13 nov 2017

BRASIL MOSTRA TECNOLOGIA DE BAIXA EMISSÃO DE CARBONO NA COP 23

*Por Agronotícias

O avanço da adoção de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) no país será ressaltado pela comitiva brasileira que participa da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 23. O evento teve início na última segunda-feira (6) e irá até o dia 17 em Bonn, na Alemanha.

A ILPF é uma das tecnologias que fazem parte do Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC). De acordo com pesquisa encomendada pela Rede ILPF, o Brasil possuía em 2016 11,5 milhões de hectares com alguma configuração de integração de sistemas. O número, em crescimento, é dez vezes maior do que a área ocupada pela tecnologia em 2005.

O dado mostra ainda que o Brasil já cumpriu há três anos a meta estipulada pelo Plano ABC em 2009, que era de aumentar em 4 milhões de hectares a área com ILPF até 2020. Com o Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, ratificado pelo governo brasileiro em 2016, entretanto, mais 5 milhões de hectares foram acrescentados à meta, com previsão de ser atingida até 2030.

A ILPF é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área. Podendo ocorrer com cultivo consorciado, rotacionado ou em sucessão, de forma que haja interação benéfica entre os componentes. Pode ocorrer com os três componentes (ILPF), ou com as combinações de dois a dois (ILP, ILF, IPF).

Entre as vantagens desse sistema produtivo estão a intensificação sustentável do uso da terra, a diversificação da produção, a geração de emprego e renda, a conservação do solo, o melhor uso dos recursos naturais e dos insumos, a redução da pressão pela abertura de novas áreas, o bem estar animal e também a mitigação das emissões de gases causadores do efeito estufa.

Como a ILPF se baseia em preceitos conservacionistas, como o plantio direto na palha, a rotação de culturas e a recuperação de pastagens, ela contribui para a maior eficiência produtiva e para aumentar a matéria orgânica no solo.

“Tanto a pastagem quanto a floresta acumulam uma grande quantidade de carbono no solo, que é retirada da atmosfera. De alguma maneira que ainda não conhecemos totalmente, os microrganismos do solo passam a consumir um volume maior de metano, principalmente nas áreas de eucalipto, seja em monocultura ou ILPF. Então a gente tem também o sequestro de metano. Com a melhor qualidade da forragem, o animal tem melhor digestibilidade e passa a emitir menos metano. Além disso, a redução do tempo de vida do animal faz com que ele emita menos durante a vida dele”, enumera o pesquisador da Embrapa Solos e presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF, Renato Rodrigues.

Outra contribuição da ILPF, explica o pesquisador, é que como o sistema resulta em aumento da produtividade dos três componentes, há uma redução da intensidade das emissões, taxa calculada pela relação entre a quantidade de quilos de carbono equivalente emitido e o volume em quilos de produto gerado.

Estimativa feita pela Plataforma ABC, estrutura multi-institucional responsável pelo levantamento de dados sobre as emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário, indicam que entre 2010 e 2015 foram estocados 21,8 milhões de Mg de CO2eq. Isso confirma que o objetivo estabelecido pelo Plano ABC para 2020, de ampliar em quatro milhões de hectares a adoção de sistemas ILPF, correspondendo ao sequestro de 18-22 milhões de Mg de CO2eq, já teria sido alcançado.

O pesquisador Renato Rodrigues explica que o Plano ABC trabalha com o potencial de mitigação de 5 Mg de CO2eq por hectare de sistemas ILPF. Entretanto, resultados preliminares de pesquisas indicam que esse valor pode ser ainda superior, chegando a 7 Mg de CO2eq. Caso os dados se confirmem, a contribuição da ILPF será ainda maior para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.

Durante a segunda semana da COP 23, uma equipe da Rede ILPF, parceria público-privada criada há cinco anos com o objetivo de fomentar a adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no país, estará junto ao Ministério do Meio Ambiente para divulgar a tecnologia brasileira e para buscar recursos internacionais para custear novas pesquisas sobre o tema e ações de transferência de tecnologia.

A agenda inclui reuniões com o Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido (Defra), com a Embaixada do Brasil em Londres, com o Ministério do Meio Ambiente brasileiro e o Ministério Alemão da Energia e Mudança do Clima.

