14 mar 2017

Estudos e experimentos conduzidos na Embrapa avaliam efeitos do Sistema Plantio Direto na produção de hortaliças

Por Embrapa Hortaliças*

A tecnologia já dispõe de inúmeros relatos de resultados ligados ao seu uso no plantio de grãos, mas no quesito referente ao cultivo de hortaliças a literatura é escassa e os dados ainda pontuais e inconsistentes. Para suprir essa deficiência, estudos comparativos estão sendo desenvolvidos na Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) com o objetivo de avaliar os impactos produzidos a partir da introdução do Sistema Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) em experimentos conduzidos nos campos experimentais da Unidade.

De acordo com o pesquisados Carlos Pacheco, da área de Solos e Nutrição de Plantas e que atua na mitigação e adaptação dos sistemas produtivos de hortaliças às mudanças climáticas, o uso ainda esparso da tecnologia pode ser explicado pelo pouco conhecimento por parte da cadeia produtiva, uma realidade que já vem sinalizando algumas mudanças.

“A partir da divulgação desses múltiplos resultados que estamos obtendo na Embrapa, e em outros órgãos que desenvolvem sistemas de produção sob plantio direto, já deu para perceber, pela demanda por informações, um aumento do interesse, recentemente reforçado pela questão da crise hídrica”, anota o pesquisador.

Segundo ele, há bem pouco tempo os benefícios do uso do SPDH estavam relacionados à conservação do solo. Atualmente, existe também o reconhecimento de que esse sistema é uma importante ferramenta de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. E os números comprovam. “Resultados publicados pela equipe envolvida com o tema relatam o papel que o SPDH desempenha no incremento dos teores de carbono no solo, na redução das perdas de água e solo e na melhoria do microclima de cultivo, reduzindo a necessidade de uso da água para irrigação e a ocorrência de grandes variações de temperatura na superfície do solo”, destaca Pacheco.

Ele acrescenta que em um dos trabalhos, por exemplo, observou-se que a temperatura na superfície do solo cultivado com brócolis em SPDH esteve em torno de 4ºC menor que aquela registrada no sistema convencional. Segundo o pesquisador, essa diferença foi fundamental para a manutenção da temperatura dentro do limite máximo (30ºC), considerado ótimo para cultivo dessa hortaliça no SPDH.

O SPD é uma das tecnologias inseridas no Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), do governo federal. “Nossos resultados mostraram claramente que o SPDH, após seis anos de uso, foi capaz de aumentar os níveis de carbono no solo. Esse aumento se deu tanto em frações da matéria orgânica, facilmente degradáveis, como nas de difícil degradação, o que nos leva a projetar um efeito positivo a longo prazo”.

GANHOS CONTABILIZADOS

Respostas a muitos dos experimentos que vêm sendo realizados na área da Embrapa Hortaliças já foram devidamente contabilizadas, a exemplo da medição do Carbono da Biomassa Microbiana (CBM), que quantifica os microrganismos do solo, conforme trabalho desenvolvido pela pesquisadora Mariana Fontenelle. No cômputo geral, o CBM manteve-se mais elevado no plantio direto quando comparado ao sistema de preparo convencional, o que representa uma rápida resposta, considerando-se apenas dois ciclos de cultivo de melão.

“Isso implica em uma melhoria na qualidade do solo, com incorporação de matéria orgânica e aumento na diversidade de microrganismos benéficos, traduzido em aumento na produtividade”, sintetiza Mariana.

 


30 jan 2017

Adoção de tecnologias de baixo carbono trazem benefícios tanto para o produtor quanto para o meio ambiente

Melhores ganhos tanto para o produtor quanto para o meio ambiente. Esse é o Projeto ABC Cerrado, que leva capacitações e Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) para o médio produtor rural em quatro tecnologias de baixo carbono. O ABC é desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) em parceria com a Embrapa, Ministério da Agricultura e recursos do Banco Mundial em oito estados do Bioma Cerrado. O produtor que participa do projeto tem benefícios sociais, ambientais e econômicos, que vão desde o aumento da fertilidade do solo até o aumento da produtividade. A iniciativa está em uma nova fase, com inscrições abertas para mais de 4 mil vagas em capacitações e 400 em Assistência Técnica e Gerencial.

