25 out 2016

Solos arenosos apresentam aumento de produtividade com uso de técnicas agrícolas

Por Embrapa Informação Tecnológica*

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O uso de tecnologias conservacionistas tem permitido que os solos leves – assim chamados por terem a areia como fração predominante em sua textura – passem a ser utilizados para produção de grãos, fibras, materiais energéticos, cana-de-açúcar, silvicultura e pastagens cultivadas. Áreas de solos leves, antes consideradas pouco aptas para a agricultura, atualmente, com o uso de novas técnicas agrícolas, registram aumento de produtividade, especialmente na região do Matopiba, a mais recente fronteira agrícola do País, onde 20% do território é formado por esse tipo de solo.

Com cerca de 73 milhões de hectares, que abrangem todo o Estado do Tocantins e parte dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia, a produção na região do Matopiba saltou de 2,3 milhões de toneladas de grãos, em 2010, para uma safra aproximada de dez milhões de toneladas em 2015. Muitas dessas terras cultivadas são constituídas de solos leves que, por ocasião da abertura dessa nova fronteira agrícola, eram pouco valorizadas. Porém, a partir do uso de técnicas de manejo conservacionista do solo, vêm se tornando agricultáveis. Até então, seu uso destinava-se quase que exclusivamente ao fornecimento de pasto para pecuária e a áreas de florestas.

“Importante destacar que o plantio em solos leves com o aumento de produtividade só está sendo possível nessas áreas por causa do uso de técnicas de manejo sustentável, em detrimento das tradicionais. Caso contrário, teríamos como paisagem predominante solos degradados, com baixa produtividade, em razão principalmente da erosão e com o comprometimento dos aquíferos”, enfatiza o pesquisador da Embrapa Solos Guilherme Kangussu Donagemma.

Entre as técnicas utilizadas que permitiram o uso dos solos leves na agricultura estão o Sistema Plantio Direto (SPD), os sistemas integrados de produção, como o de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e o de Lavoura-Pecuária Floresta (ILPF) e o agroflorestal (SAF) que permitem maior produção de matéria orgânica no solo, propiciando maior disponibilidade de nutrientes e mais disponibilidade de água.

As informações estão no artigo Caracterização, potencial agrícola e perspectivas de manejo de solos leves no Brasil , resultado de pesquisa desenvolvida por especialistas da Embrapa Solos (RJ), Embrapa Agrossilvipastoril (MT), Embrapa Milho e Sorgo (MG), Embrapa Gado de Corte (MS) e Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).

O trabalho integra o conjunto de 71 artigos que compõe a mais nova edição temática da Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB): O solo como fator de integração entre os componentes ambientais e a produção agropecuária. A PAB é um periódico técnico-científico publicado pela Embrapa e completou 50 anos em 2015.

O artigo que descreve essas condições encerra um ciclo de atividades de pesquisa que começou em 2011. O trabalho consistiu em realizar análises detalhadas da composição dos solos leves de áreas agricultáveis, entre elas, de Guaraí (TO) e Luís Eduardo Magalhães (BA) – municípios localizados na região de Matopiba –, e também de áreas fora da nova fronteira agrícola, considerados relevantes para a balança comercial brasileira por sua importante produção de soja, cana-de-açúcar e pecuária, como Campo Verde (MT), Mineiros (GO), Chapada Gaúcha (MG), Botucatu e Pirassununga (SP), Alegrete (RS) e Correntina (BA), além da área irrigada de Petrolina, onde se destaca a produção de manga para exportação.

Potencial agrícola dos solos leves

Segundo Donagemma, que é um dos autores do artigo, os estudos permitiram ampliar o conhecimento sobre os diversos tipos de solos leves existentes no País. “As análises demonstraram que há uma variabilidade da presença do componente areia fina nesses solos, o que impacta diretamente em seu potencial agrícola, quando associado ao índice de precipitação pluviométrica nas regiões estudadas”, destaca.

Como exemplo, o cientista cita os estudos comparativos realizados entre três regiões. Na Chapada Gaúcha, região com distribuição irregular de chuvas, onde a precipitação pluviométrica anual é de 900 a 1.000 milímetros, o cultivo de soja em solos leves rendeu aproximadamente 50 sacas por hectare. Em Guaraí, onde a incidência anual de chuvas é maior, entre 1.200 a 1.400 milímetros/ano, registrou-se uma colheita de 70 sacas por hectare, e em Campo Verde (MT), onde chove mais de 1.800 milímetros por ano, o resultado foi superior a 70 sacas de soja/ano. “Portanto, os resultados estão associados, primeiramente, às boas práticas conservacionistas dos solos leves, mas também à composição desse solo e à quantidade de chuvas por ano”, complementa o especialista.

