28 jun 2016

Da Embrapa Pecuária Sul*

Foto: Márcia Silveira
Foto: Márcia Silveira

Os benefícios econômicos gerados com a cultivar de capim-sudão BRS Estribo, lançada em 2013, têm entusiasmado pecuaristas e produtores de leite na região Sul do País. Somente no ano de 2015, foi gerado um ganho adicional de R$ 77 milhões, somadas a venda de carne, a economia nos custos de produção de leite e a venda de sementes. Esse resultado foi revelado por trabalho realizado por especialistas da Embrapa para avaliar o impacto da tecnologia. Os pesquisadores se basearam em entrevistas feitas com produtores de gado de corte e leite que adotaram o BRS Estribo.

Desenvolvida em parceria entre a Embrapa Pecuária Sul (RS) e a Associação Sul-Brasileira para o Fomento de Pesquisa em Forrageiras (Sulpasto), a cultivar BRS Estribo é uma forrageira anual de verão e que apresenta maior rusticidade e ciclo mais longo, o que a coloca em vantagem diante do milheto e do sorgo forrageiro, espécies mais comumente usadas como pastagem de verão na região Sul do Brasil.

De acordo com o Relatório Anual de Avaliação dos Impactos das tecnologias geradas pela Embrapa no ano de 2015, a área plantada com o capim-sudão BRS Estribo totalizou 340 mil hectares, tanto em áreas de produção de carne como para leite. Ao se considerar somente o valor gerado com a produção de carne, os dados mostram que cada hectare em que foi utilizada a tecnologia BRS Estribo conseguiu-se produzir, em média, 24 quilos a mais que o proporcionado pela forrageira anteriormente utilizada pelo produtor: o sorgo forrageiro. Segundo dados da Emater, o preço do boi vivo custava na época R$ 5,30. Esse número multiplicado pelos 310 mil hectares plantados gerou um ganho adicional de R$ 36 milhões somente em carne.

Já na bovinocultura de leite, as cifras se referem à economia de custos proporcionada pela forrageira BRS Estribo. Com o ciclo mais longo desta cultivar, os produtores de leite puderam reduzir os custos com ração. Em um universo de 30 mil hectares plantados, a troca de forrageira resultou em um valor próximo a R$ 24 milhões. “Isso significa que os produtores deixaram de gastar esse valor com concentrados e outros suplementos alimentares, devido ao uso mais prolongado da BRS Estribo e à maior produção de massa forrageira ao longo do ciclo de verão”, explica o pesquisador Jorge Sant´Anna, responsável pela elaboração da análise socioeconômica do Relatório de Impactos das tecnologias produzidas pela Embrapa Pecuária Sul.

Já nos primeiros experimentos realizados pela Embrapa Pecuária Sul, em 2013, coordenados pela pesquisadora da área de manejo de pastagens Márcia Silveira, ficou constatado que a produção intensiva de carne a pasto, tendo o BRS Estribo como base, foi bastante competitiva em relação às demais forrageiras anuais de verão. “O Estribo se mostrou com muito potencial para aumentar a produção média e a renda por hectare, tanto sob pastejo rotativo como pastejo contínuo, sendo possível alcançar bons índices em termos de produção animal quando bem manejada”, relata. No pastejo contínuo, a média de ganho individual diário foi de 704 gramas por animal e o ganho por área foi de 361,7 quilos de peso vivo por hectare. Já no pastejo rotacionado, os experimentos obtiveram um ganho diário de 710 gramas por animal e ganho por área de 266,4 quilos de peso vivo por hectare.

Passados três anos do lançamento da BRS Estribo, os dados obtidos a campo confirmam os resultados dos experimentos. A maioria dos produtores de gado de corte e de leite que usou o BRS Estribo diz ter encontrado uma produção maior nesta forrageira, quando comparada ao milheto, ao sorgo ou ao capim-sudão comum. No gado de corte, por exemplo, o incremento foi de 13%, em média, segundo dados do Relatório de Avaliação dos Impactos. Isso porque, em relação ao capim-sudão comum, a BRS Estribo apresenta uma maior produção de forragem, maior perfilhamento e maior proporção de folhas, quando bem manejado. Já em comparação com o sorgo, o capim-sudão não apresenta o risco de toxidade aos animais, conferindo maior flexibilidade ao manejo.