Esta semana, gestores e superintendentes do SENAR dos estados que participam do ABC vieram a Brasília para uma missão do Banco Mundial que tratou do novo momento do projeto e dos próximos passos até a conclusão em 2019. Alguns contaram como está o andamento no seu estado, como é o caso do Tocantins, onde os técnicos de campo da ATeG participaram do processo de mobilização e isso fez a diferença, aumentando a participação de produtores interessados nas tecnologias, explica a superintendente do SENAR-TO, Rayley Campos Luzza.

“Conseguimos sensibilizar o público do ABC, que é um produtor diferenciado e que já tem um certo know-how no agronegócio. Estamos muito felizes que alcançamos nosso objetivo e inscrevemos mais de 1300 produtores nas capacitações e 90% desses já receberam Assistência Técnica”, comemora. Sobre a nova fase, Rayley se diz confiante, devido, principalmente, ao aprendizado na fase inicial do projeto. “Tivemos um período bom para nos adequar ao projeto e nossa expectativa não podia ser melhor. Estamos nos preparando e vamos fazer todos os procedimentos da fase 2 para garantir que ela aconteça da forma mais proveitosa possível.”

Outro estado que teve um alto índice de participação foi Goiás, com adesão de produtores nas quatro tecnologias ofertadas pelo ABC Cerrado. “Todas as tecnologias são demandadas pelos produtores em todos os 246 municípios. Já estamos na fase de ofertar a Assistência Técnica e os produtores começaram de fato a ter um acompanhamento mais de próximo dos técnicos de campo e a absorverem naturalmente a tecnologia escolhida”, conta o superintendente Antônio Carlos de Souza Lima Neto. “Estamos motivados com o projeto e empenhados em continuar ampliando as ações no estado. Não temos dúvidas que no contexto geral, o projeto atende as expectativas dos produtores goianos,” revela.

Em Minas Gerais, 40 turmas já foram realizadas, com a capacitação de 600 produtores, a maior parte na tecnologia de Recuperação de Pastagens Degradadas, afirma o gestor do projeto no estado, Luiz Ronilson Araújo Paiva. “Essa é a tecnologia mais procurada porque o estado tem hoje uma grande área com pastagens degradadas, mas há interesse também no Sistema Plantio Direto nas regiões do Triângulo e Alto Paranaíba.” Segundo Paiva, o ABC Cerrado é uma iniciativa que já estabeleceu um legado, não só em Minas, mas nos demais estados atendidos. “Com o projeto, o produtor passa a ter consciência sobre o uso daquela tecnologia, seus benefícios e o fato dela propor a baixa emissão de carbono. Com isso, ele entende que ao adotar uma tecnologia de forma racional, seja Recuperação de Pastagens ou Sistema Plantio Direto, por exemplo, ele terá ganhos tanto em produtividade quanto em redução dos impactos ambientais”, destaca.

Na Bahia, o projeto é desenvolvido na região oeste do estado e já capacitou mais de 300 produtores. “Fizemos um levantamento entre os produtores para saber as reais necessidades deles e descobrimos que o problema maior lá é com as pastagens degradadas. A partir daí iniciamos o trabalho de capacitação. Depois da capacitação o produtor começa a mudar sua forma de agir e pensar, porque em sala de aula, além da tecnologia, também damos o enfoque da sustentabilidade. A partir daí, o produtor entende que aquela terra vai ficar melhor e que os filhos e netos dele também poderão tirar renda dali,” explica Gabriel de Menezes, gestor do projeto no SENAR Bahia. “Nossa previsão é aumentar o número de produtores atendidos em 2017 realizando turmas ao longo do ano”, completa.


13 dez 2016

Tecnologias seletivas controlam capim-navalha sem causar danos às pastagens

Por Embrapa Acre*

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Dois modelos de aplicadores seletivos desenvolvidos pela Embrapa, a enxada química e a roçadeira Campo Limpo, podem ser a solução para milhares de produtores rurais da Amazônia que convivem com infestações de capim-navalha, principal planta invasora de pastagens na região. O uso dessas tecnologias reduz em até 95% a presença da praga e protege a forrageira, o solo e outras plantas dos efeitos do herbicida, devolvendo a capacidade produtiva do pasto, com ganhos econômicos e ambientais. As duas versões dos equipamentos, tratorizada e manual, estão voltadas à aplicação química dirigida, que permite tratar de forma seletiva o capim-navalha.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Carlos Maurício Andrade, responsável pelas pesquisas no Acre, os aplicadores seletivos podem mudar a realidade das pastagens amazônicas e de outras regiões do País. “Essas tecnologias atendem tanto o agricultor familiar, que precisa realizar o controle de invasoras de forma mais localizada, como grandes pecuaristas, que necessitam reformar extensas áreas afetadas, com o diferencial de preservar o pasto”, explica.