Outra conclusão apontada pela pesquisa é que há diferentes solos de textura leve, que muitas vezes têm sido tratados, por alguns técnicos e produtores, como semelhantes, em razão, nesse caso, da avaliação do solo ser apenas superficial, na camada de até 20 a 30 cm. Para a correta análise da composição desses solos é necessária uma avaliação do perfil de 75 cm ou mais.

Manejo sustentável

O trabalho dos pesquisadores, detalhado em artigo da Revista PAB, também enfatiza como boas práticas de manejo sustentável a adoção do ILPF, no qual é recomendado o plantio de eucalipto nas áreas estudadas na Bahia, por exemplo; a teca, em Mato Grosso; e a seringueira, em São Paulo.

No caso das seringueiras, quando plantadas em áreas consideradas zonas de escape para sua principal doença – o mal-das-folhas (causada por fungos), registram-se elevadas produtividades de látex. “Essas áreas de plantio se caracterizam por menores precipitação e umidade em relação aos biomas Amazônia e Mata Atlântica, onde essa doença normalmente ataca as seringueiras. Assim, nessas áreas, não há o ataque da doença, e são obtidas produtividades elevadas de látex”, exemplifica Donagemma.

Em áreas de plantio de cana-de-açúcar, o estudo observou a adoção de sistemas conservacionistas como o plantio direto e a ausência da queima dos resíduos culturais como forma de se promover a melhoria das condições físico-hídricas do solo e assim melhorar o potencial genético da cultura, sua produtividade e longevidade.

Perspectivas

Estudos sobre a composição, bem como as práticas de manejo sustentáveis para aumento de produtividade da cultura e a longevidade dos solos leves deverão ser ampliados para outras áreas da região do Matopiba nos estados do Piauí e Maranhão, segundo expectativas dos especialistas.

No artigo publicado, os pesquisadores buscaram selecionar áreas-piloto que pudessem ser extrapoladas para regiões semelhantes. Porém, nesses estados, onde as áreas de plantio em solos leves são consideráveis, o estudo ainda será realizado. Também em uma próxima etapa, a Embrapa planeja implantar sistemas de produção sustentáveis, com o plantio de novos arranjos e combinação de espécies a fim de serem testados e incentivados em razão dos benefícios relacionados à produtividade e à melhoria da qualidade do solo.

Número temático da PAB

A fim de reduzir a insuficiência de informações e as dificuldades de acesso a dados sobre solos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa estão desenvolvendo mecanismos colaborativos e permanentes que visam a organização e a sistematização dos dados existentes sobre solos e que se encontram dispersos.

É nessa perspectiva de impulsionar novos caminhos para estudar e compreender os solos brasileiros que a edição temática sobre solos se insere. O edital para a seleção dos trabalhos foi lançado em 2015, justamente no Ano Internacional do Solo, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A proposta foi agregar todas as abordagens sobre solo em uma única publicação técnico-científica que os editores da PAB temática estabeleceram como tema central “O Solo como fator de integração entre os componentes ambientes e a produção agropecuária” e, assim, a partir dele, dividiram os trabalhos em três seções, de acordo com as grandes áreas de conhecimento abordadas, e com horizontes nacional, regional e local: Solo e Planejamento do uso da terra; Solo e Produção e Solo e Ambiente.

Solo e Planejamento

Nessa seção, composta por 17 artigos, estão organizados temas que tratam da caracterização dos solos, seu potencial agrícola e manejos sustentáveis, classes e atributos dos solos e sua distribuição espacial na paisagem a partir de técnicas e ferramentas de geoprocessamento, agricultura de precisão, zoneamentos de componentes ambientais e, por último, uma contribuição complementar para o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.

Solo e Ambiente

Com 23 artigos, nessa seção destacam-se abordagens sobre solos mais regionalizadas, como, por exemplo, estudo de casos que exemplificam o aporte de serviços ambientais nos biomas brasileiros e um conjunto de indicadores desses serviços que contribuirão para o monitoramento das alterações dos agrossistemas. O papel do solo em paisagens como Pantanal, Pampa, Cerrado; impactos das ações do homem sobre os serviços ambientais (como produção de madeira, água doce, polinização de plantas, ciclagem de nutrientes); potencial de sistemas de produção integrada como o ILPF para redução das emissões de gases de efeito estufa; impacto do uso de plantas de cobertura, entre outros.

