26 out 2015

Integrar lavoura e pecuária será questão de sobrevivência, diz estudo

* Por Mauro Zafalon – Folhapress / Folha de São Paulo 

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A agricultura brasileira se destaca entre os padrões globais de desempenho. Os modelos tradicionais de pecuária praticados no país, no entanto, têm um desempenho ainda anêmico.
Dos cerca de 170 milhões de hectares destinados à pecuária extensiva, quase metade encontra-se em algum estágio de deterioração.

A degradação do solo faz com que a ocupação da área seja bem inferior ao potencial das áreas bem conservadas.

A atividade agropecuária exige, no entanto, cada vez mais uma busca por eficiência, que passou a ser uma questão de sobrevivência.

Isso porque há um crescente custo de oportunidade da terra, limites na expansão da área de produção devido à legislação ambiental e exigências de um consumidor mais atento a boas práticas socioambientais.

Avaliando essas questões, Adolfo Fontes, analista do Rabobank de proteína animal, e Renato Rasmussen, do setor de grãos do banco, fizeram um estudo sobre a necessidade e a viabilidade da integração lavoura-pecuária.

A adoção do sistema possibilita recuperação das pastagens, adoção de práticas ambientais sustentáveis, redução de riscos e diversificação da renda do produtor.

A comparação de margens operacionais entre os diversos sistemas de produção aponta uma larga vantagem para o de integração.

Dados do Rabobank apontam que, se o produtor fizer apenas o plantio de soja durante o ano, terá uma margem de R$ 410 por hectare. Se após a soja ele acrescentar a safrinha de milho, essa margem sobe para R$ 604.

Quando a integração envolve a pecuária, o ganho é maior ainda. O plantio de soja, seguido de uma “safrinha de boi”, pode render R$ 743, segundo cálculos do banco.

Durante o cultivo da soja, o produtor mantém também o cultivo de capim, que será consumido pelo boi após a colheita da oleaginosa.

O produtor com solo favorável para a utilização de três safras -soja seguida de milho com capim e, na sequência, o boi- tem margem de R$ 937 por hectare.

ENTRAVES
Rasmussen e Fontes afirmam que a lista de benefícios da integração é animadora, tanto do lado agronômico como do ambiental e econômico, mas essa prática ainda encontra entraves.

É um modelo complexo de produção e, muitas vezes, há despreparo do pecuarista no planejamento e no escalonamento da operação agrícola.

Além disso, há ausência de suporte técnico, o que inibe a expansão. A infraestrutura precária também desfavorece a disseminação dessa técnica, apontam os técnicos.

Apesar disso, Fontes e Rasmussen acreditam que o avanço da integração lavoura-pecuária será promissor nos próximos anos.

Essa expansão será necessária porque cresce a conscientização do consumidor em relação à responsabilidade socioambiental na cadeia produtiva de alimentos.

Há uma maior disponibilidade de recursos financeiros para os que adotam o sistema de integração, apoiado pelo BNDES, via ABC (Programa de Agricultura de baixa Emissão de Carbono).

Além disso, nas propriedades com solos com elevado teor de matéria orgânica, há aumento de produtividade.

Já nas com solo menos estruturados, a integração é uma necessidade devido à retração dos preços de comercialização e das margens dos produtores.

A integração vai permitir, ainda, melhora da produtividade brasileira na pecuária. O Brasil tem um rebanho que corresponde a duas vezes o dos EUA, mas produz menos carne do que os americanos, aponta o estudo do Rabobank.

BENEFÍCIOS
Os técnicos do banco destacam que, entre os benefícios agronômicos da integração lavoura-pecuária, estão o aumento de teor da matéria orgânica no solo, cobertura do solo durante todo o ano, conservação da água e pastagens em períodos de seca.

Entre os benefícios ambientais estão recuperação de pastagens degradadas, redução de emissão de CO2 e aumento de produção de carne sustentável, entre outros.