Roçadeira Campo Limpo

Desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sul (RS), o aplicador tratorizado é indicado para o controle em larga escala. Batizada de roçadeira Campo Limpo, a tecnologia está disponível no mercado desde 2013 e tem sido adotada por pecuaristas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, entre outros estados, no controle do capim-annoni (Eragrostis plana) e capim-mourão (Sporobolus indicus), mais conhecido como capim-capeta.

“Embora nessas localidades o principal enfoque das pesquisas seja essas duas invasoras, a tecnologia se mostrou eficiente também no combate a diferentes espécies indesejáveis em pastagens, incluindo plantas tóxicas de folha larga como a maria-mole”, esclarece o pesquisador da Embrapa Naylor Perez, um dos autores da tecnologia.

No Acre, testes com o equipamento iniciaram-se há dois anos e os resultados confirmam sua eficiência no controle do capim-navalha. “Com apenas duas aplicações, uma a cada semestre, é possível baixar para 5% os índices de presença da planta e manter as pastagens praticamente livres da praga”, destaca Andrade.

Os aplicadores seletivos funcionam a partir de materiais absorventes que, embebidos com caldas herbicidas, molham as folhas da planta invasora. Com a roçadeira química Campo Limpo, essa dinâmica de contato é possibilitada por um conjunto de 50 cordas que ficam presas ao equipamento. Um sistema de regulagem eletrônica garante precisão à vazão, permitindo realizar as aplicações de acordo com o grau de infestação da área.

Enxada química

A versão manual do aplicador seletivo, chamada de enxada química, é recomendada para o tratamento do capim-navalha em pequenas áreas. A tecnologia representa uma alternativa eficiente para o controle da erva daninha entre agricultores familiares. Validado em 40 hectares de pastagens, no Município de Senador Guiomard (AC), o equipamento possibilita baixíssimos índices de retorno da praga.

Segundo Andrade, após 60 dias do tratamento do capim-navalha, o nível de rebrotação das touceiras da planta foi inferior a 15%. “Em áreas formadas com gramíneas forrageiras estoloníferas, ou seja, que conseguem se alastrar pelo terreno, tais como a Brachiaria humidicola, o capim-tangola e a grama-estrela-roxa, após o controle da praga o pasto se reconstitui naturalmente. Já o controle da planta em pastos formados com capins de touceira, como mombaça e xaraés, deve ser associado ao replantio da forrageira”, explica.

De fabricação e uso simples, a enxada química possibilita o mesmo processo de controle desempenhado pela roçadeira Campo Limpo, porém, de forma manual e em escala menor. A dinâmica de funcionamento consiste em passar a corda do equipamento nas folhas do capim-navalha, em movimentos de vaivém, com liberação gradativa da formulação química para o tratamento seletivo da planta.

Ainda conforme o pesquisador, o controle do capim-navalha com uso dos aplicadores seletivos deve ser realizado durante o início e o final do período chuvoso, uma vez que na estação seca a planta não consegue absorver o produto e em épocas muito chuvosas, tende a ser lavado pelo excesso de água, aspectos que comprometem os resultados.

Na região Sul do Brasil, a enxada química, também chamada de lambe-lambe, possui diferentes modelos de fabricação caseira, já utilizados no controle de diversas plantas invasoras em pastagens e na agricultura. Desde 2015, a versão artesanal da tecnologia, validada pela Embrapa Acre, está disponível para comercialização em casas agropecuárias de Rio Branco (AC).

Vantagens

Os aplicadores seletivos oferecem uma série de vantagens econômicas e para o meio ambiente, em relação a métodos de controle convencionais. Além de possibilitarem o tratamento de diversas espécies invasoras, as aplicações por contato eliminam a erva daninha preservando a pastagem, reduzem o risco de contaminação humana e impedem a deriva de substâncias químicas para culturas vizinhas.

Um diferencial da roçadeira Campo Limpo é a precisão na liberação do produto, aspecto que evita desperdício e proporciona economia para o produtor rural. Outra vantagem é que a tecnologia proporciona agilidade nas aplicações, permitindo otimizar o tempo de trabalho. Segundo Andrade, uma pessoa consegue tratar um hectare de pastagem em apenas 40 minutos. “Por métodos tradicionais, como o arranquio da planta, seriam necessários dez homens e oito horas para realizar a mesma atividade”, diz o pesquisador.

