*Da Embrapa / Texto: Robinson Cipriano
O Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Florestas aos poucos começa a conquistar espaço representativo no valor total de recursos destinados a financiamento de projetos dentro do Programa ABC (Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura). Segundo dados apresentados pelo coordenador de Manejo Sustentável dos Sistemas Produtivos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Elvison Nunes Ramos, no ano passado 7% dos recursos destinados foram fruto de projetos para financiamento de implantação do sistema nas propriedades rurais brasileiras. O anúncio foi feito durante a primeira sessão especial do Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que ocorre até o dia 17 de junho em Brasília-DF, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Elvison explicou que o ILPF ainda é considerado pelos produtores como uma das tecnologias mais difíceis para serem adotadas dentro do Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura). “Do ponto de vista do produtor, ainda é um sistema complexo, que demanda conhecimento mais detalhado de técnicos e agricultores, pois promove uma sinergia entre práticas que normalmente são feitas separadamente, como a agricultura e a pecuária. Não é fácil para um pecuarista tomar a decisão de abrir sua propriedade para produção de grãos, por exemplo. É um risco que poucos assumem correr na hora de buscar um financiamento”.
Ele revela que o Plano ABC ainda está na fase de capacitação de técnicos, projetistas, analistas de projetos e produtores sobre as seis tecnologias que compõem o Plano (plantio direto, recuperação de áreas degradadas, florestas plantadas, fixação biológica de Nitrogênio e tratamento de dejetos de animais, além do ILPF). “Por isso, o índice de 7% pode parecer pequeno à primeira vista, mas seu crescimento, comparado a outros anos, mostra que a adoção começa a ocorrer em larga escala nos principais biomas brasileiros. É um dado positivo, se avaliarmos que é a tecnologia do Plano que mais mitiga CO2”, frisa Elvison. Em 2014 o Ministério registrou, comparado a 2013, um aumento de 22% do total de projetos de ILPF aprovados no programa de financiamento.
Segundo dados da Embrapa, já existem 3 milhões de hectares com o sistema ILPF implantado no país. As duas regiões que mais têm demandados projetos de ILPF para serem financiados são o Centro-Oeste e o Sudeste. Projetos de recuperação de áreas degradadas ainda são maioria no Programa ABC: respondem por 40% do valor total de recursos, seguido do plantio direto (21%) e de florestas plantadas (14,2%).
Esses números mostram que há um desafio gigantesco para os profissionais de transferência de tecnologia e de comunicação, que é o de procurar formas mais simples e inovadoras de explicar melhor sistemas integrados, como o ILPF, para os produtores rurais, como bem lembrou um dos palestrantes do primeiro dia do Congresso, Tom Goddard, pesquisador canadense do Estado de Alberta.
Diferença entre Plano e Programa ABC
O Plano ABC se diferencia do Programa ABC justamente por que este é uma linha de crédito rural ao produtor, ao contrário do primeiro, que é um conjunto de ações a serem realizadas para estimular a adoção das tecnologias de produção sustentáveis para diminuir a emissão de gases de efeito estufa pela agropecuária brasileira. O Plano é uma importante parte do compromisso brasileiro, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020, assumido voluntariamente em 2009, na 15ª Conferência das Partes (COP15), em Copenhague.
Elvison Ramos ainda anunciou que no primeiro ano de implantação do Programa ABC (referente ao período 2010-2011), o total de recursos foi tímido: R$ 418,3 milhões. Hoje os números fazem a diferença: R$ 2,7 bilhões foram destinados para 2013-2014, totalizando nos quatro anos R$ 7,5 bilhões. Os dados do Banco do Brasil, anunciados em primeira mão no Congresso pelo gerente executivo da Diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil, Álvaro Rojo Santamaria, são mais animadores: até março de 2015 esse total já chegou a R$ 8,6 bilhões. “De cada dez reais financiados pelo Governo Brasileiro aos agricultores, nove são financiados pelo Banco do Brasil”, garantiu, destacando o papel do banco dentro do Programa ABC.
O coordenador de Manejo Sustentável dos Sistemas Produtivos do Mapa ainda divulgou que 33,9 mil contratos de financiamento já foram assinados desde o começo do Programa, dos quais 6,8 mil somente em 2015.