21 out 2015

ARTIGO: produção integrada de agricultura, pecuária e silvicultura

* Por Leonnardo Cruvinel
leonardo_cruvinelO avanço da produção agropecuária brasileira é um caso de sucesso no mundo inteiro e se deve ao somatório de amplo espaço territorial, condições climáticas, solo, topografia, pesquisa e extensão, crescendo 247% nos últimos 35 anos. Com 61% da área de seus biomas preservada e apenas 28% do território em produção, o Brasil tem papel fundamental em contribuir com a geração de energia renovável e elevar a produção de alimentos para atender a demanda mundial. Segundo projeções do Órgão das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) a produção mundial terá de ser elevada em 60% até 2050. Com a comprovada eficiência de seus sistemas produtivos, o Brasil concentra as maiores expectativas de incremento da produção com preservação ambiental e desenvolvimento econômico, é nesse ambiente que se encontra os sistemas integrados.

A integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é um sistema de produção que integra os compontes agrícolas e pecuários em rotação, consórcio ou sucessão, incluindo o componente florestal, no mesmo território. Por exemplo, é possível ter uma produção de grãos, forragem, madeira, carne e leite na mesma área e, até mesmo, simultaneamente.

As principais vantagens dos sistemas de integração são: a possibilidade de aplicação em pequenas, médias e grandes propriedades; opção de recuperação de pastagens degradadas; controle mais eficiente de insetos-praga, doenças e plantas daninhas com redução do uso de defensivos; melhoria das condições microclimáticas com redução da amplitude térmica, aumento da umidade relativa do ar e diminuição da intensidade dos ventos; aumento do bem-estar animal; mitigação do efeito estufa pelo sequestro de carbono; promoção da biodiversidade por favorecer novos nichos e hábitats para os agentes polinizadores das culturas e inimigos naturais de insetos-praga e doenças.

Além disso, o sistema garante a intensificação de ciclagem de nutrientes; gera possibilidade de turismo rural; incremento da produção regional de grãos, carne, leite, fibra, madeia e energia; produção de carcaças de melhor qualidade por uma pecuária de ciclo curto, pautadas em alimentação de qualidade, controle sanitário e melhoramento genético; redução de riscos operacionais e de mercado em função de melhorias nas condições de produção e da diversificação de atividades comerciais; diversificação das atividades rurais com aumento da mão-de-obra o ano todo. Por fim, possibilita aumento da cobertura do solo pela palhada proporcionada pelos restos das lavouras e pastagens; recuperação de nutrientes lixiviados ou drenados pelas camadas mais profundas e incremento de matéria orgânica do solo; redução dos custos de implantação, aceleração do crescimento e em diâmetro das árvores, melhoria de sua qualidade e de alto valor agregado; maior proteção contra o fogo; ajuda no controle da erosão, aumento da porosidade do solo e consequentemente da infiltração para recomposição dos lençóis freáticos.

A preocupação com o aumento da produção e um desenvolvimento sustentável provocou ações de diversas entidades que se relacionam com o setor rural. Existem instituições financeiras com linhas de crédito específicas para produções integradas e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) promoverá um Programa Especial de capacitação e assistência técnica para produtores interessados em adotar a tecnologia ILPF – Programa ABC Cerrado.

Com a inovação e a sustentabilidade, surgem excelentes alternativas para os produtores rurais adotarem uma atitude empreendedora, fazendo uso dos sistemas eficientes de ILPF, devido à sua competitividade frente aos sistemas monoespecíficos ou especializados: transformando desafios em oportunidades.

*Leonnardo Cruvinel é engenheiro agrônomo, químico e técnico-adjunto do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) – leonnardo.cruvinel@senar-go.com.br


10 set 2015

Pesquisas em ILP completam duas décadas na Embrapa Agropecuária Oeste

* Da Embrapa Agropecuária Oeste

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Técnico da Embrapa trabalhando em experimento de ILP – Foto: Nilton Pires/Embrapa

Neste ano de 2015, a Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) comemora duas décadas de experimentos em Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Desde 1995, pesquisas são colocadas em prática em diferentes localidades de Mato Grosso do Sul que representam a realidade das regiões do Estado.

Para compartilhar o sucesso dos resultados de pesquisa, que há alguns anos já possui o componente “floresta” aos experimentos, a Embrapa Agropecuária Oeste realiza o evento “Timeline Integração Lavoura-Pecuária”, de 15 a 17 de setembro, com participação gratuita (inscrições a partir de 10 de setembro, à tarde, pelo site www.cpao.embrapa.br/timeline, e nos dias do evento).