A enxada química agrega particularidades que possibilitam a adoção da ferramenta em áreas rurais onde não é possível o uso de outras alternativas de controle. Por ser uma tecnologia manual, pode ser utilizada em localidades com diferentes características de relevo, inclusive em solos acidentados. Apesar das facilidades, é indispensável o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) na operacionalização dos aplicadores seletivos. Além disso, cuidados como regulagem adequada dos equipamentos e preparo prévio da área a ser tratada ajudam a garantir melhor rendimento operacional e resultados mais efetivos.

Conforme explica Andrade, o controle de plantas invasoras depende também de procedimentos importantes para a manutenção da pastagem. “O tratamento de reforço para eliminar plantas remanescentes do capim-navalha e a adoção de práticas adequadas de manejo do pasto, incluindo o uso de forrageiras recomendadas pela pesquisa, adubações periódicas e respeito à capacidade de lotação das áreas pastejadas, entre outros cuidados, contribuem para o sucesso das tecnologias”.

Invasoras

A infestação por plantas invasoras é considerada um grave problema de manejo de pastagens no Brasil, relacionado ao processo de degradação do pasto. Somente na Amazônia existem cerca de 500 espécies, e o capim-navalha é a mais agressiva e de maior dificuldade de controle, principalmente em áreas de solos úmidos. Presente em todos os estados das regiões Norte e Centro-Oeste, além do Maranhão, Pernambuco, São Paulo e Paraná a praga causa sérios prejuízos para os produtores. No Acre, afeta quase 100% das propriedades rurais envolvidas com a atividade pecuária, em diferentes níveis de infestação.

Entre outras consequências, o problema reduz a produtividade do pasto, limitando a oferta de alimento para o gado, prejudica o desempenho produtivo do rebanho e eleva o custo de reforma da pastagem. O método de controle mais utilizado é a pulverização dirigida das touceiras da planta, entretanto, a prática afeta também gramíneas forrageiras mais próximas da invasora.

Desafios

Nativo da América Central, o capim-navalha é uma espécie invasora extremamente agressiva, devido à alta capacidade de multiplicação na pastagem. Na Amazônia e parte do Estado do Mato Grosso, as infestações com essa planta começaram a surgir na década de 1990, como consequência do agravamento da síndrome da morte do capim-braquiarão, principal causa da degradação de pastagens na região.

O pesquisador da Embrapa Judson Valentim, especialista em forrageiras, considera que a situação mais desafiadora no processo de reforma de pastagens degradadas é a infestação por capim-navalha. “A rápida proliferação dificulta o controle da praga por métodos convencionais, como gradagem do solo e semeadura de novas variedades de gramíneas forrageiras, em decorrência da reinfestação da área, seja pela rebrotação de touceiras ou surgimento de novas plantas a partir de sementes existentes no solo”, destaca.

Para Andrade, a ausência de herbicidas seletivos no mercado, que atuem nas plantas indesejáveis e, ao mesmo tempo, evitem danos às forrageiras, impõe desafios para o produtor rural e para a pesquisa científica. Os produtos disponíveis afetam também o pasto no entorno da planta invasora, dificultando a eliminação do problema. Por ser uma espécie de comportamento oportunista, o capim-navalha ocupa também os espaços deixados na pastagem com a perda de vigor da forrageira afetada no tratamento da praga. “Disponibilizar métodos de controle adequados a diferentes realidades rurais é essencial para vencer essas dificuldades”.


23 nov 2016

Banco Mundial quer conhecer pesquisas da Embrapa para redução de GEE

Por Embrapa*

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O pesquisador Robert Boddey faz esta semana uma série de palestras nos Estados Unidos onde apresentará os resultados das pesquisas da Embrapa para redução das emissões de gases de efeito estufa na agropecuária brasileira. Entre as apresentações, Boddey falará para especialistas da Climate Smart Agriculture, na sede do Banco Mundial, em Washington, D.C. “Vou apresentar o que a Embrapa vem fazendo e explicar que as emissões diminuíram bastante desde 2004 e que isto é resultado das pesquisas e do enorme esforço do Governo brasileiro de diminuir a desmatamento na Amazônia e outras áreas”, adiantou Boddey.

