13 dez 2016

Tecnologias seletivas controlam capim-navalha sem causar danos às pastagens

Por Embrapa Acre*

article

Dois modelos de aplicadores seletivos desenvolvidos pela Embrapa, a enxada química e a roçadeira Campo Limpo, podem ser a solução para milhares de produtores rurais da Amazônia que convivem com infestações de capim-navalha, principal planta invasora de pastagens na região. O uso dessas tecnologias reduz em até 95% a presença da praga e protege a forrageira, o solo e outras plantas dos efeitos do herbicida, devolvendo a capacidade produtiva do pasto, com ganhos econômicos e ambientais. As duas versões dos equipamentos, tratorizada e manual, estão voltadas à aplicação química dirigida, que permite tratar de forma seletiva o capim-navalha.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Carlos Maurício Andrade, responsável pelas pesquisas no Acre, os aplicadores seletivos podem mudar a realidade das pastagens amazônicas e de outras regiões do País. “Essas tecnologias atendem tanto o agricultor familiar, que precisa realizar o controle de invasoras de forma mais localizada, como grandes pecuaristas, que necessitam reformar extensas áreas afetadas, com o diferencial de preservar o pasto”, explica.

Roçadeira Campo Limpo

Desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sul (RS), o aplicador tratorizado é indicado para o controle em larga escala. Batizada de roçadeira Campo Limpo, a tecnologia está disponível no mercado desde 2013 e tem sido adotada por pecuaristas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, entre outros estados, no controle do capim-annoni (Eragrostis plana) e capim-mourão (Sporobolus indicus), mais conhecido como capim-capeta.

“Embora nessas localidades o principal enfoque das pesquisas seja essas duas invasoras, a tecnologia se mostrou eficiente também no combate a diferentes espécies indesejáveis em pastagens, incluindo plantas tóxicas de folha larga como a maria-mole”, esclarece o pesquisador da Embrapa Naylor Perez, um dos autores da tecnologia.

No Acre, testes com o equipamento iniciaram-se há dois anos e os resultados confirmam sua eficiência no controle do capim-navalha. “Com apenas duas aplicações, uma a cada semestre, é possível baixar para 5% os índices de presença da planta e manter as pastagens praticamente livres da praga”, destaca Andrade.

Os aplicadores seletivos funcionam a partir de materiais absorventes que, embebidos com caldas herbicidas, molham as folhas da planta invasora. Com a roçadeira química Campo Limpo, essa dinâmica de contato é possibilitada por um conjunto de 50 cordas que ficam presas ao equipamento. Um sistema de regulagem eletrônica garante precisão à vazão, permitindo realizar as aplicações de acordo com o grau de infestação da área.

Enxada química

A versão manual do aplicador seletivo, chamada de enxada química, é recomendada para o tratamento do capim-navalha em pequenas áreas. A tecnologia representa uma alternativa eficiente para o controle da erva daninha entre agricultores familiares. Validado em 40 hectares de pastagens, no Município de Senador Guiomard (AC), o equipamento possibilita baixíssimos índices de retorno da praga.

Segundo Andrade, após 60 dias do tratamento do capim-navalha, o nível de rebrotação das touceiras da planta foi inferior a 15%. “Em áreas formadas com gramíneas forrageiras estoloníferas, ou seja, que conseguem se alastrar pelo terreno, tais como a Brachiaria humidicola, o capim-tangola e a grama-estrela-roxa, após o controle da praga o pasto se reconstitui naturalmente. Já o controle da planta em pastos formados com capins de touceira, como mombaça e xaraés, deve ser associado ao replantio da forrageira”, explica.

De fabricação e uso simples, a enxada química possibilita o mesmo processo de controle desempenhado pela roçadeira Campo Limpo, porém, de forma manual e em escala menor. A dinâmica de funcionamento consiste em passar a corda do equipamento nas folhas do capim-navalha, em movimentos de vaivém, com liberação gradativa da formulação química para o tratamento seletivo da planta.

Ainda conforme o pesquisador, o controle do capim-navalha com uso dos aplicadores seletivos deve ser realizado durante o início e o final do período chuvoso, uma vez que na estação seca a planta não consegue absorver o produto e em épocas muito chuvosas, tende a ser lavado pelo excesso de água, aspectos que comprometem os resultados.

Na região Sul do Brasil, a enxada química, também chamada de lambe-lambe, possui diferentes modelos de fabricação caseira, já utilizados no controle de diversas plantas invasoras em pastagens e na agricultura. Desde 2015, a versão artesanal da tecnologia, validada pela Embrapa Acre, está disponível para comercialização em casas agropecuárias de Rio Branco (AC).