“A condução desses experimentos, além dos resultados apresentados, também contribuem para a ampliação de estudos multidisciplinar e na agregação de outros estudos e projetos envolvendo a Integração Lavoura-Pecuária e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta”, diz o pesquisador Guilherme Asmus, chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste.

O primeiro dia, das 7h30 às 12 horas, será dedicado à comemoração pelos 20 anos de pesquisa em ILP na Embrapa Agropecuária Oeste, inclusive com o lançamento da publicação “20 anos de experimentação em integração lavoura-pecuária na Embrapa Agropecuária Oeste”. A publicação, em formato de relatório, estará disponível gratuitamente no Portal da Embrapa Agropecuária Oeste (menu Publicações) e também na versão impressa (informações pelo (67) 3416-9701) a partir de 15 de setembro de 2015.

No dia 16, haverá dois workshops: um deles será das 8 às 17 horas, quando serão discutidos aspectos prioritários para a Rede de Fomento em ILPF no Brasil. Outro Workshop será o de Sistemas Integrados de Produção, das 14 horas às 16h30, com formalização de ata ao fim da reunião.

No último dia, 17, os participantes farão uma visita técnica às Unidades de Referência Tecnológica (URT) do Campo experimental da Embrapa Agropecuária Oeste em Ponta Porã, Dourados e Naviraí, com saída às 8 horas e retorno às 17 horas.

Programação

15 de setembro, terça-feira – O pesquisador Júlio Cesar Salton, fará uma retrospectiva dos experimentos efetuados em parceria com outros pesquisadores da Embrapa, fundações, outras instituições de pesquisa e produtores rurais.

Em seguida, haverá homenagem aos colaboradores que ajudaram a formular o projeto inicial da ILP. Para debater a maneira mais adequada para o produtor rural adotar o conhecimento científico no campo, o professor da UFRGS, Paulo César de Faccio Carvalho, abrirá um Painel sobre o tema a partir das 9h30. Ele, que é coordenador do Programa de Produção Integrada de Sistemas Agropecuários (programa do Ministério da Agricultura) do Rio Grande do Sul (Pisa/RS), falará sobre os problemas e soluções e as experiências em transferência de tecnologia.

Em seguida, será aberto o debate com a participação do pesquisador Fernando Lamas, atual secretário de Estado de Produção e Agricultura Familiar de MS; Ademir Zimmer, pesquisador da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), coordenador regional da Rede de Fomento ILPF; Yoshihiro Hakamada, diretor vice-presidente da Cooperativa Agrícola Sul-Mato-Grossense (Copasul), que também assinará parceria com a Embrapa para experimentos em ILP na área da cooperativa; Paulo Tolentino, técnico de assistência técnica privada; Luiz Alberto Moraes (conhecido como “Mandi”), presidente do Conselho de Administração da Fundação MS e diretor tesoureiro da Famasul. O moderador será o pesquisador Júlio Salton.

16 de setembro – quarta-feira – No primeiro workshop, representantes de seis Unidades da Embrapa (Embrapa Agropecuária Oeste, Gado de Corte, Soja, Florestas, Meio Ambiente e Pecuária Sudeste) que compõem a Rede de Fomento da região 6 (MS, PR e SP) definirão estratégias para ações de Transferência de Tecnologia e de Comunicação ainda para 2015 e também para 2016. Entre os temas: condução de URTs, realização de Dias de Campo, capacitação continuada, publicações, ações de comunicação, cursos, palestras e parcerias.

No segundo workshop, sobre análise de sistemas integrados de produção, haverá a participação especial de pesquisadores que estiveram presentes no primeiro workshop sobre ILP em 1996: Luis Renato Dagostini (UFSC), Geraldo Melo Filho (Embrapa), José Eloir Denardin (Embrapa Trigo), Cimélio Bayer (UFRGS), Manuel Macedo (Embrapa Gado de Corte), João Carlos de Moraes Sá (UEPG), Amoacy Carvalho (Embrapa), Luís Hernani (Embrapa Solos) e Armindo Kichel (Embrapa Gado de Corte).

17 de setembro – quinta-feira – Visita técnica para conhecer os experimentos de ILP e ILPF em Ponta Porã, Dourados e Naviraí.