Além do encontro com especialistas da Climate Smart Agriculture – instituição ligada a FAO que visa a mobilização de recursos para o aumento da produtividade com sustentabilidade e redução das emissões de gases de efeito estufa na produção de alimentos–, o pesquisador Robert Boddey se reunirá com pesquisadores do Programa de Ciência, Tecnologia e Política Ambiental da Universidade de Princeton. Ainda na mesma instituição, Boddey fará uma palestra para cerca de 100 pesquisadores, professores e estudantes. O pesquisador não descarta futuras parcerias com universidades e centros de pesquisa americanos.

Para Robert Boddey, que é pesquisador da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), o convite para estas apresentações nos Estados Unidos é um reconhecimento ao trabalho da equipe de ciclagem de nutrientes em vinte anos de estudos. O pesquisador afirma ainda que ao querer conhecer os estudos da Embrapa sobre o tema, os americanos revelam um grande interesse pelas pesquisas brasileiras. “Eles querem saber como o Brasil pretende cumprir seus ambiciosos compromissos assumidos em Copenhague (2009) e na 21ª Conferência das Partes-COP21, em Paris (2015), para reduzir as emissões de GEE, especialmente na área de agropecuária”, complementa o pesquisador.

Pesquisas da Embrapa

Entre as pesquisas que serão apresentadas, Robert Boddey vai abordar um estudo recente que revela que as emissões de gases de efeito-estufa na pecuária brasileira podem cair com o aumento da produtividade da pastagem. O estudo avaliou cinco cenários diferentes, que vão desde a condição de pasto degradado até a pastagem adubada combinada com confinamento. “Com esse trabalho, conseguimos ver quanto é a emissão de GEE por quilo de carne produzido no País de acordo com o manejo adotado”, esclarece o pesquisador, que coordenou a pesquisa.

As estimativas foram feitas com base na metodologia do IPCC, porém com vários dados levantados em pesquisas no Brasil. Boddey explica que com uma pequena melhoria, consorciando a pastagem com uma leguminosa forrageira, por exemplo, que não exige adubação nitrogenada, aliado a um controle maior dos animais, é possível obter uma redução nas emissões de aproximadamente 26% em relação ao que se teria no pasto degradado, e ainda quadruplicar a produtividade. Com o aumento da produtividade, a redução das emissões por quilo de carne chega a quase 50%.

Conheça as pesquisas da Embrapa sobre o tema:

https://www.embrapa.br/tema-agricultura-de-baixo-carbono/sobre-o-tema

https://www.embrapa.br/web/portal/busca-de-noticias/-/noticia/3272611/pecuaria-brasileira-emite-menos-gases-de-efeito-estufa-do-que-o-estimado-pelo-ipcc

https://www.embrapa.br/web/portal/busca-de-noticias/-/noticia/8313328/fixacao-biologica-de-nitrogenio-pode-reduzir-as-emissoes-de-gee-na-agricultura

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/14184247/plantio-direto-contribui-para-mitigacao-dos-gases-de-efeito-estufa

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/13239171/pesquisa-desenvolve-conceito-carne-carbono-neutro-para-producao-bovina

https://www.embrapa.br/cop22


03 nov 2016

Adoção de ILPF chega a 11,5 milhões de hectares

Por Embrapa Meio Ambiente*

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A pesquisa mostra que, atualmente, a área com algum tipo de adoção de sistema ILPF no Brasil abrange 11,5 milhões de hectares. Os estados que se destacam em área de adoção são Mato Grosso do Sul, com dois milhões de hectares; Mato Grosso, com 1,5 milhão; Rio Grande do Sul, 1,4 milhão, que se destacou também como o estado com maior número de propriedades participantes de alguma das modalidades; Minas Gerais, um milhão, e Santa Catarina, com 680 mil hectares.

No âmbito dos produtores rurais com atuação predominante na pecuária e que adotam a estratégia, 83% utilizam o sistema de integração lavoura-pecuária – ILP, (9% ILPF, 7% IPF ou integração pecuária-floresta) e entre os produtores de grãos, 99% adotam o sistema integração lavoura-pecuária – ILP (0,4% ILPF e 0,2% ILF).

Entre os produtores cujo foco predominante é a pecuária, os principais fatores motivadores para a adoção do sistema foram a redução de impactos ambientais, entendida como uma preocupação de adequar ambientalmente a atividade diante das pressões da sociedade e dos mercados e o interesse dos pecuaristas na recuperação das pastagens.

