimentares, a necessidade de remodelação dos modelos produtivos vigentes, com particular foco nos impactos gerados ao ambiente, fez com que o tema “bem-estar” emergisse, nos últimos anos, com grande força nos vários elos da cadeia. A aplicação dos princípios das “cinco liberdades” possibilitou saltos qualitativos em relação: aos sistemas de criação, com adequações do espaço mínimo disponível por animal, fornecimento de dietas balanceadas e disponibilidade de sombra em sistemas extensivos; ao transporte com embarque sem estresse e em veículos apropriados, determinação de tempo e distância máximos, sem interrupção, até o abatedouro e ao abate, sem sofrimento, com atordoamento eficaz.

Exemplo prático da importância do bem-estar animal para a cadeia produtiva de carnes é a possibilidade de exploração e atendimento de mercados consumidores mais exigentes, interessados na chamada “grass-fed beef” (carne produzida sobre pastagens), em que é condição sine qua non tornar tangível (qualidade final do produto) o intangível (bem-estar). Este tipo de produto com qualidades particulares é oriundo, na sua maioria, de regiões tropicais. Sua produção, portanto, deve imprescindivelmente prever práticas de manejo que visem à proteção contra a intensa radiação solar, com vistas ao bem-estar animal. Isto porque, conforme o nível de interação “intensidade de radiação solar x nível de adaptação ao calor do animal”, verifica-se maior ou menor estresse nos animais, com empobrecimento de seu bem-estar e prejuízos ao desempenho.

De fato, animais submetidos ao estresse por calor diminuem o consumo de forragem e aumentam o de água, elevam a frequência respiratória, batimentos cardíacos e taxa de sudação, tornam-se irrequietos ou ficam deitados por longos períodos, entre outros sintomas.

Destaque tem sido dado aos sistemas de produção multifuncionais (integração-lavoura-pecuária-floresta, ou ILPF), que além de possibilitarem a recuperação de áreas e pastagens degradadas, com baixa produtividade, proporcionam benefícios diretos e indiretos aos animais, como o fornecimento de sombra e melhoria das condições microclimáticas e ambientais. Tais aspectos incidem positivamente no bem-estar dos animais e o jargão “colocar o boi na sombra” – usado na bolsa de valores quando o investidor ganha muito dinheiro em uma operação, ao ponto de não precisar mais trabalhar – passa a ser também sinônimo de produto final diferenciado.

Pesquisas conduzidas pela Embrapa demonstram que segundo o tipo de árvore (nativa e exótica) e o arranjo utilizado (linha simples, dupla ou tripla) tem-se diminuição de 2°C a 8°C na temperatura ambiente dos sistemas ILPF, em relação a pastagens sem árvores. Como resultados diretos do conforto térmico oferecido melhoram-se os índices produtivos (ganho de peso, produção de leite) e reprodutivos (menor incidência de abortos, aumento nos índices de fertilidade, maior peso ao nascer).

Somadas, as melhorias aportadas pelos sistemas ILPF à ambiência e ao bem-estar animal, cooperam para o seu fortalecimento como ferramenta na otimização do diferencial da bovinocultura brasileira – rebanhos à pasto – e auxiliam na sua consolidação como sustentável no cenário mundial. É verdade, porém, que o conceito “bem-estar” apresenta escalas de valores que variam em função das diferentes óticas éticas, temporais, culturais, socioeconômicas. Mas, não se pode negar que é um caminho sem volta.

Nesse contexto, o bem-estar animal, junto a temas como responsabilidade ambiental, sustentabilidade, segurança alimentar e biodiversidade, ganha destaque, e deixa de ocupar um espaço “filosófico”, embasado na ética pessoal, para se tornar aspecto prático, quantificável e aplicável, passível de ser valorado.


08 jul 2015

Satélites e drones ajudam a monitorar sistemas de ILPF

* Da Embrapa Monitoramento por Satélite

GeoEye
Imagem do satélite GeoEye de áreas com ILPF em Tomé-Açu, PA.

