07 ago 2015

Governo privilegia, em crédito rural, sistemas de pecuária intensiva

* Estadão Conteúdo

img-credito-pessoal-mainCom o fechamento de frigoríficos e da oferta reduzida de vacas para garantir a reposição de bois de corte, o governo decidiu lançar mão do crédito rural para estimular a pecuária intensiva e também métodos mais sustentáveis de produção, como o de integração lavoura-pecuária-floresta. Nessa quarta, 5 de agosto, foi publicada no Diário Oficial da União, em edição extraordinária, a Lei 13.158, que muda os objetivos do crédito ao produtor.

A lei, assinada pelos ministros Kátia Abreu (Agricultura), Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), além da presidente Dilma Rousseff, deixa claro que a intenção é substituir o sistema extensivo de criação, predominantemente a pasto, pelo sistema intensivo, que privilegia o confinamento ou a criação de gado em espaços menores e em alternância com lavoura, pecuária e floresta.

O Ministério da Agricultura ainda não deixou claro como será esse estímulo, mas deve criar mecanismos para dar prioridade, no acesso ao crédito rural, aos pecuaristas que se enquadrem nesses modelos de produção. O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, celebrou a decisão do governo. “O objetivo é incentivar a pecuária em um espaço menor e, neste sentido, tem nosso apoio. Só acho que veio um pouco tarde diante dofechamento de frigoríficos e da dificuldade de oferta de animais”, disse à Agência Estado.

Salazar argumentou que o Brasil vive uma crise de oferta de animais em função de abates de matrizes no passado, além da migração de produtores para outras atividades. “Diante desse quadro, a Abrafrigro já vinha demandado do governo a criação de um plano de desenvolvimento da pecuária”, relatou. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) divulgou nota de apoio à decisão. “Além disso, o estímulo à pecuária intensiva reduz a pressão sobre as áreas de floresta, aumenta a produtividade do setor e concilia economia e ecologia. Ela se insere também no contexto da integração lavoura-pecuária”, disse o comunicado.

Segundo a entidade, nos Estados Unidos, que fazem uso de pecuária intensiva, com um rebanho de 90 milhões de cabeças produz 12 milhões de toneladas de carne por ano; no Brasil, 200 milhões de cabeças produzem 9 milhões de toneladas.


04 ago 2015

Nova metodologia possibilita avaliação econômica de ILPF

*Da Embrapa Agrossilvipastoril

Gabriel Faria
Foto: Gabriel Faria

Metodologia desenvolvida por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril e do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) busca padronizar e facilitar a avaliação da viabilidade econômica de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O conceito já está sendo aplicado em caráter experimental por meio de uma ferramenta testada em nove Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) em Mato Grosso.

A principal inovação desta metodologia é a organização dos custos baseada no sistema ABC (do inglês, Custo Baseado em Atividades). O pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis explica que a vantagem em relação aos demais métodos utilizados é que esse permite a identificação dos custos de produção associados a cada atividade realizada, como plantio, aplicação de fungicida, aplicação de inseticida, dessecação, colheita, poda de árvores, vacinação de animais, etc. Isso é diferente da metodologia de custeio por absorção, a mais utilizada na avaliação econômica de sistemas produtivos. No método anterior, são computados os custos globais de cada insumo. Assim, não é possível saber, por exemplo, quanto de mão de obra foi dispendida no plantio.

“A ideia é quebrar os custos em todas as atividades executadas para poder compor o produto final. Claro que isso dá muito mais trabalho no registro dos dados, mas a grande vantagem é que o relatório vem mais informativo”, explica Reis. Na prática, isso possibilita saber o valor exato de cada procedimento realizado no campo, o que é fundamental em um sistema complexo como a ILPF.

O pesquisador explica que, diferentemente de uma lavoura de soja, por exemplo, que tem todos os processos mapeados, a ILPF ainda não os tem. Além disso, dificilmente um sistema será igual ao outro, uma vez que cada um é adaptado às características do bioma, do mercado consumidor local, da logística, relevo etc. Dessa forma, ao se ter a análise de custos por atividade, é mais fácil padronizar a avaliação e permitir comparações.”Isso é fundamental tendo em conta o atual estágio de entendimento sobre sistemas de ILPF, no qual, muitas práticas de condução e manejo ainda precisam ser estabelecidas e validadas”, afirma.