De acordo com Renato Rodrigues, o objetivo é apresentar um projeto chamado “Programa de Segurança Alimentar e Nutricional, Valorização do Campo e Tecnificação da Agricultura Tropical: ILPF, a alternativa para a agricultura do amanhã”.

A proposta, elaborada pela Rede ILPF, prevê ações para os próximos dez anos e busca captar 1 bilhão de dólares junto a instituições internacionais.

O programa é composto por oito eixos que englobam desde ações para certificação de propriedades que adotem os sistemas ILPF até ações que fomentem a assistência técnica e incentivem a adoção da tecnologia. Também entram no programa ações de comunicação e de valorização da agricultura brasileira e a transferência de tecnologias de ILPF para a África, América Latina e Caribe.

“A nossa ideia é implantar um milhão de hectares de ILPF dentro de um programa de certificação reconhecido internacionalmente até 2025. Com uma meta inicial de 300 mil ha até 2020, condicionada à captação de recursos internacionais. O que vamos buscar agora é fazer esses acordos internacionais por meio de green bonds (títulos verdes) para conseguir o orçamento total do programa”, afirma o pesquisador e presidente da Rede ILPF.

Para facilitar o entendimento sobre o que são os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), suas diferentes configurações e os benefícios que trazem, a Rede ILPF desenvolveu um aplicativo que representa uma maquete do sistema produtivo em realidade aumentada.

A ferramenta, em versões inglês e português, será apresentada pela primeira vez durante a COP 23 e estará disponível para download nas lojas de aplicativo até o fim do ano.

Por meio dela, o usuário consegue ver todas as etapas de um sistema de integração, ver o que acontece no perfil do solo, a ciclagem de nutrientes, a dinâmica de água e de carbono, o aprofundamento de raízes, entre outras características do sistema.

A Rede ILPF é uma parceria público-privada criada em 2012 para fomentar a adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no país. Nesse período, apoiou a consolidação de 107 Unidades de Referência Tecnológica em todo o país e fomentou capacitações de agentes de assistência técnica e extensão rural, a realização de dias de campo, visitas técnicas, eventos técnicos-científicos, entre outras ações.

Atualmente a Rede ILPF está mudando sua estrutura jurídica para se transformar em uma associação. Com isso, novas instituições poderão aderir à iniciativa, ampliando as ações de transferência de tecnologia, comunicação e também de pesquisa.


23 out 2017

Estudos destacam presente e futuro da Agricultura de Baixo Carbono em diversas regiões do Brasil: MATOPIBA e Centro-Oeste são destaque

*Fonte: Observatório ABC 

Além de apresentar balanço do Programa ABC, Observatório ABC analisa comportamento das regiões brasileiras, considerando novas estratégias de implementação da agricultura com menos emissão de gases

O Observatório ABC acaba de lançar dois estudos que fazem um importante alerta à estratégia brasileira de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e a região Nordeste Cerrado (MATOPIBA) é destaque. Segundo o estudo “Impactos Econômicos e Ambientais do Plano ABC”, ao considerar “áreas prioritárias” com foco nas regiões com maior degradação, a maior parte da recuperação aconteceria na região Nordeste Cerrado (MATOPIBA), alcançando 6,1 milhões de hectares (Mha). Já no estudo “Análise dos Recursos do Programa ABC”, a região Centro-Oeste também foi destaque. Na safra 2016-17, a região Centro-Oeste continua sendo a que mais captou recursos do Programa ABC, com 31,0% do total contratado. Neste caso ainda, o custo econômico para a sociedade brasileira seria equivalente a retirar R$ 3,71 de consumo de cada habitante para se atingirem as metas de recuperação de pastagens e iLPF.

Estes estudos apontam os caminhos para o Brasil alavancar suas ações para agricultura de baixo carbono e alcançar as metas de recuperação de 15 milhões de hectares (Mha) de pastagens degradadas e a expansão do sistema de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) em 4Mha.

“Os estudos comprovaram que é possível atingir as metas do Plano ABC com desembolsos menores que o previsto, mas o Brasil precisa ajustar o modo como vem lidando com suas estratégias de atuação”, afirma Angelo Gurgel, coordenador do Observatório ABC.

O estudo “Impactos Econômicos e Ambientais do Plano ABC” ainda constatou que independentemente de a alocação dos recursos ser direcionada ou não para as áreas prioritárias, o Plano ABC tende a proporcionar maior especialização da região Centro-Oeste na direção da produção pecuária.