“Muitas características foram selecionadas para proporcionar mais massa verde à planta, maior número de rebrotes, além de maior tolerância ao frio e à geada. Dessa forma, é possível fazer um ciclo mais longo de utilização do BRS Estribo (de pelo menos um mês e meio a mais de disponibilização de forragem) até as primeiras geadas da estação fria”, explica o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Daniel Montardo. Ele frisa que em setembro ou outubro já é possível plantá-lo, com a produção se estendendo até fins de abril ou início de maio. Esta cultivar também possui maior tolerância ao pastejo e ao pisoteio, e colmo (cana) mais fino que o sudão comum. Isso permite que, somente com a entrada dos animais no momento certo, o pasto consiga ser rebaixado, e ao final de todo o ciclo de pastejo necessite um menor número de roçadas.

Entrada no pasto no tempo certo

De acordo com a pesquisadora Márcia Silveira, o manejo correto é o “pulo do gato” para aproveitar todo o potencial que essa forrageira de verão tem a oferecer. Plantas forrageiras bem manejadas tendem a apresentar bom valor nutritivo. Isto está diretamente ligado à maior quantidade de folhas em relação aos colmos. “Como as forrageiras anuais têm grande potencial de crescimento, é muito importante que os animais entrem para pastejar no momento correto, pois caso contrário, essa relação folha/colmo se altera rapidamente e o capim-sudão ‘encana’ (forma colmos) em excesso. Por isso, é fundamental buscar o momento certo para colocar e retirar os animais”. O que parece complicado num primeiro momento, mas torna-se algo simples com a prática. Para realizar essa tarefa, se utiliza a altura do pasto como ferramenta de manejo, explica a pesquisadora.

Segundo o documento técnico da série Embrapa, “Aspectos relativos à implantação e manejo de capim-sudão BRS Estribo”, disponível online para consulta, para o manejo no pastejo rotacionado, deve-se buscar colocar os animais quando o pasto alcançar uma altura média de 50 cm e retirar o gado com uma altura de cinco a dez cm. Para o pastejo contínuo, deve-se buscar manter uma altura média de 30 cm, ajustando a carga sempre que necessário (adicionando ou retirando animais conforme o crescimento/altura do pasto). Isso retarda a formação excessiva de colmos e proporciona um melhor desempenho aos animais. Manejando adequadamente o BRS Estribo é possível obter vários rebrotes e pastejos (pelo menos seis). Já o sorgo, bem manejado, retorna entre três e quatro pastejos. Além disso, o Estribo possibilita um maior período para seu plantio na região Sul do Brasil, pois germina e se desenvolve em temperaturas mais baixas que as necessárias para sorgo e milheto, por exemplo. Isso confere maior flexibilidade para seu uso, principalmente em sistemas de integração lavoura-pecuária.

O pecuarista José Sachet, do Município de Candiota (RS), usou o BRS Estribo por três anos consecutivos e já sentiu as diferenças no desempenho dessa forrageira. Em sua propriedade de 516 hectares, Sachet faz terminação de gado de corte no inverno e verão. “O rebrote do Estribo parece mais rápido que o sorgo forrageiro e o animal aceita melhor. Porém, a cada ano esse desempenho é diferente, pois varia conforme a chuva e se não cuidar com o manejo, encana muito e tem que roçar”, explica.

Um dos entusiastas do uso do BRS Estribo para produção de pastagem de verão é o pecuarista e engenheiro-agrônomo Gustavo Moglia Dutra, proprietário da Fazenda Santa Margarida, em Bagé (RS). Sob a orientação e acompanhamento do pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Danilo Sant´Anna, Dutra vem utilizando a cultivar desde novembro de 2015, produzindo alimentação para o gado, durante o verão e outono, juntamente com o campo nativo. Já no inverno-primavera, utiliza aveia e azevém na mesma área do sudão, onde se procurou organizar o sistema para antecipar o ciclo de inverno e estender o ciclo de verão, sobrepondo-os, visando a fornecer forragem durante todo o ano aos animais.