Outra vantagem é que ao se ter o custo de cada operação, é possível avaliar a eficiência dos procedimentos. Assim, pode-se ver, por exemplo, se a configuração espacial da ILPF está aumentando o tempo de execução de uma atividade, gerando mais consumo de combustível, mais hora-máquina e mais hora de trabalho. Com isso, o produtor pode ajustar a configuração para tornar o sistema mais eficiente.

Dificuldades

Além de ainda não ter todos os processos da integração lavoura-pecuária-floresta mapeados, outra dificuldade encontrada pelos pesquisadores, nos trabalhos de avaliação econômica dos sistemas é a definição da duração do ciclo produtivo. Ao contrário de uma cultura anual, que começa e termina num intervalo de até 12 meses, a ILPF depende da configuração e das espécies utilizadas. Um sistema agropastoril, por exemplo, pode durar dois anos, já um silvipastoril pode ter ciclo de cinco a 30 anos, dependendo da finalidade do componente florestal. Dessa forma, a avaliação econômica total é muito variável. “Você não pode só olhar o lucro no ano. Você vai olhar isso dentro de um ciclo. Porque aí entram outras coisas como pagamento de juros e outros gastos que o produtor teve. É algo mais dinâmico numa perspectiva de análise de investimento”, pondera o pesquisador Júlio Reis.

Para driblar essas dificuldades, por meio de um projeto envolvendo pesquisadores de diferentes centros de pesquisas da Embrapa, todos os processos da ILPF serão mapeados em diferentes biomas. O objetivo é o de se chegar a um sistema modal para cada região do País.

“Percebemos que esse trabalho vai ajudar nessa discussão de, a médio prazo, caminhar para a escolha de configurações mais adequadas para cada região do estado ou do Brasil. Ver qual é mais adequado para cada lugar”, explica o economista da Embrapa Agrossilvipastoril.

Ferramenta de avaliação

Para facilitar o uso dessa metodologia de avaliação e a coleta de informações junto aos produtores, foi desenvolvida uma planilha eletrônica. Ela busca padronizar e tornar mais simples a coleta de dados e os cálculos. A ferramenta é de grande importância tendo em vista a complexidade dos aspectos produtivos da ILPF e os inúmeros cálculos e detalhes envolvidos na avaliação.

Essa planilha está sendo validada e ajustada tomando como base dados de fazendas que adotam a integração de sistemas em Mato Grosso e também informações do campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT).

Para isso, dois profissionais do Imea dedicam-se em tempo integral a esse projeto, que já está completando dois anos de atividades. Um deles, Miqueias Michetti, faz a parte de campo, coletando junto ao produtor os dados necessários para alimentar a planilha. Já Mariana Takahashi faz o processamento dos dados, alimentando um banco de informações que dá subsídio não só para a avaliação econômica das fazendas, mas também para a pesquisa.

“A ILPF é um sistema muito complexo para você mapear toda a parte econômica em dois anos. Tem muitas variáveis possíveis, muitas disposições que se pode fazer. Em cada região muda muita coisa”, pondera Takahashi.

A expectativa é que até dezembro sejam finalizados os resultados de viabilidade econômica de todas as nove URTEs. Os resultados de algumas fazendas já serão apresentados em uma reunião na Embrapa Agrossilvipastoril nos dias 6 e 7 de agosto.

“O produtor quer saber se o que ele está fazendo é economicamente viável. Em dezembro queremos trazer resultados de todas as fazendas, com os dados passados pelo produtor”, afirma Takahashi.

Com esse projeto, a expectativa é que a médio prazo essa ferramenta de avaliação seja aperfeiçoada, tornando seu uso mais simples. Após isso, ela será disponibilizada para técnicos, extensionistas e produtores que trabalhem com sistemas ILPF.

Este projeto é uma parceria da Embrapa Agrossilvipastoril e Imea e conta com patrocínio do Sistema Famato/Senar-MT.


21 jul 2015

Congresso sobre ILPF une pesquisa, empresa e produtor rural

* Da Embrapa

Para presidente da Embrapa, evento foi um marco na união de setores em prol da sustentabilidade agropecuária

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Mais do que um evento científico, o Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta foi um fórum participativo entre pesquisa, ensino, empresas privadas e produtores rurais. Assim, o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes resumiu o evento que reuniu em Brasília (DF) 602 participantes de 22 nacionalidades entre os dias 12 e 17 de julho.