04 out 2017

Plantio direto pode aumentar a produtividade em até 30%

*Por SENAR/MT

 

Com as chuvas da semana passada, boa parte dos municípios mato-grossenses já iniciaram o plantio da safra 2017/2018. A expectativa é que se as chuvas previstas forem confirmadas para esta semana, as máquinas vão trabalhar a todo vapor e a semeadura deve avançar consideravelmente em todo o estado.

De acordo com a estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Mato Grosso deve plantar 9,4 milhões de hectares na safra 2017/18. A produtividade deve ser de 54,12 sacas por hectare, um pouco abaixo da safra anterior, que foi de 55,3 sacas por hectare.

Estudos realizados pela Embrapa Soja comprovam que o plantio direto aumenta a produtividade nas lavouras em 30%, quando comparado ao sistema convencional. Em anos de seca, lavouras com o plantio direto produzem até o dobro do sistema convencional. Um dos pilares do plantio direto é a diversificação de culturas. Existem basicamente quatro modalidades que o produtor pode usar para diversificar o seu sistema de produção.

A primeira é a sucessão das culturas dentro de um mesmo ano agrícola.  Já a segunda é a rotação, considerada a mais benéfica para o produtor. O pesquisador da Embrapa Henrique Debiasi, explica que na rotação, o princípio básico é alternar espécies diferentes na mesma estação do ano. “Um exemplo seria a alternância entre soja e milho”.

As outras duas opções são a consorciação, que consiste na maximização de espaço mediante o cultivo simultâneo, num mesmo local, de duas ou mais espécies com diferentes características. E por último e, não menos importante, é o sistema chamado de janelas de cultivo que tem como um exemplo característico o período entre a colheita da soja e o plantio de outro tipo de cultura. “Com a chegada cultivares precoces de soja no mercado esse método passou a ser ainda mais utilizado”, explica o pesquisador.

Entretanto a Embrapa ressalta que antes de decidir por alguma modalidade de cultivo o produtor precisa entender quais espécies se adaptam melhor a sua região. Muitas das culturas usadas no sistema plantio direto são espécies forrageiras que, além de fornecer palha e raízes, podem ser usadas para a produção de carne e leite, agregando valor à produção agrícola da propriedade com o sistema integração lavoura pecuária, que, segundo os especialistas, é uma excelente alternativa no processo de diversificação de culturas.

VANTAGENS DO PLANTIO DIRETO

– Controle da erosão – como a palha fica em cobertura no solo, há uma maior infiltração da água da chuva e um menor carregamento de terra e perda de nutrientes.
– Umidade – devido à cobertura vegetal rente ao solo, há maior umidade e aumento da água armazenada no solo;
– Redução da temperatura do solo
– Aumento da atividade microbiana do solo
– Melhoria da estrutura do solo
– Aumento da fertilidade do solo
– Economia de combustível, de fertilizantes e de mão de obra
– Diminuição no uso de combustíveis e redução da perda de solo

DESVANTAGENS DO PLANTIO DIRETO

– Aumento da incidência de pragas
– Menor adaptação de máquinas e equipamentos
– Maior uso de agrotóxicos
– Menor germinação das sementes nos períodos úmidos

DICAS

– Para fazer plantio direto são necessárias algumas condições como
– Treinamento, capacitação, qualificação
– Utilização de equipamentos adequados – escolha correta das máquinas e equipamentos
– Correção do solo e fertilização – fazer análise do solo
– Produzir e manejar adequadamente a palhada
– Manejo das plantas invasoras
– Descompactação do solo
– Definir as culturas para rotação e cobertura do solo.


03 out 2017

Número de contratos do Plano ABC cresce 1.318% no bimestre julho-agosto

*Por Mapa

O número de contratos de concessão de crédito para implementação de tecnologias de redução dos gases do efeito estufa e de melhoria da resiliência, por meio do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), cresceu 1.318% no bimestre julho-agosto, em comparação a igual período de 2016. Nesse mesmo período, os valores negociados pelos bancos que operaram com o financiamento agrícola subiram 224,9%.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (28) pela Coordenação de Agropecuária Conservacionista, Florestas Plantadas e Mudanças Climáticas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Em julho-agosto foram firmados 227 contratos, ante 16 de igual período de 2016. Essas operações totalizaram R$ 146, 5 milhões nesses dois meses, contra R$ 45 milhões do mesmo bimestre do ano passado. A área passou de 3.836 hectares em julho-agosto de 2016 para 56.093 no mesmo período de 2017.