O estudo destaca, ainda, os benefícios econômicos, que passam por otimização do uso dos recursos da propriedade, mais receita financeira, menor demanda por insumos agrícolas e redução de custos na produção.


21 out 2015

ARTIGO: produção integrada de agricultura, pecuária e silvicultura

* Por Leonnardo Cruvinel
leonardo_cruvinelO avanço da produção agropecuária brasileira é um caso de sucesso no mundo inteiro e se deve ao somatório de amplo espaço territorial, condições climáticas, solo, topografia, pesquisa e extensão, crescendo 247% nos últimos 35 anos. Com 61% da área de seus biomas preservada e apenas 28% do território em produção, o Brasil tem papel fundamental em contribuir com a geração de energia renovável e elevar a produção de alimentos para atender a demanda mundial. Segundo projeções do Órgão das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) a produção mundial terá de ser elevada em 60% até 2050. Com a comprovada eficiência de seus sistemas produtivos, o Brasil concentra as maiores expectativas de incremento da produção com preservação ambiental e desenvolvimento econômico, é nesse ambiente que se encontra os sistemas integrados.

A integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é um sistema de produção que integra os compontes agrícolas e pecuários em rotação, consórcio ou sucessão, incluindo o componente florestal, no mesmo território. Por exemplo, é possível ter uma produção de grãos, forragem, madeira, carne e leite na mesma área e, até mesmo, simultaneamente.

As principais vantagens dos sistemas de integração são: a possibilidade de aplicação em pequenas, médias e grandes propriedades; opção de recuperação de pastagens degradadas; controle mais eficiente de insetos-praga, doenças e plantas daninhas com redução do uso de defensivos; melhoria das condições microclimáticas com redução da amplitude térmica, aumento da umidade relativa do ar e diminuição da intensidade dos ventos; aumento do bem-estar animal; mitigação do efeito estufa pelo sequestro de carbono; promoção da biodiversidade por favorecer novos nichos e hábitats para os agentes polinizadores das culturas e inimigos naturais de insetos-praga e doenças.

Além disso, o sistema garante a intensificação de ciclagem de nutrientes; gera possibilidade de turismo rural; incremento da produção regional de grãos, carne, leite, fibra, madeia e energia; produção de carcaças de melhor qualidade por uma pecuária de ciclo curto, pautadas em alimentação de qualidade, controle sanitário e melhoramento genético; redução de riscos operacionais e de mercado em função de melhorias nas condições de produção e da diversificação de atividades comerciais; diversificação das atividades rurais com aumento da mão-de-obra o ano todo. Por fim, possibilita aumento da cobertura do solo pela palhada proporcionada pelos restos das lavouras e pastagens; recuperação de nutrientes lixiviados ou drenados pelas camadas mais profundas e incremento de matéria orgânica do solo; redução dos custos de implantação, aceleração do crescimento e em diâmetro das árvores, melhoria de sua qualidade e de alto valor agregado; maior proteção contra o fogo; ajuda no controle da erosão, aumento da porosidade do solo e consequentemente da infiltração para recomposição dos lençóis freáticos.

A preocupação com o aumento da produção e um desenvolvimento sustentável provocou ações de diversas entidades que se relacionam com o setor rural. Existem instituições financeiras com linhas de crédito específicas para produções integradas e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) promoverá um Programa Especial de capacitação e assistência técnica para produtores interessados em adotar a tecnologia ILPF – Programa ABC Cerrado.

Com a inovação e a sustentabilidade, surgem excelentes alternativas para os produtores rurais adotarem uma atitude empreendedora, fazendo uso dos sistemas eficientes de ILPF, devido à sua competitividade frente aos sistemas monoespecíficos ou especializados: transformando desafios em oportunidades.