Já entre os produtores de grãos, os principais fatores que justificaram a adoção estão diretamente relacionados ao aumento da produtividade e ao incremento na resiliência dos sistemas produtivos com consequente diminuição dos riscos financeiros na atividade.

Paulo Herrmann, presidente da Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, credita a grandiosidade dos números de adoção a duas características, ou seja, aptidão natural dos trópicos para a produção agrícola e capacidade dos produtores brasileiros em absorver novas tecnologias produtivas e sustentáveis.

Hermann destaca que a integração é um sistema complexo, mas produtivo e, por isso, requer um modelo de financiamento orientado a apoiar todas as etapas do sistema de produção e não somente o financiamento de uma única safra para produção de um produto em separado. Hermann ainda ressalta que o crédito para a ILPF é o mais seguro, entre os aplicados ao campo, “pois mitiga riscos do investimento, uma vez que o sistema ILPF produz ao longo de todo o ano, melhorando o fluxo de caixa da atividade além de promover o incremento de propriedades agronômicas que conferem capacidade adaptativa aos desafios impostos pela mudança do clima”, completa.

Maurício Lopes, presidente da Embrapa destaca que o Brasil chamará cada vez mais a atenção do mundo pelo potencial de intensificação da sua agricultura. Ele argumenta que produzir de forma mais intensiva se tornou um imperativo frente à necessidade de se ampliar a eficiência de uso dos recursos ambientais – especialmente água, solo e biodiversidade – garantindo serviços ecossistêmicos adequados, como reciclagem de resíduos, manutenção da fertilidade dos solos, recomposição das reservas hídricas, melhoria da atmosfera, dentre outros.

Maurício Lopes destaca que o Brasil é um dos poucos países no mundo com grandes extensões de terras com aptidão para uso agrícola sustentável, produzindo, no mesmo espaço, grãos, proteína animal, fibras, bioenergia e, em futuro próximo, biomassa para uso bioindustrial. Segundo ele o Brasil poderá se tornar o líder global em intensificação baseada em tecnologias “poupa-recursos”, de baixa emissão de carbono e em ganhos na produtividade da terra. Para o presidente da Embrapa, os dados revelados pela pesquisa mostram que a agropecuária brasileira está em sintonia com as demandas globais por mitigação e adaptação a realidade de mudanças climáticas, ao novo Código Florestal brasileiro e ao novo padrão de consumo definido por uma sociedade cada vez mais engajada nas causas ambientais.

Para o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e integrante da Rede de Fomento ILPF Ladislau Skorupa, os números revelados pela pesquisa sugerem que há um grande espaço para ações de transferência de tecnologia, no sentido de elevar a qualidade dos sistemas já implantados. Dessa forma, ele acredita que a crescente disseminação de informações sobre os benefícios da estratégia pode ampliar a sinergia que a integração dos componentes lavoura, pecuária e/ou floresta pode proporcionar. “Em outras palavras, podemos ir muito além, explorando todas as potencialidades da estratégia integrada,” explica.

Skorupa salienta ainda que a estratégia de ILPF é flexível, podendo ser adotada por pequenos, médios e grandes produtores. Conforme explicou, a pesquisa ainda mostrou um cenário de consolidação da ILPF no País, onde os dados gerados poderão orientar as políticas públicas. A base interpretativa da pesquisa concentrou-se na percepção do produtor, em relação ao que ele acreditava possuir implantado na propriedade. Com isso, as configurações, bem como a dinâmica (Lavoura, Pecuária e Floresta) na adoção não são necessariamente as mesmas preconizadas na pesquisa, Transferência de Tecnologia ou mesmo na Extensão Rural. Essa característica evidencia que é vital implementar ações para a identificação e qualificação da adoção dos sistemas implantados nas diferentes regiões do País.

Por essa razão, a Rede de Fomento ILPF (composta pelas empresas Dow AgroSciences, John Deere, Cocamar, Parker e Syngenta) e a Plataforma ABC (Embrapa) atuam em colaboração visando estabelecer uma Rede de Monitoramento para a identificação espacial e qualificação da adoção de sistemas ILPF no Brasil.

