*Do SENAR Brasil
Os princípios e tecnologias de produção sustentável no bioma amazônico preconizadas pelo Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas na Amazônia (PRADAM) – parceria entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR Brasil), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa – começaram a ser apresentadas para produtores, técnicos e estudantes nesta quarta-feira (6/7).
O primeiro seminário de sensibilização do projeto reuniu, aproximadamente, 200 pessoas, na sede do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá. Representantes do SENAR, da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA) e do Mapa falaram sobre as quatro tecnologias oferecidas pelo PRADAM: Recuperação de Pastagens Degradadas, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), Sistema Plantio Direto (SPD), Florestas Plantadas e Sistemas Agroflorestais (SAFs).
Para o presidente da FAEPA, Carlos Xavier, o bioma amazônico vem sendo explorado nas últimas décadas, mas outras iniciativas do Sistema CNA/SENAR, como o Projeto Biomas, já demonstraram que a região pode servir de vitrine tecnológica para o desenvolvimento de atividades agrícolas com retorno econômico. Ele ressalta que a pecuária é a principal atividade dentro do agronegócio do Pará e que o PRADAM vai contribuir para que se possa fazer recuperação de áreas degradadas e aumentar a capacidade de animais nas pastagens. “Em qualquer atividade econômica você precisa agregar tecnologia e vamos aprender a fazer isso aqui, inclusive para dar resultado para o nosso País. Não tenho dúvidas de que teremos resultados altamente satisfatórios”.
Na opinião do superintendente do SENAR-PA, Walter Cardoso, o PRADAM contribuirá de uma maneira efetiva para correções de situação referentes à proteção do ecossistema e para que os produtores obtenham uma melhor “performance” na sua atividade. “O projeto está exatamente condizente com a proposta do SENAR no estado do Pará e do SENAR Nacional. A nossa grande preocupação, como um todo, é levar aos produtores e trabalhadores rurais os bons ensinamentos para que eles possam desenvolver com sucesso o seu empreendimento agropecuário. Todo projeto que possa realmente contribuir para que o produtor rural tenha um melhor retorno econômico e social não só para si, mas como para a sua família também, nós apoiamos e vestimos a camisa”. Ele também entende que o PRADAM vai contribuir perante as cobranças dos órgãos governamentais, especialmente no que diz respeito às reservas florestais, áreas de conservação permanente, ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) e ao Licenciamento Ambiental Rural (LAR).
Durante o seminário, os participantes também puderam aprender ainda mais sobre as práticas do projeto em duas palestras ministradas por pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental. “Sistemas agroflorestais: alternativa à diversificação, segurança alimentar e conservação dos recursos naturais” foi o tema abordado por Débora Veiga de Aragão. Já Moacyr Dias Filho falou sobre recuperação de pastagens e iLPF.
O coordenador nacional de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do SENAR, Matheus Ferreira, observa que além de disseminar os conceitos das tecnologias de uma forma “aplicável” para os participantes, os seminários têm a finalidade de acabar com a resistência que às vezes existe em relação a esse tipo de práticas e mostrar que elas são viáveis, rentáveis e trazem grandes benefícios para quem as utiliza. Ferreira observa, ainda, que o PRADAM tem outra função relevante: desmistificar a ideia de que a exploração agropecuária na Amazônia desmata e promove o trabalho escravo “Quando se fala em região amazônica como um todo, existe um grande interesse de todos os países do mundo. O que PRADAM também quer mostrar é que existem formas sustentáveis de se produzir sem degradar o meio ambiente e que as áreas estão sendo preservadas, respeitando a legislação e, sobretudo, com ganho para o produtor rural”.
Além dos eventos de sensibilização que acontecerão nos outros estados integrantes da iniciativa (Acre, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão e Rondônia), está sendo organizada uma turma de capacitação com 60 técnicos de ATeG (10 de cada estado participante). O primeiro módulo do treinamento vai ocorrer no dia 11 de julho, na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT). Com carga horária de 180 horas/aula, a programação prevê conteúdo tecnológico, metodológico e gerencial.
Muitos benefícios com o PRADAM
O superintendente do Mapa no Pará, Josenir Nascimento, salienta que “cultura de recuperação de áreas degradadas” já é muito forte no Sul e Sudeste e é extremamente importante que o PRADAM traga isso para a região da Amazônia. “O maior patrimônio que é um produtor tem é a sua terra. Quando ele desenvolve um trabalho tecnificado para recuperar as suas áreas, ele está recuperando o seu patrimônio e isso é extremamente importante porque vai gerar mais renda e dar mais qualidade de vida para o produtor”. Outra vantagem que Nascimento enxerga no projeto é atender a uma demanda do mercado internacional, que prefere comprar de áreas certificadas e de origem, onde são conhecidas as práticas ambientais que os produtores utilizam.
Fábio Henrique Alves, que atua com técnico no SENAR-PA há mais de 15 anos, avalia que o principal benefício do PRADAM será a recomposição florestal e o alinhamento com as novas tecnologias de baixa emissão de carbono que são preconizadas pelo mundo. Segundo ele, o projeto poderá trazer vantagens tanto para grandes e médios produtores, através da recuperação de pastagens degradadas e do plantio de florestas plantadas, como para pequenos, que por meio da associação com serviços agroflorestais poderão obter uma fonte de renda extra durante todo o ano. Alves alerta que o principal desafio será promover uma mudança de paradigma em relação a uma cultura antiga que ainda existe na região que é a “derruba, queima e planta”. “Estamos trabalhando com algo que é meio ingrato que é a transferência por inveja. Nós vamos numa propriedade, aconselhamos um produtor que tenha um pouco mais de flexibilização, fazemos um trabalho lá e depois de dois ou três anos, quando esse produtor começa a ter retorno, a gente chama os outros pra mostrar que dá certo. Um produtor com outro produtor se entende melhor do que a gente ficar só falando de técnicas”.
O produtor rural e diretor do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá, Maurício Fraga Filho, conta que quando a sua família chegou na região vinda de São Paulo, em 1973, era comum abrir áreas e “derrubar mato” para a pecuária. Mas agora isso mudou. Na opinião dele, o PRADAM, além de recuperar áreas degradadas e torná-las mais produtivas, terá o importante papel de evitar com que novas terras se degradem, o que vai estimular ainda mais o potencial produtivo da pecuária na região, que tem ótimas condições climáticas para a atividade o ano todo. “Tanto como pecuarista como diretor do sindicato, nós temos um interesse muito grande nesse projeto, mas o desafio sempre é financiamento. Precisamos de dinheiro para desenvolver esse projeto e reformar pastos. Cada vez os bancos exigem mais documento e isso dificulta um pouco o acesso ao crédito. Dinheiro tem, mas a dificuldade burocrática é o maior problema para a gente hoje”, afirma ele, que trabalha com recria e engorda de gado na região de Marabá.