Solo e Produção

Nessa seção, com 31 artigos, o solo é abordado como substrato para a produção agropecuária, levando-se em conta indicadores físicos, químicos e biológicos. Os temas são apresentados em escala mais local, como, por exemplo, os solos de várzea e os solos dos Tabuleiros Costeiros, ou ainda relacionada à determinada cultura, como o artigo que trata da qualidade física dos solos associada à produtividade da cana-de-açúcar; outro que aborda a disponibilidade da água e a qualidade do solo no plantio do arroz irrigado.

Para os editores técnicos, Adriana Reatto e Renato Ferreira Passos – pesquisadores da Embrapa Informação Tecnológica, Unidade da Embrapa responsável pela coordenação editorial e financiamento da PAB –, os artigos apresentados nas seções expressam o estado atual e as tendências das pesquisas nos diversos assuntos, além de sinalizarem demandas e desafios do conhecimento sobre o recurso do solo. “Agradecemos a toda a comunidade científica do Brasil, que se empenhou na construção deste importante número”, destacam os editores, lembrando que a edição contou com a participação de diversos especialistas em solo da Embrapa e de universidades brasileiras.


09 set 2016

Ministério da Agricultura leva Fórum sobre Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono para o Mato Grosso do Sul

Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono*

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Alternativas para o tratamento dos dejetos animais serão apresentadas em Dourados no dia 16 de setembro

Os produtores rurais podem gerar energia, melhorar a qualidade do ar, do solo, da água e a saúde dos animais e dos trabalhadores ao tratar os resíduos da suinocultura. Experiências e dicas para uma produção mais sustentável serão apresentadas no auditório do Sindicato Rural de Dourados no dia 16 de setembro, às 13h30.

Temas como viabilidade econômica, tecnologias de produção mais limpa na suinocultura, Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) e financiamento para tecnologias voltadas a uma produção mais sustentável, estarão entre os assuntos a serem apresentados pelos palestrantes.

Os consultores do Projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono levantaram diversos modelos de tratamento de dejetos animais seguidos da avaliação econômica de cada um deles, e o resultado dessa pesquisa está sendo propagado nos fóruns e em cartilhas sobre o tema. Essa será a nona edição do evento: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal também receberam edições do fórum.

Fórum na Expointer recebeu 70 participantes

O último Fórum sobre Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono foi realizado no dia 30 de agosto, em Esteio/RS, na Expointer 2016. Cerca de 70 participantes ouviram dos especialistas formas de almejar uma produção mais sustentável e econômica.

Atualmente, segundo os profissionais, a renda que o produtor pode conseguir ao tratar os resíduos dos animais é significativa, e consequentemente traz a possibilidade de mitigar os impactos ambientais, além de aumentar a oferta de biogás e reduzir os custos de produção, de fertilizantes industrializados e a emissão de gás metano (CH4) e de outros Gases de Efeito Estufa (GEE).

Para o parceiro terminador e atuante na suinocultura desde 1994, Jorge Luiz Steigner, o fórum traz o principal ponto de preocupação dos produtores e das empresas há anos, que é a questão dos dejetos animais. “Podemos ver por meio do fórum que realmente o produtor está perdendo uma oportunidade de fazer um dinheiro extra. O que ouvimos dos palestrantes aqui é que há alguns anos se pensava que os biodigestores só seriam viáveis para grandes granjas e grandes produtores e hoje vemos que é viável para os médios e pequenos produtores”, destaca. Na visão de Steigner, o estado do Rio Grande do Sul vai ter um avanço significativo nessa área nos próximos anos.

O produtor de suínos e estudante de medicina veterinária Jeferson Fabricio Beto está começando a tratar os resíduos dos animais em sua propriedade. “O encontro foi importante para dar mais ênfase à produção de biogás e ao aproveitamento de dejetos, economia de água e ração, a questão energética, aproveitamento da água da chuva canalizada e o empenho do uso da própria energia vinda do biogás”, diz.

O Fórum é uma ação do projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono, coordenado pelo MAPA com o apoio da Embrapa Suínos e Aves, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).