O ponto forte deste Congresso foi a notável participação de diferentes instituições, setores e áreas do conhecimento”, afirmou Lopes, “sairemos daqui com importantes lições como a necessidade de intensificar os estudos em sócio-economia voltados a sistemas de ILPF”.

O presidente se referia ao sumário do evento, elaborado pelo consultor Eric Kueneman, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que elaborou o resumo do Congresso com os destaques do encontro. “A maioria dos pôsteres apresentados trataram de temas ligados à produção e à tecnologia, poucos trataram de sócio-economia, o que deveria colocar essa área em destaque nos próximos eventos sobre ILPF”, sugeriu Kueneman que elogiou a qualidade dos pôsteres que, segundo ele, apresentaram nível semelhante aos trabalhos apresentados oralmente.

O consultor também exortou os cientistas a saírem dos laboratórios e campos experimentais para auxiliar nas políticas públicas de financiamento à pesquisa. “Na minha opinião, os pesquisadores não deveriam somente produzir palestras e artigos, eles devem também auxiliar os governos a elaborar políticas adequadas de financiamento à pesquisa”, disse.

Grande parte dos trabalhos apresentados demonstrou a importância da adoção dos sistemas de ILPF como necessidade urgente de todos os países. “Trata-se de uma ferramenta poderosa para se evitar desastres ecológicos e sociais”, resumiu Kueneman.

União de setores
A união de profissionais da pesquisa, da academia, da iniciativa privada e produtores rurais foi ressaltada pelo secretário-executivo do Congresso, o pesquisador Pedro Machado, da Embrapa Arroz e Feijão. “Foi muito positiva a inclusão da sessão de ensino e transferência no Congresso. Isso foi inovador e conectou a cadeia produtiva”, afirmou frisando que a sessão trouxe mais atores e ampliou o debate sobre ILPF.

O representante da Rede de Fomento ILPF na área de Ensino, Luiz Antonio Daniel, concorda com Machado. “Obtivemos uma sinergia entre os segmentos da indústria, da pesquisa e do ensino em torno do ILPF, de uma forma organizada e sistêmica,” disse. Daniel acredita que o painel dedicado aos debates sobre o ensino do ILPF ajudará a inserir o tema nas disciplinas de graduação e pós-graduação das instituições de ensino do Brasil. “O painel foi bastante concorrido e deve ajudar a pautar também a pesquisa acadêmica e a extensão universitária,” aposta o representante da Rede.

Um dos inovadores dos sistemas de integração, o pesquisador da Embrapa João Kluthcouski, disse que lhe chamou a atenção encontrar diferentes setores da área rural no evento. “É notória a grande participação de pesquisadores da Embrapa e também da diretoria da Empresa a qual foi presença constante nas salas, nas apresentações e nos debates. A organização [do evento], por sinal, está impecável.”, elogiou o pesquisador que recebeu uma homenagem por seu pioneirismo na pesquisa com ILPF.

Kluthcouski aproveitou o encontro de profissionais do mundo todo para aumentar sua rede de contratos profissionais. “Diante da diversidade de pessoas, foi uma bela oportunidade de estender os contatos e gerar novos grupos e redes de pesquisa,” avaliou. Para o pesquisador, o próximo passo para o avanço dos sistemas de integração será a criação de metodologias de monitoramento. “Não estamos trabalhando mais com apenas uma variedade, um método, estamos lidando com sistemas, o que é muito mais complexo e exige um novo modelo de acompanhamento”, afirmou. Para ele, o Congresso impulsiona a Embrapa nesse sentido. “[O evento] é uma semente que vai se multiplicar muito rapidamente”, acredita.

O pesquisador do Núcleo de Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO), Leandro Bortolon, concorda com Kluthcouski e afirma que ainda faltam métricas e indicadores de sustentabilidade para medições em sistemas. “Deve haver indicadores mínimos para um sistema ser considerado sustentável ou integrado. Há muitas variações em modelos e não se sabe qual o padrão mínimo para um sistema ser considerado integrado”, frisou Bortolon afirmando que, em meio a tantas variações, muitos sistemas considerados integrados não são sustentáveis.