04 ago 2015

Nova metodologia possibilita avaliação econômica de ILPF

*Da Embrapa Agrossilvipastoril

Gabriel Faria
Foto: Gabriel Faria

Metodologia desenvolvida por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril e do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) busca padronizar e facilitar a avaliação da viabilidade econômica de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O conceito já está sendo aplicado em caráter experimental por meio de uma ferramenta testada em nove Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) em Mato Grosso.

A principal inovação desta metodologia é a organização dos custos baseada no sistema ABC (do inglês, Custo Baseado em Atividades). O pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis explica que a vantagem em relação aos demais métodos utilizados é que esse permite a identificação dos custos de produção associados a cada atividade realizada, como plantio, aplicação de fungicida, aplicação de inseticida, dessecação, colheita, poda de árvores, vacinação de animais, etc. Isso é diferente da metodologia de custeio por absorção, a mais utilizada na avaliação econômica de sistemas produtivos. No método anterior, são computados os custos globais de cada insumo. Assim, não é possível saber, por exemplo, quanto de mão de obra foi dispendida no plantio.

“A ideia é quebrar os custos em todas as atividades executadas para poder compor o produto final. Claro que isso dá muito mais trabalho no registro dos dados, mas a grande vantagem é que o relatório vem mais informativo”, explica Reis. Na prática, isso possibilita saber o valor exato de cada procedimento realizado no campo, o que é fundamental em um sistema complexo como a ILPF.

O pesquisador explica que, diferentemente de uma lavoura de soja, por exemplo, que tem todos os processos mapeados, a ILPF ainda não os tem. Além disso, dificilmente um sistema será igual ao outro, uma vez que cada um é adaptado às características do bioma, do mercado consumidor local, da logística, relevo etc. Dessa forma, ao se ter a análise de custos por atividade, é mais fácil padronizar a avaliação e permitir comparações.”Isso é fundamental tendo em conta o atual estágio de entendimento sobre sistemas de ILPF, no qual, muitas práticas de condução e manejo ainda precisam ser estabelecidas e validadas”, afirma.

Outra vantagem é que ao se ter o custo de cada operação, é possível avaliar a eficiência dos procedimentos. Assim, pode-se ver, por exemplo, se a configuração espacial da ILPF está aumentando o tempo de execução de uma atividade, gerando mais consumo de combustível, mais hora-máquina e mais hora de trabalho. Com isso, o produtor pode ajustar a configuração para tornar o sistema mais eficiente.

Dificuldades

Além de ainda não ter todos os processos da integração lavoura-pecuária-floresta mapeados, outra dificuldade encontrada pelos pesquisadores, nos trabalhos de avaliação econômica dos sistemas é a definição da duração do ciclo produtivo. Ao contrário de uma cultura anual, que começa e termina num intervalo de até 12 meses, a ILPF depende da configuração e das espécies utilizadas. Um sistema agropastoril, por exemplo, pode durar dois anos, já um silvipastoril pode ter ciclo de cinco a 30 anos, dependendo da finalidade do componente florestal. Dessa forma, a avaliação econômica total é muito variável. “Você não pode só olhar o lucro no ano. Você vai olhar isso dentro de um ciclo. Porque aí entram outras coisas como pagamento de juros e outros gastos que o produtor teve. É algo mais dinâmico numa perspectiva de análise de investimento”, pondera o pesquisador Júlio Reis.

Para driblar essas dificuldades, por meio de um projeto envolvendo pesquisadores de diferentes centros de pesquisas da Embrapa, todos os processos da ILPF serão mapeados em diferentes biomas. O objetivo é o de se chegar a um sistema modal para cada região do País.

“Percebemos que esse trabalho vai ajudar nessa discussão de, a médio prazo, caminhar para a escolha de configurações mais adequadas para cada região do estado ou do Brasil. Ver qual é mais adequado para cada lugar”, explica o economista da Embrapa Agrossilvipastoril.

Ferramenta de avaliação

Para facilitar o uso dessa metodologia de avaliação e a coleta de informações junto aos produtores, foi desenvolvida uma planilha eletrônica. Ela busca padronizar e tornar mais simples a coleta de dados e os cálculos. A ferramenta é de grande importância tendo em vista a complexidade dos aspectos produtivos da ILPF e os inúmeros cálculos e detalhes envolvidos na avaliação.

Essa planilha está sendo validada e ajustada tomando como base dados de fazendas que adotam a integração de sistemas em Mato Grosso e também informações do campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT).