02 set 2016

Sistema de integração lavoura-pecuária garante renda para produtores de Roraima

Por Ascom CNA*

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A técnica permite a diversificação da produção, proporcionando um melhor custo benefício nas propriedades locais

A 50 quilômetros de Roraima, na cidade de Mucajaí, um produtor gaúcho investiu num sonho: construir uma fazenda e criar gado da raça nelore. Mas, com o tempo o sonho ganhou outras dimensões. Hoje, seu filho Eduardo Paludo, um dos administradores da Fazenda Prateada, diversificou a produção. A criação de gado continua, agora associada ao sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), também chamado agropastoril. Além da criação de peixes.

Segundo Eduardo Paludo, o sistema agropastoril desenvolve a pecuária de sua propriedade, renovando a pastagem, aumenta a produtividade e a qualidade da produção e promove a valorização da terra. De acordo com Paludo, em uma área utilizada para criar uma única cabeça de gado, em pastagem, com o sistema ILP passa a alimentar quatro animais ou até mais. “É um custo-benefício extraordinário para nós produtores”, frisa. O produtor acrescenta: “também plantamos grãos, colhemos, comercializamos e os utilizamos na própria fazenda como ração, além de estocarmos no pasto. Operando apenas com a pecuária isso não seria possível”, observa.

A ILP trouxe outra grande transformação para o produtor Eduardo Paludo, a diversificação de sua produção. Os benefícios que o sistema trouxe para sua atividade, confessa, indicam um futuro mais promissor, diminuindo as crises ocasionadas pela sazonalidade de preços e clima. “Nós, produtores, precisamos nos reinventar sempre”, observa. Eduardo comenta que no seu caso, ele não pode depender somente da produção de milho, já que, com a variação da oferta do produto, seu preço pode não ser satisfatório. “O sistema integrado garante uma fonte de renda mais estável, fundamental para que nossa atividade seja rentável”, finaliza.

A propriedade de Eduardo Paludo tem 7 mil hectares, destes 1,5 mil são produtivos. Lá 1,3 mil cabeças de gado são abatidas anualmente e vendidas a R$ 150 por arroba, o equivalente a R$ 10 reais o quilo. Na piscicultura, são cerca de 40 hectares de açudes, e seis lâminas de água que produzem mais de 90 toneladas de peixes anualmente. Na parte de grãos, a Fazenda Prateada alterna, por ano, 200 hectares entre a produção de milho e soja.

Mas não é somente Eduardo Paludo que investe no sistema Pecuária-Lavoura. De acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Roraima), Vicente Dianluppi, esse sistema é essencial para o desenvolvimento e a competitividade da agropecuária de Roraima. “Como não temos a safrinha, a alternativa econômica para o alto custo de duas safras e ainda a aplicação da ILP, já que temos um solo com boas características e variáveis cadeias de produção, esse sistema se tornou imprescindível para a região”, ressalta.

O pesquisador observa que hoje a produção agropecuária do estado, cuja população é de 500 mil habitantes, atende somente o mercado interno. Contudo, com as possibilidades do mercado brasileiro e com o surgimento de demandas na Venezuela, país vizinho de Roraima, que hoje vive uma crise por alimentos, o sistema agropastoril deve ser intensificado em toda a região. “Precisamos ser eficientes e cada vez mais ecologicamente sustentáveis”.

Para o secretário de Planejamento e Desenvolvimento do Estado de Roraima, Alexandre Henklain, o cerrado do estado é um paraíso para os produtores que investem no sistema agropastoril, pelo clima e pela terra. “Aqui é o melhor lugar para quem quer criar gado e plantar soja”. E convida outros produtores brasileiros “venham para Roraima o mais breve possível, porque as terras ainda estão baratas”.


16 ago 2016

Com planejamento, integração pode ser aplicada em qualquer tamanho de fazenda

Por Revista Globo Rural*

w_Fazenda Anna Sophia - Foto Cleber Gellio

A adoção da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) pode revolucionar o perfil das propriedades rurais. “Das grandes às pequenas, sem distinção”, enfatiza o pesquisador Carlos Eugênio Martins, da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG). Em Minas Gerais, pequenos produtores, como o pecuarista Márcio José de Resende, de Coronel Xavier, viram mudar suas chácaras radicalmente. “Isso aqui era só grama e rabo de burro (erva daninha invasora de pastos)”, lembra. “Hoje, tenho pasto recuperado, pastagem farta e uma safra de madeira para ser aproveitada.”