Esse esforço também poderá contribuir para melhorar a gestão de riscos associados aos impactos negativos da mudança do clima, permitindo, ao longo do tempo, o desenvolvimento mais consistente das atividades do setor e ainda apoiando uma mudança progressiva na trajetória de emissões de gases de efeito estufa. Este modelo de desenvolvimento sustentável está alinhado com os objetivos tanto do Plano Nacional de Adaptação quanto do Plano ABC.

Para o coordenador da Plataforma ABC e integrante da Rede de Fomento, Celso Manzatto, estabelecer um sistema eficiente de monitoramento é importante para a estratégia de transferência de tecnologia, definida pela Rede, ao proporcionar aos interessados contato com tecnologia via trocas de experiência com outros produtores que já estão em fase mais avançada de adoção. Além disso, é importante avaliar melhor o desempenho dessas tecnologias no que diz respeito ao padrão de emissões de gases de efeito estufa, ou mesmo recomendando que eventuais ajustes sejam promovidos pelos agricultores no processo produtivo com a finalidade de incrementar sua capacidade adaptativa.

Manzatto salientou que “tão importante quanto as recomendações da pesquisa agrícola, também o aprendizado e as adaptações que os produtores adotantes implementam em suas propriedades são fundamentais para o aperfeiçoamento, e para a evolução dos sistemas ILPF”, disse.

Conforme ressaltou Paulo Hermann, este é um momento ímpar, protagonizando a terceira revolução da agricultura tropical, por meio dos sistemas integrados de produção. Conforme explicou, a primeira foi a utilização do plantio direto, que potencializou o uso da terra, e num segundo momento, os agricultores introduziram o plantio da segunda cultura – a segunda safra anual. Agora será a era da ‘agricultura sem parar’, que potencializa a produção pelo regime de sucessão de culturas.

Hermann ainda declarou que “é chegada a hora de acreditarmos na nossa capacidade de realizarmos grandes feitos, e os números confirmam isso.”

Compromisso brasileiro exige mudança contínua

A Plataforma ABC é uma estrutura coordenada pela Embrapa que envolve várias instituições de pesquisa na área agrícola. Ela é responsável por prover os dados técnicos oficiais tanto de atividade quanto os fatores de emissão de gases de efeito estufa para o setor agrícola. As informações são utilizadas na avaliação do desenvolvimento das ações do Plano ABC, além de fomentarem dados oficiais do Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa e dos Relatórios de Atualização Bianual preparados para a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

Com base nos resultados do estudo, a Plataforma ABC reuniu estimativas preliminares referentes ao estoque de carbono no solo promovidas pela estratégia da ILPF. A taxa de adoção linear assumida compreendeu o período entre os anos de 2005 e 2010 e 2010 e 2015. Celso Manzatto explica que o sistema ILP responde a cerca de 80% da adoção, e optou-se por realizar uma estimativa conservadora, com um coeficiente de redução das emissões da ordem de uma tonelada de carbono equivalente por hectare por ano.

As estimativas indicaram o estoque da ordem de 35,1 milhões de toneladas de CO2eq para todo o período da pesquisa e da ordem de 21,8 milhões de Mg de CO2eq para o período 2010 e 2015, considerando uma área de adoção da ordem de 5,96 milhões de hectares (Tabela). Com isso, o objetivo estabelecido pelo Plano ABC para 2020, de ampliar em quatro milhões de hectares a adoção de sistemas ILPF, correspondendo ao sequestro de 18-22 milhões de Mg de CO2eq, já teria sido alcançado.

Gustavo Mozzer é pesquisador da Embrapa na área de mudanças de clima. Ele explica que o compromisso assumido pelo Brasil envolve mudança continuada do padrão de emissões. “Portanto, devemos insistir na sensibilização da sociedade para o enfrentamento dos desafios impostos pela mudança do clima”, avalia. O Plano Nacional de Adaptação propõe um modelo de gestão da informação que, quando implementado, deverá servir de base para a integração ainda mais eficiente dos esforços de adaptação no setor agrícola brasileiro.

O coordenador da Plataforma ABC, Celso Manzatto, argumenta que, “mantida até 2020 a taxa de incremento de adoção de ILPF, podemos concluir que estamos no caminho para cumprir o objetivo de expansão adicional de adoção desta tecnologia em outros 5 milhões de hectares, conforme apresentado pelo Brasil durante a COP21 em Paris na forma de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC)”.