Coordenador do Plano ABC no Mapa, Elvison Ramos diz que o incremento no número de contratos e nos valores envolvidos decorre da redução de juros do Plano Agrícola e Pecuária 2017/18.

A leve melhoria na economia brasileira a partir de julho, assinala, também contribuiu para a elevação. “Houve uma expansão surpreende e muito acima das expectativas.”
Desempenho de estados e regiões

Entre as unidades da Federação, São Paulo teve o melhor desempenho em julho-agosto, com crescimento de 5.500% em números de contratos e mais de 500 mil vezes em expansão da área. Tocantins lidera em valores, com aumento de 43.500%.

A evolução por regiões foi equilibrada no bimestre passado em relação ao mesmo período de 2016, informa Elvison Ramos. Segundo ele, o Sudeste teve maior aumento no número de contratos. Já o Centro-Oeste lidera em valor contratado e o Sul, em área financiada.

O Norte e o Nordeste também tiveram bons resultados na tomada de crédito para as linhas do ABC em julho-agosto. O Norte responde por mais de 22% dos contratos (2ª região), quase 30% do valor contratado (1ª região) e acima de 32% em área financiada (1ª região). O Nordeste é a segunda região em valor contratado (quase 24%) e em área financiada (em torno de 23%).
“Tocantins e Bahia foram os estados que mais contribuíram para o desempenho das duas regiões no crédito do Plano ABC”, assinala o coordenador.
Tecnologias de baixa emissão
Entre as quatro principais tecnologias de agricultura de baixa emissão de carbono, a de florestas plantadas (FP) foi a que teve maior crescimento em todos os quesitos. O valor contratado via FP aumentou 2.600%; o número de contratos, 8.200% e mais de 11.000%, a área.
A recuperação de pastagens degradadas (RPD) teve crescimento de 1.700% no número de contratos, de quase 1000% no valor contratado e de cerca de 1.500% na área financiada. Já o crédito rural para integração lavoura-pecuária-floresta registrou expansão de mais de 400% na área financiada.
Elvison Ramos ressaltou ainda o incremento do financiamento, via linhas do Plano Agrícola e Pecuário, para o sistema de plantio direto (SPD) em julho-agosto. O número de contratos cresceu mais de 1.000%; o valor contratado, quase 200%; e a área financiada, acima de 1.200%.
Do ano safra 2010/11, quando foi lançado, até 2017/18, o ABC já financiou cerca de R$ 14,5 bilhões nas tecnologias de recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta, sistema plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, florestas plantadas e tratamento de dejetos animais. O número de contratos é de 30.568.


28 set 2017

Observatório ABC lança estudos sobre Plano e Programa ABC

*Por Observatório ABC*

De acordo com publicação, gastos para recuperação de pastagens em áreas prioritárias seriam de R$ 31,3 bilhões

Na manhã desta quarta-feira (27/9), o Observatório ABC lançou os estudos Impactos Econômicos e Ambientais do Plano ABC e Análise dos Recursos do Programa ABC, em evento que aconteceu em São Paulo. Angelo Gurgel, coordenador do Observatório e do primeiro estudo, falou sobre os custos econômicos para atingir as metas do Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e os resultados obtidos, a partir do modelo adotado, para o cumprimentos destas metas. Os gastos previstos no estudo são menores do que se previa inicialmente no Plano ABC. No entanto, segundo o coordenador, o Programa ABC, linha crédito oficial para financiar o Plano, disponibilizou menos do que o necessário.

De acordo com Gurgel, o estudo traz um modelo dos tipos de uso da terra no Brasil, apresentando cenários que tentam capturar o Plano e o Programa ABC. Nos cenários elaborados, foram considerados os custos para o Brasil conseguir recuperar 15 milhões de hectares de florestas e para a expansão da área de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) em quatro milhões.