A diversidade dos participantes, oriundos de diferentes áreas, foi o destaque do Congresso na opinião do diretor executivo da Rede de Fomento ILPF, William Marchió. “Foi notória a ampla representatividade dos participantes e a qualidade das apresentações”, afirmou Marchió que se disse impressionado com a boa organização do evento.

Dia de Campo de sucesso

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O dia de visita técnica a campo na quarta-feira, no meio do evento, foi um dos pontos mais elogiados pelos participantes. Cinco grupos de congressistas brasileiros e um com roteiro em inglês para participantes estrangeiros visitaram áreas com integração e puderam tirar dúvidas in loco. “Eu não sabia que a ILPF era tão difundida e pesquisada no Brasil”, disse Ayaka Kishimoto, pesquisadora sênior em dinâmica de carbono do Instituto Nacional de Ciências Agroambientais do Japão (NIAES) durante a visita ao campo.

Os brasileiros puderam conhecer seis estações com exemplos de integração no campo experimental da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF). Os congressistas de outros países visitaram duas estações no mesmo centro de pesquisa e outras três na fazenda Recreio, no sul do Distrito Federal.

A Embrapa Cerrados possui um dos mais antigos experimentos de longa duração em sistemas de integração, com 24 anos. A área vem, ao longo dos anos, comprovando as vantagens dos sistemas em relação aos plantios convencionais solteiros. “Em todos os nossos experimentos, e também em condições de fazenda, a soja produzida com rotação em consórcios produziu 500 kg a mais por hectare em comparação ao plantio contínuo da leguminosa,” informou o pesquisador Robélio Leandro Marchão.

O chefe do centro de pesquisa, José Roberto Rodrigues Peres, disse que o dia de campo foi bem posicionado no meio da semana permitindo um intervalo na programação tradicional dos congressos. “Tudo isso dá muita energia aos participantes”, afirmou Peres.

Além da academia e da pesquisa
A formação do profissional que atua com sistemas é um desafio para o desenvolvimento da intensificação sustentável, de acordo com Bortolon, da Embrapa. “Hoje, infelizmente, não estão saindo profissionais das universidades capazes de atuar com sistemas integrados. As pessoas tendem a olhar apenas para uma parte do conjunto”, disse o pesquisador que defendeu a elaboração de um novo congresso sobre o tema o quanto antes, para dar continuidade ao debate.

A formação do profissional do campo é bandeira também do professor Paulo César de Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que concorda com Bortolon em relação à ultraespecialização dos profissionais de hoje. “Temos o profissional que sabe muito de soja, ou muito de solo, ou muito de bovinos, ou muito de árvores, mas não encontramos o profissional que sabe trabalhar com esses elementos integrados”, afirmou Carvalho. Por esse motivo, foi montada uma sessão no Congresso especialmente voltada a instituições de ensino a qual procurou fomentar a formação de profissionais especializados em montar sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta.

O presidente da Embrapa acredita que o Congresso fomentou a necessidade de revisar o currículo acadêmico a fim de formar profissionais preparados para desenvolver sistemas de integração. “O evento foi extremamente exitoso nesse sentido ao promover o debate com a universidade”, afirmou Maurício Lopes.

A academia deve trabalhar incorporar a interdisciplinaridade inerente aos sistemas de ILPF, de acordo com Luiz Daniel, da Rede Fomento a ILPF. “As áreas universitárias específicas como agronomia, zootecnia, florestal, economia e meio ambiente precisam integrar suas especialidades acadêmicas”, defendeu.

Judson Ferreira Valentim, pesquisador da Embrapa Acre, considera que o ensino superior deve ser repensado levando em conta a interdisciplinaridade. “Para isso é fundamental a discussão que o evento promoveu sobre o ensino”, disse. O pesquisador pensa também que a pesquisa deve conhecer melhor os recursos florestais nativos. “Temos uma boa base de conhecimento sobre o eucalipto, mas desconhecemos a biodiversidade nativa que agregará valor ao sistema”, afirmou.

