*De Bruno Saviotti
A equipe teve a oportunidade de visualizar o sistema de produção de suínos da BRF, no município de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, durante visita técnica no estado. Na ocasião, foram visitadas cinco fazendas integradas à empresa. Além disso, realizou uma reunião institucional com técnicos da empresa, liderados pelo gerente regional de agropecuária José Luiz Serra, que permitiu o debate entre os consultores do projeto e a BRF.
A unidade da BRF de Lucas do Rio Verde possui atualmente 45 mil matrizes em produção e vai dobrar esse número, o que permitirá à agroindústria um abate de 9.100 suínos diariamente a partir de 2017 e mais oito unidades produtoras de leitão. No total, são 18 unidades e ainda almejam a ampliação de 19 mil matrizes até 2019. A BRF gera cerca de cinco mil empregos diretos e 15 mil indiretamente. Além disso, os funcionários contam com 1.550 casas e estrutura de saúde, educação e lazer. Também tem à disposição duas escolas e uma creche que atendem mais de mil e trezentos alunos.
Um dos maiores pilares da empresa é a preocupação com o meio ambiente, tendo como um dos principais pontos de atuação o tratamento de dejetos dos animais. Na unidade, há uma estação localizada no interior do complexo que tem capacidade para tratar 20 milhões de litros por dia. Esse processo tem uma eficiência de quase 95% de remoção dos poluentes. Por meio do programa de tratamento de efluentes e de reciclagem, foi possível diminuir a emissão de resíduos em mais de 15%. Além disso, possuem nas próprias granjas e propriedades integradas o trabalho de milhares de produtores por meio do Programa de Logística Reversa dos Resíduos de Saúde Animal.
A empresa auxilia também o desenvolvimento de projetos e a aplicação do uso de novas tecnologias no processo de tratamento de efluentes de algumas propriedades da região. Uma das fazendas é a de São Roque, que utiliza o biofertilizante para as pastagens em sistema de pastejo rotacionado na bovinocultura de corte. O proprietário da fazenda, Alisson Luiz Dalmaso, destaca que no começo a ideia era achar alternativas para tratar os dejetos e que a BRF apresentou algumas possibilidades, e uma delas era o uso na pastagem. “Tínhamos algumas experiências com os pivôs e alguns produtores que trabalham com fertirrigação, mas algumas áreas não se enquadram no projeto por causa do perfil. Cada caso é um caso”, explica.
Segundo Dalmaso, o uso de dejetos na pastagem foi devido ao tamanho das lagoas da propriedade. “O projeto foi amplamente discutido na época da implantação, pois, quando faz um projeto de suinocultura em uma região que chove 2.700 milímetros por ano em um período de seis meses, é necessário calcular a capacidade que essas lagoas vão absorver de água de chuva e evaporação e mais o dejeto que ela vai receber”, destaca.
A empresa implantou um projeto que foi concebido em função da redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) com o objetivo de comercialização de crédito de carbono. Quando a venda desse crédito deixou de existir, a forma encontrada para viabilizá-lo foi através da produção de energia de maneira que possibilitasse a geração de renda para o produtor prosseguir na atividade.
Para o técnico em extensão agropecuária Willi Frisch, o trabalho da empresa no processamento de dejetos e o projeto da BRF voltado para o tratamento dos efluentes se complementam e tem importância pela questão da informação, já que ainda há desconhecimento dos produtores em relação ao tratamento de efluentes. “No meio rural, muitas vezes o produtor busca alternativas que visam outras questões que também geram valores. O projeto em si vai levantar a viabilidade e a capacidade da região. De qualquer forma, falta mais informação, eles sentem muita dificuldade em adotar o projeto, pensam que é um empecilho, desconhecem que vai gerar renda e agregar na atividade. Acabam tendo dificuldade de viabilizar esse potencial”, destaca.
O médico veterinário da BRF, Adilson de Oliveira Junior, destaca que o projeto Suinocultura de Baixa Emissão de Carbono está associado ao trabalho da empresa e é interessante no quesito sustentabilidade, que é um pilar da BRF. “Um dos pontos que a empresa busca é viabilizar o mercado europeu, os mais exigentes, e além de ser um benefício para a sociedade e para as futuras gerações, acaba sendo um benefício da empresa na questão da valorização do produto. Ter um selo de sustentabilidade e conseguir mostrar para o nosso consumidor nossas ações sustentáveis é muito positivo”, diz.
Paulo Sérgio Trentin, engenheiro agrônomo da BRF destaca a importância do projeto. “Ele traz mais sustentabilidade para a cadeia agropecuária do Brasil com os próprios insumos e dejetos da própria granja de suínos. Por meio dele é possível produzir biogás para a geração de energia e para a distribuição do próprio dejeto como a fertilização de lavoura e pastagens”, cita.
Trentin destaca que atualmente a energia está cada vez mais escassa, principalmente no estado do Mato Grosso. “O estado tem crescido em uma velocidade muito grande e a produção de energia não acompanha esse ritmo. Então, isso pode viabilizar muito outros projetos de geração de energia e possibilitar para o produtor um novo negócio. Dessa forma, além de fazer uma destinação adequada desses efluentes, também tem uma nova atividade para produzir energia para a propriedade e vender esse excedente para outros produtores, empresas e o próprio governo”, elenca o engenheiro agrônomo.