Ainda conforme Manzatto, a adoção de sistemas integrados ambientalmente corretos, capazes de suportar a variabilidade climática, sejam chuvas elevadas, secas prolongadas, altas ou baixas temperaturas é a oportunidade para construção de um modelo de desenvolvimento agrícola verdadeiramente sustentável e resiliente. Trata-se, portanto, de uma oportunidade para o País, na medida em que irá gerar a consolidação e a abertura de novos mercados para os produtos brasileiros. “Isso também demonstra que a ILPF, uma tecnologia gerada e testada no País, pode vir a se tornar uma referência de intensificação produtiva sustentável no mundo,” disse.

Para o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, o planejamento estruturado do Plano ABC está resultando em ganhos sistêmicos de resiliência em propriedades agrícolas. A adoção do ILPF tem gerado benefícios para a capacidade adaptativa dos sistemas produtivos tropicais. Segundo ele, este resultado é parte da estratégia de enfrentamento da mudança do clima pela agricultura brasileira. “A ação brasileira avança na consolidação da capacidade adaptativa dos seus sistemas agrícolas, lastreada pela gestão do conhecimento e da inovação tecnológica, pela forte ênfase em transferência de tecnologia via parcerias público privadas, e sustentada na visão e empreendedorismo dos nossos agricultores, que percebem e respondem ao tempo de rápidas mudanças em que vivemos”.

O pesquisador Eduardo Assad da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), que também integra a Rede de Fomento de ILPF, destaca questões relacionadas à rentabilidade dos sistemas. Ele cita o Programa Novo Campo, em Alta Floresta (MT), que aborda estratégias de pecuária sustentável na Amazônia, com taxa de ocupação de 1,6 animal/ha, considerando a taxa de ocupação em pastagens degradadas da ordem de 0,75 animal/ha, ou o Projeto Roncador no médio Araguaia, onde a taxa de ocupação é 1,7 cabeças/ha, somente com o melhoramento de pastagens.

Assad ainda cita um estudo da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlioi Vargas (FGV/EESP), Intensificação da Pecuária, seus Impactos no Desmatamento Evitado na Produção de Carne e na Redução de Emissões de GEE, no qual conclui que, se todo pecuarista no Brasil adotasse algum tipo de estratégia ILP/ILPF, seria possível adicionar mais 130 milhões de cabeças ao rebanho do País. Assad acredita que a integração produtiva permite aumentar a produção de carne, agregando a possibilidade de certificação internacional, por meio da baixa pegada de carbono. “Em breve, a carne que não for certificada não encontrará acesso nos melhores mercados mundiais,” complementa ele.

O uso de ILPF na prática resulta em intensificação produtiva. De uma pecuária passamos para uma agropecuária, contribuindo para atender as demandas de alimentos previstas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para 2030 com resiliência e sustentabilidade ambiental através da diversificação das paisagens produtivas e liberando áreas para a expansão da agricultura e plantio de florestas. Celso Manzatto explica que há “uma preocupação dos pecuaristas com o impacto ambiental de sua atividade e este tem sido um fator motivador para a adoção de ILPF”. Ele também destaca que “a ILPF está consolidada e é uma estratégia produtiva adotada por pequenas, médias e grandes propriedades”.

As informações da pesquisa são consideradas fundamentais para orientar políticas públicas e mostrar a efetividade do Programa ABC como impulsionador da adoção de tecnologias resilientes e sustentáveis para a agropecuária brasileira. Os resultados indicam que a tecnologia ILPF é viável e já tem um importante índice de adoção para início do processo.

Entenda a pesquisa

O universo amostral considerado na pesquisa de adoção levou em consideração duas abordagens: a percepção do produtor de grãos que adota ou pretende adotar a atividade pecuária e/ou a produção florestal; e a perspectiva do pecuarista que já explora ou pretende agregar a produção de grãos e/ou florestal na propriedade. As culturas selecionadas para a pesquisa foram o milho da safra de verão e soja.

A pesquisa identificou os principais tipos de sistemas adotados, além de informações complementares que darão apoio às ações de transferência de tecnologia, visando ampliar a adoção. As informações abrangem o perfil das propriedades e dos produtores; nível de tecnificação; vantagens percebidas pelos adotantes que conduziram à decisão ou mesmo à desistência; as fontes de informação nas tomadas de decisão para a adoção; entraves e perspectivas.

Foram realizadas 7.909 entrevistas, compreendendo 3.105 pecuaristas de leite e corte em todos os estados; 2.958 produtores de soja nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Piauí, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins; e 1.846 produtores de milho nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.