04 ago 2015

Nova metodologia possibilita avaliação econômica de ILPF

*Da Embrapa Agrossilvipastoril

Gabriel Faria
Foto: Gabriel Faria

Metodologia desenvolvida por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril e do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) busca padronizar e facilitar a avaliação da viabilidade econômica de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O conceito já está sendo aplicado em caráter experimental por meio de uma ferramenta testada em nove Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) em Mato Grosso.

A principal inovação desta metodologia é a organização dos custos baseada no sistema ABC (do inglês, Custo Baseado em Atividades). O pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis explica que a vantagem em relação aos demais métodos utilizados é que esse permite a identificação dos custos de produção associados a cada atividade realizada, como plantio, aplicação de fungicida, aplicação de inseticida, dessecação, colheita, poda de árvores, vacinação de animais, etc. Isso é diferente da metodologia de custeio por absorção, a mais utilizada na avaliação econômica de sistemas produtivos. No método anterior, são computados os custos globais de cada insumo. Assim, não é possível saber, por exemplo, quanto de mão de obra foi dispendida no plantio.

“A ideia é quebrar os custos em todas as atividades executadas para poder compor o produto final. Claro que isso dá muito mais trabalho no registro dos dados, mas a grande vantagem é que o relatório vem mais informativo”, explica Reis. Na prática, isso possibilita saber o valor exato de cada procedimento realizado no campo, o que é fundamental em um sistema complexo como a ILPF.

O pesquisador explica que, diferentemente de uma lavoura de soja, por exemplo, que tem todos os processos mapeados, a ILPF ainda não os tem. Além disso, dificilmente um sistema será igual ao outro, uma vez que cada um é adaptado às características do bioma, do mercado consumidor local, da logística, relevo etc. Dessa forma, ao se ter a análise de custos por atividade, é mais fácil padronizar a avaliação e permitir comparações.”Isso é fundamental tendo em conta o atual estágio de entendimento sobre sistemas de ILPF, no qual, muitas práticas de condução e manejo ainda precisam ser estabelecidas e validadas”, afirma.

Outra vantagem é que ao se ter o custo de cada operação, é possível avaliar a eficiência dos procedimentos. Assim, pode-se ver, por exemplo, se a configuração espacial da ILPF está aumentando o tempo de execução de uma atividade, gerando mais consumo de combustível, mais hora-máquina e mais hora de trabalho. Com isso, o produtor pode ajustar a configuração para tornar o sistema mais eficiente.

Dificuldades

Além de ainda não ter todos os processos da integração lavoura-pecuária-floresta mapeados, outra dificuldade encontrada pelos pesquisadores, nos trabalhos de avaliação econômica dos sistemas é a definição da duração do ciclo produtivo. Ao contrário de uma cultura anual, que começa e termina num intervalo de até 12 meses, a ILPF depende da configuração e das espécies utilizadas. Um sistema agropastoril, por exemplo, pode durar dois anos, já um silvipastoril pode ter ciclo de cinco a 30 anos, dependendo da finalidade do componente florestal. Dessa forma, a avaliação econômica total é muito variável. “Você não pode só olhar o lucro no ano. Você vai olhar isso dentro de um ciclo. Porque aí entram outras coisas como pagamento de juros e outros gastos que o produtor teve. É algo mais dinâmico numa perspectiva de análise de investimento”, pondera o pesquisador Júlio Reis.

Para driblar essas dificuldades, por meio de um projeto envolvendo pesquisadores de diferentes centros de pesquisas da Embrapa, todos os processos da ILPF serão mapeados em diferentes biomas. O objetivo é o de se chegar a um sistema modal para cada região do País.

“Percebemos que esse trabalho vai ajudar nessa discussão de, a médio prazo, caminhar para a escolha de configurações mais adequadas para cada região do estado ou do Brasil. Ver qual é mais adequado para cada lugar”, explica o economista da Embrapa Agrossilvipastoril.

Ferramenta de avaliação

Para facilitar o uso dessa metodologia de avaliação e a coleta de informações junto aos produtores, foi desenvolvida uma planilha eletrônica. Ela busca padronizar e tornar mais simples a coleta de dados e os cálculos. A ferramenta é de grande importância tendo em vista a complexidade dos aspectos produtivos da ILPF e os inúmeros cálculos e detalhes envolvidos na avaliação.

Essa planilha está sendo validada e ajustada tomando como base dados de fazendas que adotam a integração de sistemas em Mato Grosso e também informações do campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT).

Para isso, dois profissionais do Imea dedicam-se em tempo integral a esse projeto, que já está completando dois anos de atividades. Um deles, Miqueias Michetti, faz a parte de campo, coletando junto ao produtor os dados necessários para alimentar a planilha. Já Mariana Takahashi faz o processamento dos dados, alimentando um banco de informações que dá subsídio não só para a avaliação econômica das fazendas, mas também para a pesquisa.

“A ILPF é um sistema muito complexo para você mapear toda a parte econômica em dois anos. Tem muitas variáveis possíveis, muitas disposições que se pode fazer. Em cada região muda muita coisa”, pondera Takahashi.

A expectativa é que até dezembro sejam finalizados os resultados de viabilidade econômica de todas as nove URTEs. Os resultados de algumas fazendas já serão apresentados em uma reunião na Embrapa Agrossilvipastoril nos dias 6 e 7 de agosto.

“O produtor quer saber se o que ele está fazendo é economicamente viável. Em dezembro queremos trazer resultados de todas as fazendas, com os dados passados pelo produtor”, afirma Takahashi.

Com esse projeto, a expectativa é que a médio prazo essa ferramenta de avaliação seja aperfeiçoada, tornando seu uso mais simples. Após isso, ela será disponibilizada para técnicos, extensionistas e produtores que trabalhem com sistemas ILPF.

Este projeto é uma parceria da Embrapa Agrossilvipastoril e Imea e conta com patrocínio do Sistema Famato/Senar-MT.

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