Para isso, dois profissionais do Imea dedicam-se em tempo integral a esse projeto, que já está completando dois anos de atividades. Um deles, Miqueias Michetti, faz a parte de campo, coletando junto ao produtor os dados necessários para alimentar a planilha. Já Mariana Takahashi faz o processamento dos dados, alimentando um banco de informações que dá subsídio não só para a avaliação econômica das fazendas, mas também para a pesquisa.

“A ILPF é um sistema muito complexo para você mapear toda a parte econômica em dois anos. Tem muitas variáveis possíveis, muitas disposições que se pode fazer. Em cada região muda muita coisa”, pondera Takahashi.

A expectativa é que até dezembro sejam finalizados os resultados de viabilidade econômica de todas as nove URTEs. Os resultados de algumas fazendas já serão apresentados em uma reunião na Embrapa Agrossilvipastoril nos dias 6 e 7 de agosto.

“O produtor quer saber se o que ele está fazendo é economicamente viável. Em dezembro queremos trazer resultados de todas as fazendas, com os dados passados pelo produtor”, afirma Takahashi.

Com esse projeto, a expectativa é que a médio prazo essa ferramenta de avaliação seja aperfeiçoada, tornando seu uso mais simples. Após isso, ela será disponibilizada para técnicos, extensionistas e produtores que trabalhem com sistemas ILPF.

Este projeto é uma parceria da Embrapa Agrossilvipastoril e Imea e conta com patrocínio do Sistema Famato/Senar-MT.


17 jul 2015

ILPF já é disciplina em universidades brasileiras

*Da Embrapa

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A ideia de se trabalhar com ILPF no local foi por necessidade de recuperar áreas de pecuária extremamente degradadas.

“O tema Ensino sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF em universidades e escolas técnicas” teve sua primeira sessão especial durante o Congresso Mundial sobre ILPF, na tarde do dia 14/07, e tratou de “disciplinas” nos currículos das instituições de ensino superior. A apresentação ficou por conta do professor Edemar Mouro, coordenador do Curso de Especialização em ILPF da Universidade do Oeste Paulista (Presidente Prudente, SP).

A ideia das discussões sobre o tema é ouvir sugestões, especialmente de como criar um fórum único para discutir disciplinas e organizar academicamente os programas de graduação, pós-graduação e pesquisas acadêmicas, eventos e outros assuntos.

Mouro lembrou que antes de sua chegada (em 2011) na região do oeste paulista existia apenas pecuária e cana-de-açúcar. A ideia de se trabalhar com ILPF no local foi por necessidade de recuperar áreas de pecuária extremamente degradadas. Foi assim que o professor começou a buscar meios de implantar a disciplina nos cursos de graduação e pós-graduação. A Unoeste sempre teve a preocupação de formar alunos para mudar a realidade local como forma de viabilizar melhores condições de vida às comunidades de agricultores.

Com a ajuda da Embrapa, especialmente o pesquisador João Kluthcousk, precursor do ILPF no Brasil e responsável técnico pela implantação desses sistemas em propriedades de agricultores no País, a Unoeste implantou a disciplina na graduação em agronomia, na pós-graduação (especialização – lato sensu) e no mestrado e doutorado, disse Mouro. Inúmeras viagens técnicas pelo Brasil também foram feitas para conhecer o sistema. Fazendas que adotaram a ILPF na região oeste de São Paulo se tornaram modelo para difundir o sistema aos agricultores da região. Fóruns anuais e eventos técnicos também foram realizados para discutir o tema.

O oeste paulista é uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo. Segundo o índice paulista de responsabilidade social, a região é uma das mais pobres daquele estado. “Isso nos incomoda muito como universidade”, enfatizou Mouro, que não tem dúvidas que a Unoeste pode ajudar a região a sair dessa situação. Segundo ele é possível, por meio da ILPF, gerar transformação social e econômica. O caminho? Formando técnicos, agrônomos especialistas com conhecimento capaz de mudar o cenário dos campos daquela região.

São propriedades que foram degradas por um longo período pelo tratamento adequado a terra. Uma situação considerada normal pelos jovens que precisam saber que aquela realidade pode ser transformada. “Queremos quebrar o paradigma da não solução, da conformidade com um cenário que não muda há 30 anos”, enfatizou Mouro. A universidade tem um papel fundamental na formação de agrônomos que possam levar o conhecimento sobre a ILPF para o campo. Existe um novo caminho e ele pode começar a ser traçado na instituição de ensino, acredita o professor.