*Leonnardo Cruvinel é engenheiro agrônomo, químico e técnico-adjunto do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) – leonnardo.cruvinel@senar-go.com.br


24 set 2015

Pecuaristas paraenses estudam Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

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Marabá/ Pará (24 de setembro de 2015) – Termina hoje, 24 de setembro, o curso sobre “Sistemas integrados e diversificados de produção agrícola sustentável”, promovido pela Embrapa Amazônia Oriental em parceria com pesquisadores do Projeto Biomas.

Nos dias 22 e 23, o curso aconteceu no auditório do Incra, em Marabá, com a presença de técnicos extensionistas, professores professores universitários e demais multiplicadores que atuem junto ao setor produtivo desta região de forte tradição na pecuária paraense.

Hoje, 24 de setembro, os participantes do curso visitarão a área experimental do Projeto Biomas, localizada na Fazenda Cristalina, há 100 quilômetros de Marabá, no Pará.

Na Fazenda Cristalina, os participantes do curso vão ver o experimento de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) implantado pelos pesquisadores do Projeto Biomas.

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é um sistema que reúne agricultura, pecuária e floresta, e alia a preservação ambiental com aumento da produção e viabilidade econômica da atividade agropecuária. Sua tecnologia visa à diversificação e integração dos diferentes sistemas produtivos, em uma mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação, e com benefícios econômicos e ambientais para todas as atividades. O ILPF também está contemplado no Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), política pública que incentiva ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas para a redução de emissão de gases de efeito estufa.

A Fazenda Cristalina reúne 22 iniciativas do projeto Biomas, que tem por objetivo principal a inserção da árvore nas propriedades rurais como alternativa aos sistemas produtivos e recuperação de áreas alteradas e degradadas.

O curso em Marabá é promovido pela Embrapa Amazônia Oriental em parceria com o Bando da Amazônia, Rede Fomento, Projeto Biomas e Incra.

Coordenação de Comunicação Digital da CNA, com informações da Embrapa Amazônia Oriental
Foto: Gustavo Fröner

amazonia-oriental.imprensa@embrapa.br
(91) 3276-0883
(61) 2109-1382
www.canaldoprodutor.com.br
www.projetobiomas.com.br


27 ago 2015

Sistema de Integração é considerado uma das mais importantes revoluções da agricultura

*Do Jornal Expresso MT

IGO_7345O sistema de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) chega em agosto de 2015 ocupando 750 mil hectares em Mato Grosso. Em 2004, um levantamento feito pela Embrapa Agrossivilpastorial de Sinop, a Fundação Rio Verde e o Clube Amigos da Terra (CAT Sorriso) mostrava que o sistema no Estado era utilizado em apenas 10 mil hectares.

O motivo dessa evolução foi apresentado pelo pesquisador da Embrapa, Flávio Wruck, no Seminário sobre Jornalismo Rural e Produção Sustentável. “Cada dia mais estamos convencendo os produtores rurais que o sitema é viável”, afirmou o especialista. Segundo ele, para o sucesso da ILPF o sitema precisa ser:

•Tecnicamente eficiente;
•Economicamente viável;
•Ambientalmente correto;
•Socialmente justo;
•Culturalmente aceito e
•Politicamente aplicável.

A ILPF tem como grande objetivo a mudança do sistema de uso da terra, fundamentando-se na integração dos componentes do sistema produtivo, visando atingir patamares cada vez mais elevados de qualidade do produto, qualidade ambiental e competitividade.

Com o sistema, considerado uma das revoluções da agricultura, o produtor rural descobriu que pode trabalhar na terra o ano inteiro e não só nos meses de safra como era no passado. Convence-lo não está sendo difícil com o passar dos anos principalmente porque cada um precisa avaliar qual sistema se adequa melhor a sua propriedade. “O nome do sistema é Lavoura-Pecuária-Floresta, porém isso não significa que você tem, obrigatorialmente, que ter as três atividades na sua fazenda. Lavoura-Pecuária, Pecuária-Floresta e Lavoura-Floresta são muito comuns em propriedades no estado”, esclareceu Wruck.