Técnicas inovadoras baseadas em satélites, drones e lasers aerotransportados são as mais recentes ferramentas utilizadas pela ciência para monitorar a implantação de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Cientistas exploram o potencial dessas tecnologias a fim de gerar informações estratégicas para o planejamento, manejo e identificação de novas áreas para a implantação de ILPF, em diferentes escalas. As aplicações vão desde o monitoramento das condições e do desempenho dos cultivos até estimativas de biomassa (quantidade de vegetação) e carbono estocado pelos sistemas.

Os métodos utilizados são semelhantes àqueles empregados para mapear e monitorar as pastagens, culturas agrícolas e florestas de forma isolada. O desafio, no caso da ILPF, é que essas atividades estão concentradas numa mesma área, tornando a análise dos dados mais complexa. De acordo com o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite (SP) Édson Bolfe, especialista na área de geoprocessamento e sensoriamento remoto, as geotecnologias têm evoluído rapidamente. Novos satélites estão permitindo a identificação em detalhe de componentes minerais de solo e de características da vegetação até então inviáveis de serem observados por métodos tradicionais.

“A tendência é que novos sensores ofereçam um maior número de bandas espectrais e possibilitem a extração de informações importantes para a agricultura, com custos cada vez menores”, explica. Ele ressalta ainda a possibilidade de obtenção de imagens por sensores aerotransportados, especialmente os drones ou veículos aéreos não tripulados (Vants). O monitoramento de sistemas de ILPF é uma das linhas prioritárias de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Embrapa, vinculada ao portfólio de projetos de monitoramento da dinâmica de uso e cobertura da terra.

Carbono estocado

Pesquisas conduzidas pela Embrapa estão aplicando geotecnologias para quantificar a biomassa e o carbono de sistemas de ILPF. O estabelecimento de metodologias de cálculo de carbono será importante para contabilizar e monitorar a redução das emissões de gases de efeito estufa alcançada pelo País a partir da adoção do sistema ILPF. A iniciativa é uma das ações previstas pelo projeto GeoSaltus, componente da rede de pesquisa Saltus, da Embrapa, que estuda a dinâmica da emissão de gases de efeito estufa e dos estoques de carbono em florestas naturais e plantadas.

O ILPF representa uma alternativa para a agricultura sustentável. Além de contribuir para a recuperação de áreas degradadas e a conservação do solo, tem grande potencial para a fixação do carbono e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, ao manter pastos cobertos de vegetação de boa qualidade, plantio de florestas comerciais entre outras práticas sustentáveis. Um dos compromissos previstos no Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é o incentivo à adoção de sistemas de ILPF. A meta, até 2020, é de implantar quatro milhões de hectares destes sistemas e atingir um potencial de mitigação em torno de 20 milhões de toneladas de CO2 equivalente (Mg CO2 eq).

Estudos sobre estoque de carbono, realizados em sistemas agroflorestais da região de Tomé-Açu (PA), chegaram a resultados obtidos por meio de sensoriamento remoto muito próximos aos medidos in loco. Foram considerados sistemas de integração lavoura-floresta de diferentes idades e tipos de vegetação e cultura, e gerados mapas de biomassa e de carbono para cada um dos sistemas conduzidos pelos agricultores. De acordo com Édson Bolfe, os resultados obtidos permitem gerar metodologias eficazes para o mapeamento de sistemas ILPF e a estimativa do carbono fixado na biomassa e, dessa forma, extrapolar medições locais para análises regionais.

Além de imagens de satélite, estão sendo utilizados dados LiDAR (Light Detection and Ranging) para medir o estoque de carbono. Trata-se de um sistema laser embarcado em aviões convencionais que permite avaliar detalhadamente a área de estudo, fornecendo informações da superfície do terreno e também da estrutura da vegetação, e analisar a quantidade de biomassa.

O conhecimento sobre esta tecnologia na Embrapa tem avançado a partir da cooperação técnica estabelecida com o Serviço Florestal Americano para o programa de pesquisa Paisagens Sustentáveis, da Embrapa, que tem compartilhado técnicas e dados LiDAR com foco na contribuição para inventários de emissões de gases de efeito estufa.