O coordenador explica que foram usados dois cenários para estimar o que significa o Brasil investir em pastos degradados e iLPF, seguindo os critérios de áreas prioritárias e áreas de livre alocação. “Os resultados obtidos ao forçar o modelo a atingir as metas do ABC apontam custos de R$ 31,3 bilhões, com gastos de recuperação de pastagens, no cenário de áreas prioritárias, e R$ 26,7 bilhões, no cenário de livre alocação”, afirma Gurgel. No lançamento do Plano ABC, o governo havia estimado gastos de R$ 43,9 bilhões para recuperação de pastagens e R$ 51 bilhões para iLPF. Segundo Gurgel, no entanto, quando o Plano foi lançado, a expectativa era de que, entre 2009 e 2020, fossem disponibilizados R$ 85 bilhões. O Brasil, entretanto, colocou R$ 25,5 bilhões à disposição dos agricultores.

Além disso, Gurgel explica que forçar a implementação do ABC nas áreas prioritárias custa mais caro para a sociedade, porque essas áreas têm maior risco e menor aptidão agropecuária. No cenário de áreas prioritárias, ao implementar uma política, o produtor é forçado a fazer a recuperação e isso traz mudanças no trabalho, insumos, fertilizantes e na quantidade de alimentos produzidos – que gera uma pequena perda em termos de consumo. “Significa dizer que cada brasileiro, ao final desse horizonte de 10 anos de implementação do Plano ABC, deixaria de consumir, por ano, R$ 3,71. É como se tivesse pagado um imposto anual para que o ABC fosse implementado”, conta.

Já no cenário de livre alocação, em que os produtores têm recurso de acordo com a sua aptidão e conhecimento, onde a chance de retorno é maior, há um efeito benéfico para a economia, como se cada consumidor contasse com mais R$ 41 para gastar do que quando não existia o Plano ABC. “Ou seja, as mudanças nos mercados faz com que seja favorável para os consumidores”.

Ainda de acordo com Gurgel, os custos existem porque há uma mudança na pecuária, mas a redução de emissões é maior quando o investimento é realizado nas áreas prioritárias. “Se queremos atingir uma meta de reduzir mais emissões, precisamos pagar um pouco mais caro”, afirma.

ABC e NDC brasileira

Para a pesquisadora do GVces Annelise Vendramini, coordenadora da Análise dos Recursos do Programa ABC, é fundamental reforçar a importância do Programa ABC no atingimento das metas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris, considerando que o cumprimento das metas de recuperação de pastagens e iLPF possibilitaria alcançar uma redução de até 51,8 milhões de toneladas de carbono equivalentes (tCO2e) ao ano.

“Existe o compromisso de acabar com o desmatamento ilegal, reflorestar 12 milhões de hectares e compromissos ligados à agricultura. Então, o tema de uso do solo, reflorestamento etc. são elementos centrais e mostram uma conexão entre o ABC e a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC)”, disse.

Gurgel afirma que é necessário rever as regras de incentivo do Programa ABC. “Será difícil atender as metas se dependermos somente do Programa. Depois dele, em 2020, vêm as metas da COP de Paris, e se a gente não está conseguindo fazer o suficiente para 2020, o que garante que faremos pós 2020?”, questiona. “Como ficará a nossa credibilidade internacional se falarmos que não cumprimos as metas do ABC porque eram voluntárias, mas que, nas metas obrigatórias da NDC, vamos levar a sério? Existe uma preocupação muito grande em saber se o que vai surgir como resultado do Programa ABC será suficiente para convencer que somos capazes de atingir as metas da Paris”, afirma.

A pesquisadora apresentou, durante o evento, a análise do Programa ABC na Safra 2016/2017 e apresentou dois estudos de caso de produtores que adotaram o Programa. “O que observamos nos casos estudados são os desafios da burocratização. Por um lado, o Programa ABC precisa financiar a tecnologia do ABC, entretanto, o processo de negociação e obtenção do crédito é considerado demorado e excessivamente burocrático, podendo demorar um ano ou mais para sua aquisição, dependendo da região, dos bancos, da equipe técnica. Apesar dos desafios, o ponto positivo é que de fato as tecnologias do ABC que foram implementadas trouxeram ganhos de produtividade”, conta.

Vendramini afirma que os estudos do Observatório ABC têm como objetivo contribuir para o crescimento do país. “O nosso monitoramento acontece para que essa política pública possa ser aperfeiçoada, porque ela é muito importante, especialmente quando olhamos para o cenário internacional”, completa.

Confira os estudos aqui.