“Nesta propriedade, o capim-sudão BRS Estribo está entrando para complementar uma produção de forragem que já vinha ocorrendo muito bem no inverno. Juntamente com o campo nativo existente na propriedade, completou uma cadeia forrageira estável e com qualidade 365 dias do ano”, explica o pesquisador. Segundo ele, foi obtido um ganho de peso individual médio de 1,0 a 1,1 kg de peso vivo/dia em novilhos de sobreano, e uma produtividade por hectare de aproximadamente 300 kg de peso vivo, considerando o pastoreio realizado desde o início de janeiro até final de abril de 2016″. Um bom desempenho, segundo o proprietário, já que essa forrageira vem possibilitando a terminação e venda para abate de novilhos jovens.

Mercado de sementes

Além dos ganhos econômicos, é importante frisar o impacto que a cultivar gerou na cadeia produtiva de sementes da região Sul, ao consolidar a organização dos produtores. Em um segmento ainda marcado pela informalidade e venda de materiais não registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a BRS Estribo, desde seu lançamento, contribuiu para o fortalecimento de uma rede para a produção e venda das sementes, formada por 25 estabelecimentos comerciais, com alcance em várias partes do Estado do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e região central do Paraná. “A organização é o primeiro passo para que o mercado de sementes da região Sul seja promissor e a rede se formou com a constituição da Sulpasto. A BRS Estribo foi o primeiro produto da Sulpasto que deu retorno em larga escala para as empresas, por isso contribuiu para consolidar essa parceria entre produtores de sementes, Embrapa e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)”, afirma Daniel Montardo, também um dos responsáveis pela organização da associação na sua origem.

A maior parte da produção de sementes da cultivar BRS Estribo é feita na região Centro-Oeste do País no período do ano correspondente à estação fria da região Sul. Essa estratégia permite que as sementes sejam colhidas na região Centro-Oeste já na época em que começa o plantio na região Sul, reduzindo custos de armazenamento. Segundo a Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), em 2013, foram produzidas 3,4 mil toneladas da BRS Estribo, gerando um montante de sementes que foram plantadas no ano de 2014 em 139 mil hectares, seja para produção de novas sementes seja para pastejo. Já em 2014, a Apassul estima que tenham sido produzidas sementes para plantar 393 mil hectares, ou seja, 9,8 mil toneladas. Com a recomendação técnica de que sejam utilizados 25 a 30 quilos de sementes por hectare (densidade de semeadura), e com o valor de venda direta sendo praticado em torno de R$ 1,70 o quilo para o produtor de sementes, obtêm-se o montante em torno de R$ 17 milhões gerados com a venda do insumo para 340 mil hectares.

Melhoramento de forrageiras

Até recentemente, no mercado de sementes forrageiras para a região Sul do Brasil predominavam cultivares comuns, ou seja, sem certificação genética. Dentre estas espécies de interesse, destacava-se o capim-sudão. Segundo o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Juliano Lino Ferreira, o melhoramento genético do capim-sudão foi uma demanda do Mapa e dos produtores de sementes para se obter cultivares cujas sementes apresentassem certificação genética e sanitária.

Com a seleção bem orientada, foi obtido um material com foco em maior produtividade, além de características desejáveis como colmo mais fino que o capim-sudão comum, maior capacidade de perfilhamento, elevada rusticidade e maior tolerância ao pastejo e pisoteio. E com um manejo adequado, essas características têm proporcionado a dispensa de operações como roçadas para o rebaixamento da pastagem. Aliado a isto, uma peculiaridade do capim-sudão BRS-Estribo é sua precocidade, corroborando inequivocamente para um ciclo produtivo mais longo. Este processo normalmente demanda tempo, visto que após a seleção dos genitores de interesse, os melhoristas devem efetuar cruzamento entre eles, seleções em anos posteriores, e finalmente uniformização do material, cumprindo as etapas necessárias ao registro no Mapa.

De acordo com o pesquisador, novos materiais estão em processo de desenvolvimento, contando como diretriz as informações colhidas com os produtores de sementes, pecuaristas e pesquisadores da área de manejo de forrageiras. Neste contexto, alguns atributos estão sendo levados em consideração como melhor estabelecimento em áreas mais úmidas, maior perfilhamento e tolerância a doenças, além de um contínuo foco na maior produtividade e adequação aos sistemas de produção.

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