Valentim também citou a importância de adequar o sistema de financiamento ao produtor rural, observando as peculiaridades de um sistema de integração. “O crédito atual é voltado para safras de produtos específicos, precisamos de um modelo que financie todos os componentes do sistema, que seja mais longo e financie mais atividades”, sugeriu. Pedro Machado, concorda, “o sistema de crédito precisa ser aperfeiçoado”.

Transferência no foco
O aprimoramento dos sistemas de transferência de tecnologia para contemplar as características do ILPF foi defendido por João Kluthcousky para quem a recuperação de pastos degradados abre uma enorme frente de atuação desse setor. “É só pensar que quando o Brasil incorporar 50 milhões de hectares de solos degradados dobraremos a produção”, afirmou.

“As orientações para sistemas integrados já existem, mas há dificuldade de adoção por questões relacionadas à gestão. Precisamos encontrar um formato ou propostas viáveis para o pecuarista adotar a integração, talvez estimular a parceria com agricultores,” sugeriu Pedro Machado.

Marco histórico
O coordenador do Congresso Mundial, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Ladislau Martin Neto, se disse orgulhoso do papel brasileiro em sistemas de integração e pela produção do encontro. “A Embrapa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e os parceiros promotores podem se orgulhar da realização desse grande evento que entrará para a história da pesquisa agropecuária”, afirmou.

Web


17 jul 2015

ILPF já é disciplina em universidades brasileiras

*Da Embrapa

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A ideia de se trabalhar com ILPF no local foi por necessidade de recuperar áreas de pecuária extremamente degradadas.

“O tema Ensino sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF em universidades e escolas técnicas” teve sua primeira sessão especial durante o Congresso Mundial sobre ILPF, na tarde do dia 14/07, e tratou de “disciplinas” nos currículos das instituições de ensino superior. A apresentação ficou por conta do professor Edemar Mouro, coordenador do Curso de Especialização em ILPF da Universidade do Oeste Paulista (Presidente Prudente, SP).

A ideia das discussões sobre o tema é ouvir sugestões, especialmente de como criar um fórum único para discutir disciplinas e organizar academicamente os programas de graduação, pós-graduação e pesquisas acadêmicas, eventos e outros assuntos.

Mouro lembrou que antes de sua chegada (em 2011) na região do oeste paulista existia apenas pecuária e cana-de-açúcar. A ideia de se trabalhar com ILPF no local foi por necessidade de recuperar áreas de pecuária extremamente degradadas. Foi assim que o professor começou a buscar meios de implantar a disciplina nos cursos de graduação e pós-graduação. A Unoeste sempre teve a preocupação de formar alunos para mudar a realidade local como forma de viabilizar melhores condições de vida às comunidades de agricultores.

Com a ajuda da Embrapa, especialmente o pesquisador João Kluthcousk, precursor do ILPF no Brasil e responsável técnico pela implantação desses sistemas em propriedades de agricultores no País, a Unoeste implantou a disciplina na graduação em agronomia, na pós-graduação (especialização – lato sensu) e no mestrado e doutorado, disse Mouro. Inúmeras viagens técnicas pelo Brasil também foram feitas para conhecer o sistema. Fazendas que adotaram a ILPF na região oeste de São Paulo se tornaram modelo para difundir o sistema aos agricultores da região. Fóruns anuais e eventos técnicos também foram realizados para discutir o tema.

O oeste paulista é uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo. Segundo o índice paulista de responsabilidade social, a região é uma das mais pobres daquele estado. “Isso nos incomoda muito como universidade”, enfatizou Mouro, que não tem dúvidas que a Unoeste pode ajudar a região a sair dessa situação. Segundo ele é possível, por meio da ILPF, gerar transformação social e econômica. O caminho? Formando técnicos, agrônomos especialistas com conhecimento capaz de mudar o cenário dos campos daquela região.

São propriedades que foram degradas por um longo período pelo tratamento adequado a terra. Uma situação considerada normal pelos jovens que precisam saber que aquela realidade pode ser transformada. “Queremos quebrar o paradigma da não solução, da conformidade com um cenário que não muda há 30 anos”, enfatizou Mouro. A universidade tem um papel fundamental na formação de agrônomos que possam levar o conhecimento sobre a ILPF para o campo. Existe um novo caminho e ele pode começar a ser traçado na instituição de ensino, acredita o professor.