Milhões de hectares para expansão da ILPF

A conversão de pastagens degradadas para ILPF é uma das estratégias apontadas pelo Programa ABC para a recuperação dessas áreas e a promoção da sustentabilidade na agricultura. As iniciativas, no entanto, encontram dificuldades de implantação, entre outros motivos, devido à falta de informações atualizadas e detalhadas sobre a localização dessas áreas – dados fundamentais para a implantação de políticas públicas para o setor.

As imagens de satélite também estão contribuindo para o mapeamento de áreas potenciais para a implantação de sistemas de ILPF, como as de pastagens degradadas. Estudo desenvolvido pela Embrapa Monitoramento por Satélite no âmbito do projeto de pesquisa GeoDegrade mostrou que, num cenário considerado realista, mais da metade das pastagens localizadas no Cerrado brasileiro podem estar em algum estágio de degradação. São 32 milhões de hectares em que a qualidade do pasto está abaixo do esperado.

O mapeamento da Embrapa utilizou imagens do satélite Spot Vegetation e aplicou um coeficiente denominado Slope para identificar a ocorrência de pastagens com algum processo de degradação. O coeficiente foi utilizado como um ponto de corte ou referência para a definição de três cenários: muito otimista, otimista e realista. O mapeamento pode auxiliar, por exemplo, no direcionamento de recursos e na orientação de iniciativas de recuperação em regiões prioritárias. “Diante das dimensões do território brasileiro e das diferenças regionais, o desafio é chegar a números cada vez mais precisos. O uso de geotecnologias é uma estratégia fundamental para traçar um mapa das condições das pastagens”, ressalta Bolfe.

Os mapas das pastagens degradadas do Cerrado podem ser acessados na internet por meio do SOMABRASIL.

Congresso Mundial sobre ILPF

De 12 a 17 de julho, Brasília vai sediar o Congresso Mundial sobre Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta. Os maiores especialistas do mundo em intensificação sustentável se reunirão para apresentar trabalhos científicos e debater questões como aumento da produção mundial de alimentos, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental. Mais informações em:

http://www.wcclf2015.com.br/?lang=pt


02 jul 2015

Dia de Campo no Maranhão trata de tecnologias para redução de CO2 no Matopiba

*Do SENAR Maranhão

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Técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Maranhão (SENAR-MA) participaram esta semana, no município de São Raimundo das Mangabeiras, do I Encontro de Integração Lavoura Pecuária Floresta e do Plano ABC na região do Matopiba.

O Encontro ocorreu na fazenda Santa Luzia, do produtor Osvaldo Massao, situada a 25 quilômetros da sede, e que atualmente funciona como referência para ambos os projetos. O objetivo do encontro foi essencialmente mostrar as tecnologias ILP (Integração, Lavoura e Pecuária) e ILPF (Integração, Lavoura, Pecuária e Floresta) aplicadas com sucesso naquela área rural.

Participaram do evento a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio Norte, Cocais, Floresta e Cerrados, representantes da prefeitura local, lideranças políticas e produtores rurais. Do SENAR-MA participaram a veterinária Aline Saldanha e o gerente de Assistência Técnica, o agrônomo Epitácio Rocha, além dos supervisores do Mapito, Rozalino Aguiar Júnior e Edivaldo Franco Amorim.

Luiz Coelho, gestor do projeto Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura), também participou do dia de campo de forma efetiva.

De acordo com técnicos e pesquisadores da Embrapa, a iniciativa serve para que outras instituições percebam a importância de uma atividade caracterizada de baixa emissão de carbono, aliando sustentabilidade, produtividade e rentabilidade.

Ainda de acordo com os organizadores do evento, até o final deste ano, serão realizados no estado dois seminários sobre o Plano ABC, cuja função é sensibilizar seus participantes sobre a importância deste programa para o estado. ”A nossa participação nesse dia de campo em São Raimundo das Mangabeiras foi importante para estreitarmos as relações entre as instituições parceiras na divulgação e promoção das práticas produtivas de baixa emissão de carbono, fundamentais no contexto do agronegócio”, destacou a veterinária do SENAR, Aline Saldanha.