Na propriedade de 26 hectares, familiar, a adoção da ILPF aconteceu na safra 2009/2010. Leonardo Calsavara, da Emater-MG, entidade que participou da implantação do sistema no sítio, lembra que, naquela época, o custo por hectare da ILPF foi de R$ 2.200. “No primeiro ano, só a produção de milho foi suficiente para cobrir os custos iniciais e gerou um resíduo de R$ 600 por hectare”, diz.

Na propriedade, foram plantados milho, braquiária e eucalipto. As vacas leiteiras passaram a produzir 600 litros de leite por dia após três anos de implantação. “Foi possível preservar a Reserva Legal, pois a madeira (originária da desrama) tornou a fazenda autossuficiente em madeira.”

Em Mar de Espanha (MG), o produtor Vicente Machado também adotou o sistema. “Compramos o sítio em 1979 e, com o uso intensivo dos pastos, ele ficou degradado e eu sem dinheiro para recuperar a área, de 120 hectares”, diz. “Com a ILPF, foi possível recuperar os pastos e ter solo adubado para plantar milho e braquiária. Hoje, a vaca vem comer capim na ponta, não é mais tratada no cocho. É ela quem escolhe o que quer comer, quando quer e quanto quer comer. Só foi preciso mudar nossos hábitos.”

Dúvidas frequentes

1 É possível adotar o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta em pequenas propriedades?

A integração lavoura-pecuária-floresta é um sistema que adapta-se a qualquer tamanho de propriedade, desde que as condições edafoclimáticas (características do clima e solo) não sejam restritivas. É importante lembrar que o plantio consorciado de milho com capim (jaraguá e colonião), nas décadas de 1950 e 1960, foi prática comum na implantação manual de pasto nas “roças de toco”, portanto, pode ser adotada em pequenas áreas. Mas, em propriedades com uso intensivo de máquinas agrícolas e insumos, a escala de produção pode ser determinante da viabilidade econômica do sistema. É preciso ter planejamento eficiente, gestão competente e envolvimento de uma equipe multidisciplinar.

2 Existe um programa de financiamento ou linha de crédito para quem deseja adotar o sistema ILPF na propriedade?

A ILPF é uma das tecnologias incentivadas pelo Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC), criado em 2010 pelo governo federal e que concede créditos para quem adota técnicas agrícolas sustentáveis. A taxa de juros é de 5,5% ao ano. O prazo de pagamento pode chegar a 15 anos. O Programa ABC também incentiva a adoção de plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, recuperação de áreas degradadas, plantio de florestas e tratamento de resíduos animais.

3 Como selecionar a espécie florestal para compor o sistema? Existem outras espécies de árvores recomendadas para o sistema ILPF além do eucalipto?

As espécies arbóreas devem ser escolhidas de acordo com a adaptação ao local, arquitetura da copa, facilidade de estabelecimento, exigências do mercado, ritmo de crescimento, tipo de raiz, controle de erosão e escorrimento superficial de águas da chuva, sombra para animais e compatibilidade com pastagens e gado. A espécie de maior potencial de utilização em ILPF é o eucalipto, graças a seu rápido crescimento, oferta de clones adaptados a diferentes regiões, copa rala, elevado rendimento econômico e usos múltiplos com a produção de madeireiros e não madeireiros. Outras espécies sendo utilizadas são acácia, paricá, pinho cuiabano, mogno africano, cedro australiano, canafístula, grevílea ou pínus. Também há pesquisas com mogno brasileiro e teca.

4 Como determinar o espaçamento ideal de árvores e a quantidade de linhas e renques?

Existem arranjos diferentes, de acordo com perfil, localização e objetivos da propriedade. O arranjo mais simples e eficaz é o de aleias, em que as árvores são plantadas em faixas (linhas simples ou múltiplas) com espaçamentos amplos. A distribuição das faixas de plantio das árvores é realizada preferencialmente no sentido leste-oeste e deverá ser em curvas de nível, impedindo a erosão do solo e a perda de água por escoamento superficial.

5 Existem limitações físicas ou geográficas para a implantação do sistema ILPF, como geadas, seca ou terrenos declivosos, arenosos ou muito úmidos?

Em solos declivosos, a principal limitação é a mecanização, mas é possível o uso de implementos com tração animal e a distribuição das faixas de árvores deve ser realizada em curvas de nível. Nas demais situações, já existem conhecimento e tecnologias adaptadas para diferentes condições edafoclimáticas.

6 O produtor que adotar o sistema ILPF deve fazê-lo em toda a área?

Se o produtor não tem experiência com ILPF, recomenda-se começar em áreas menores para conhecer os processos e práticas necessárias e, além disso, minimizar riscos financeiros.