16 jul 2015

ILPF já responde por 7% dos recursos destinados a financiamentos do Programa ABC

*Da Embrapa / Texto: Robinson Cipriano

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O Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Florestas aos poucos começa a conquistar espaço representativo no valor total de recursos destinados a financiamento de projetos dentro do Programa ABC (Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura). Segundo dados apresentados pelo coordenador de Manejo Sustentável dos Sistemas Produtivos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Elvison Nunes Ramos, no ano passado 7% dos recursos destinados foram fruto de projetos para financiamento de implantação do sistema nas propriedades rurais brasileiras. O anúncio foi feito durante a primeira sessão especial do Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que ocorre até o dia 17 de junho em Brasília-DF, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

Elvison explicou que o ILPF ainda é considerado pelos produtores como uma das tecnologias mais difíceis para serem adotadas dentro do Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura). “Do ponto de vista do produtor, ainda é um sistema complexo, que demanda conhecimento mais detalhado de técnicos e agricultores, pois promove uma sinergia entre práticas que normalmente são feitas separadamente, como a agricultura e a pecuária. Não é fácil para um pecuarista tomar a decisão de abrir sua propriedade para produção de grãos, por exemplo. É um risco que poucos assumem correr na hora de buscar um financiamento”.

Ele revela que o Plano ABC ainda está na fase de capacitação de técnicos, projetistas, analistas de projetos e produtores sobre as seis tecnologias que compõem o Plano (plantio direto, recuperação de áreas degradadas, florestas plantadas, fixação biológica de Nitrogênio e tratamento de dejetos de animais, além do ILPF). “Por isso, o índice de 7% pode parecer pequeno à primeira vista, mas seu crescimento, comparado a outros anos, mostra que a adoção começa a ocorrer em larga escala nos principais biomas brasileiros. É um dado positivo, se avaliarmos que é a tecnologia do Plano que mais mitiga CO2”, frisa Elvison. Em 2014 o Ministério registrou, comparado a 2013, um aumento de 22% do total de projetos de ILPF aprovados no programa de financiamento.

Segundo dados da Embrapa, já existem 3 milhões de hectares com o sistema ILPF implantado no país. As duas regiões que mais têm demandados projetos de ILPF para serem financiados são o Centro-Oeste e o Sudeste. Projetos de recuperação de áreas degradadas ainda são maioria no Programa ABC: respondem por 40% do valor total de recursos, seguido do plantio direto (21%) e de florestas plantadas (14,2%).

Esses números mostram que há um desafio gigantesco para os profissionais de transferência de tecnologia e de comunicação, que é o de procurar formas mais simples e inovadoras de explicar melhor sistemas integrados, como o ILPF, para os produtores rurais, como bem lembrou um dos palestrantes do primeiro dia do Congresso, Tom Goddard, pesquisador canadense do Estado de Alberta.

Diferença entre Plano e Programa ABC

O Plano ABC se diferencia do Programa ABC justamente por que este é uma linha de crédito rural ao produtor, ao contrário do primeiro, que é um conjunto de ações a serem realizadas para estimular a adoção das tecnologias de produção sustentáveis para diminuir a emissão de gases de efeito estufa pela agropecuária brasileira. O Plano é uma importante parte do compromisso brasileiro, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020, assumido voluntariamente em 2009, na 15ª Conferência das Partes (COP15), em Copenhague.

Elvison Ramos ainda anunciou que no primeiro ano de implantação do Programa ABC (referente ao período 2010-2011), o total de recursos foi tímido: R$ 418,3 milhões. Hoje os números fazem a diferença: R$ 2,7 bilhões foram destinados para 2013-2014, totalizando nos quatro anos R$ 7,5 bilhões. Os dados do Banco do Brasil, anunciados em primeira mão no Congresso pelo gerente executivo da Diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil, Álvaro Rojo Santamaria, são mais animadores: até março de 2015 esse total já chegou a R$ 8,6 bilhões. “De cada dez reais financiados pelo Governo Brasileiro aos agricultores, nove são financiados pelo Banco do Brasil”, garantiu, destacando o papel do banco dentro do Programa ABC.

O coordenador de Manejo Sustentável dos Sistemas Produtivos do Mapa ainda divulgou que 33,9 mil contratos de financiamento já foram assinados desde o começo do Programa, dos quais 6,8 mil somente em 2015.