Vantagens

Os aplicadores seletivos oferecem uma série de vantagens econômicas e para o meio ambiente, em relação a métodos de controle convencionais. Além de possibilitarem o tratamento de diversas espécies invasoras, as aplicações por contato eliminam a erva daninha preservando a pastagem, reduzem o risco de contaminação humana e impedem a deriva de substâncias químicas para culturas vizinhas.

Um diferencial da roçadeira Campo Limpo é a precisão na liberação do produto, aspecto que evita desperdício e proporciona economia para o produtor rural. Outra vantagem é que a tecnologia proporciona agilidade nas aplicações, permitindo otimizar o tempo de trabalho. Segundo Andrade, uma pessoa consegue tratar um hectare de pastagem em apenas 40 minutos. “Por métodos tradicionais, como o arranquio da planta, seriam necessários dez homens e oito horas para realizar a mesma atividade”, diz o pesquisador.

A enxada química agrega particularidades que possibilitam a adoção da ferramenta em áreas rurais onde não é possível o uso de outras alternativas de controle. Por ser uma tecnologia manual, pode ser utilizada em localidades com diferentes características de relevo, inclusive em solos acidentados. Apesar das facilidades, é indispensável o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) na operacionalização dos aplicadores seletivos. Além disso, cuidados como regulagem adequada dos equipamentos e preparo prévio da área a ser tratada ajudam a garantir melhor rendimento operacional e resultados mais efetivos.

Conforme explica Andrade, o controle de plantas invasoras depende também de procedimentos importantes para a manutenção da pastagem. “O tratamento de reforço para eliminar plantas remanescentes do capim-navalha e a adoção de práticas adequadas de manejo do pasto, incluindo o uso de forrageiras recomendadas pela pesquisa, adubações periódicas e respeito à capacidade de lotação das áreas pastejadas, entre outros cuidados, contribuem para o sucesso das tecnologias”.

Invasoras

A infestação por plantas invasoras é considerada um grave problema de manejo de pastagens no Brasil, relacionado ao processo de degradação do pasto. Somente na Amazônia existem cerca de 500 espécies, e o capim-navalha é a mais agressiva e de maior dificuldade de controle, principalmente em áreas de solos úmidos. Presente em todos os estados das regiões Norte e Centro-Oeste, além do Maranhão, Pernambuco, São Paulo e Paraná a praga causa sérios prejuízos para os produtores. No Acre, afeta quase 100% das propriedades rurais envolvidas com a atividade pecuária, em diferentes níveis de infestação.

Entre outras consequências, o problema reduz a produtividade do pasto, limitando a oferta de alimento para o gado, prejudica o desempenho produtivo do rebanho e eleva o custo de reforma da pastagem. O método de controle mais utilizado é a pulverização dirigida das touceiras da planta, entretanto, a prática afeta também gramíneas forrageiras mais próximas da invasora.

Desafios

Nativo da América Central, o capim-navalha é uma espécie invasora extremamente agressiva, devido à alta capacidade de multiplicação na pastagem. Na Amazônia e parte do Estado do Mato Grosso, as infestações com essa planta começaram a surgir na década de 1990, como consequência do agravamento da síndrome da morte do capim-braquiarão, principal causa da degradação de pastagens na região.

O pesquisador da Embrapa Judson Valentim, especialista em forrageiras, considera que a situação mais desafiadora no processo de reforma de pastagens degradadas é a infestação por capim-navalha. “A rápida proliferação dificulta o controle da praga por métodos convencionais, como gradagem do solo e semeadura de novas variedades de gramíneas forrageiras, em decorrência da reinfestação da área, seja pela rebrotação de touceiras ou surgimento de novas plantas a partir de sementes existentes no solo”, destaca.

Para Andrade, a ausência de herbicidas seletivos no mercado, que atuem nas plantas indesejáveis e, ao mesmo tempo, evitem danos às forrageiras, impõe desafios para o produtor rural e para a pesquisa científica. Os produtos disponíveis afetam também o pasto no entorno da planta invasora, dificultando a eliminação do problema. Por ser uma espécie de comportamento oportunista, o capim-navalha ocupa também os espaços deixados na pastagem com a perda de vigor da forrageira afetada no tratamento da praga. “Disponibilizar métodos de controle adequados a diferentes realidades rurais é essencial para vencer essas dificuldades”.