7 É verdade que o eucalipto retira muita água do sistema ILPF?

O eucalipto não consome mais água por unidade de biomassa produzida do que qualquer outra espécie vegetal. O consumo de água de uma floresta de eucalipto é em torno de 900 a 1.200 milímetros por ano.

8 O componente florestal (F) do sistema ILPF é obrigatório em todos os casos?

Não. O conceito de ILPF adotado pela Embrapa, por exemplo, engloba modalidades sem árvores (integração lavoura-pecuária) e com árvores.

9 Depois de quanto tempo é possível obter retorno econômico com a adoção da ILPF?

Em sistema de integração lavoura-pecuária, em dois anos é possível obter retorno positivo. Nos sistemas agrossilvipastoris, dependendo das práticas silviculturais adotadas, os retornos positivos podem ser obtidos entre quatro e oito anos.


09 ago 2016

Desbaste de árvores ajuda a potencializar ganhos com culturas na ILPF

Por Embrapa Agrossilvipastoril*

Foto: Gabriel Faria
Foto: Gabriel Faria

A Embrapa Agrossilvipastoril está realizado o primeiro desbaste dos eucaliptos do experimento de integração lavoura-pecuária-floresta com foco na pecuária de corte. A redução da quantidade de árvores é uma forma de aumentar a produtividade de grãos, de forrageira e também de potencializar os ganhos na produção de madeira.

O desbaste ocorre após quatro anos do plantio das árvores. Neste experimento, que conta com renques com linhas triplas de eucalipto, estão sendo testados dois tipos de desbaste. Em algumas parcelas há a supressão de 50% dos indivíduos, independentemente da fileira. Em outras estão sendo retiradas as linhas laterais do renque triplo e algumas árvores da linha central.

No primeiro tratamento, a definição sobre as árvores que são suprimidas é feita de acordo com uma série de critérios. Entre eles está o formato do fuste, eliminando as árvores tortuosas, bifurcadas ou com danos causados por doenças e animais. Também são suprimidas árvores doentes e aquelas com baixo índice de crescimento.

“Não pode tirar tudo de qualquer jeito, pois também tem a parte espacial. Não se pode tirar tudo em um canto e deixar um buraco. Tem de fazer de uma forma arranjada de modo a manter uma distribuição espacial”, explica o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Hélio Tonini.

De acordo com Hélio, o desbaste tem o objetivo de permitir a maior entrada de luz no sistema, beneficiando a lavoura e a planta forrageira da pecuária. Além disso, a redução no número de árvores possibilita a redução da competição entre os indivíduos e a priorização daqueles com melhor potencial de uso em serraria.

“Elas vão crescer mais. Vão ter mais espaço para expandir a copa. Vão concentrar a capacidade de crescimento num numero menor de árvores. A altura não vai alterar muito, mas o ganho em diâmetro será substancial”, afirma o pesquisador.

Antes do corte raso das árvores, programado para ocorrer entre os 12 e 16 anos do plantio, está prevista a realização de mais um desbaste. A definição será feita com base no crescimento das árvores e também no desempenho da lavoura e da pecuária.

“O maior problema de sombreamento é com desenvolvimento de altura. E a tendência agora é estabilizar o crescimento. Então imagino que de agora em diante as perdas em relação à pastagem e grãos serão menores”, explica Tonini.

A madeira retirada do sistema neste desbaste será vendida como lenha. Entretanto, ela também poderia ser utilizada para produção de postes descascados ou mourões de cerca.

Como neste caso a rebrota do eucalipto não é desejada, serão aplicados produtos químicos nos tocos para matar a planta e acelerar o apodrecimento. O objetivo é utilizar, o quanto antes, a área ocupada por eles com a lavoura e a pastagem.

Podas

Mesmo com o desbaste feito, é preciso continuar fazendo as podas periódicas nas árvores. Esse manejo é importante para garantir a melhor qualidade da madeira, evitando a formação de nós, e ainda para permitir maior entrada de luz no sistema.

De acordo com o pesquisador Hélio Tonini, a poda normalmente é feita até os sete metros de altura. A partir daí, como é necessário o uso de plataformas de elevação, o custo da operação fica muito elevado.

“Para quem trabalha com madeiras de maior valor, como a teca, o custo do manejo vale a pena. Para eucalipto, por exemplo, fica antieconômico”, pondera Tonini.