No Brasil, existem vários sistemas de ILPF que são modulados de acordo com o perfil e os objetivos da propriedade rural. Além disso, essas diferenças nos sistemas se devem às peculiaridades regionais do bioma e da fazenda, como: condições de clima e de solo, infraestrutura, experiência do produtor e tecnologia disponível.

Para investir em uma nova atividade o principal entrave continua sendo a falta de crédito rural.
Um dos programas que resolve em parte esse desafio é o Agricultura de Baixo Carbono (ABC), do Governo Federal. Ele oferece linhas de crédito para produtores que queiram se organizar e planejar ações que adotem tecnologias de produção sustentáveis com o compromisso de reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Mas, por causa da burocracia muitos acabam optando pelo FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste), que financia a agricultura com custos semelhantes e mais facilidades na obtenção.

Segundo a Embrapa, o governo assumiu o compromisso de aumentar a área com sistema ILPF. A meta é chegar em 2020 com 4 milhões de hectares ocupados pelo sistema.

Além da ILPF outros avanços são considerados pelo pesquisador, Flávio Wruck, “revoluções” na agricultura. A Primeira delas o plantio direto, que transforma a palhada decomposta de safras anteriores em “alimento” para o solo. As vantagens são a redução no uso de insumos químicos e controle dos processos erosivos, uma vez que a infiltração da água se torna mais lenta pela permanente cobertura no solo. Em seguida o especialista destaca a ocupação do bioma cerrado para a agricultura e a viabilidade da segunda safra.


07 ago 2015

Governo privilegia, em crédito rural, sistemas de pecuária intensiva

* Estadão Conteúdo

img-credito-pessoal-mainCom o fechamento de frigoríficos e da oferta reduzida de vacas para garantir a reposição de bois de corte, o governo decidiu lançar mão do crédito rural para estimular a pecuária intensiva e também métodos mais sustentáveis de produção, como o de integração lavoura-pecuária-floresta. Nessa quarta, 5 de agosto, foi publicada no Diário Oficial da União, em edição extraordinária, a Lei 13.158, que muda os objetivos do crédito ao produtor.

A lei, assinada pelos ministros Kátia Abreu (Agricultura), Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), além da presidente Dilma Rousseff, deixa claro que a intenção é substituir o sistema extensivo de criação, predominantemente a pasto, pelo sistema intensivo, que privilegia o confinamento ou a criação de gado em espaços menores e em alternância com lavoura, pecuária e floresta.

O Ministério da Agricultura ainda não deixou claro como será esse estímulo, mas deve criar mecanismos para dar prioridade, no acesso ao crédito rural, aos pecuaristas que se enquadrem nesses modelos de produção. O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, celebrou a decisão do governo. “O objetivo é incentivar a pecuária em um espaço menor e, neste sentido, tem nosso apoio. Só acho que veio um pouco tarde diante dofechamento de frigoríficos e da dificuldade de oferta de animais”, disse à Agência Estado.

Salazar argumentou que o Brasil vive uma crise de oferta de animais em função de abates de matrizes no passado, além da migração de produtores para outras atividades. “Diante desse quadro, a Abrafrigro já vinha demandado do governo a criação de um plano de desenvolvimento da pecuária”, relatou. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) divulgou nota de apoio à decisão. “Além disso, o estímulo à pecuária intensiva reduz a pressão sobre as áreas de floresta, aumenta a produtividade do setor e concilia economia e ecologia. Ela se insere também no contexto da integração lavoura-pecuária”, disse o comunicado.

Segundo a entidade, nos Estados Unidos, que fazem uso de pecuária intensiva, com um rebanho de 90 milhões de cabeças produz 12 milhões de toneladas de carne por ano; no Brasil, 200 milhões de cabeças produzem 9 milhões de toneladas.